Agarrem numa caneta e num papel e desenhem um gráfico. Na coluna “y” imaginem a confiança dos adeptos leoninos na equipa de futebol.  Na do “x”, as toneladas de carvão que a imprensa vai metendo no relato do dia-a-dia do Sporting. Ficariam surpreendidos se a curva resultante fosse exactamente igual à divisão interna dentro do nosso clube? Se responderam sim, recomendo-vos que se mantenham nessa ignorância e não procurem mais informação. Se, ao invés, respondem não, estão como eu, à beira de perder a paciência com a podridão selectiva do futebol português.

Ando há anos para tentar encontrar a resposta a uma simples pergunta: valerá a pena?

A cada época que passa, torna-se bastante mais claro o compadrio que o Carnide (e gente que gosta de ser “isenta”) conseguiu implementar nas estruturas dirigentes do nosso futebol. Quanto mais tentamos entender, mais sufocante se torna a sensação que todas as “saídas” estão seladas. E quando falo em saídas, quero dizer “sucesso leonino” ou de outro clube qualquer. A cada revelação, se clarifica uma parte muito obscura dos mandatos de Luis Filipe Vieira, aquela que palmo a palmo, cargo a cargo, instituição a instituição, foi desenhando o mapa “vermelho” em que tudo sai convenientemente mais fácil ao seu clube e muitos mais árduo para os demais.

Jornalistas, analistas, comentadores, juízes, árbitros, observadores, presidentes de clubes, directores desportivos, agentes de jogadores, polícia judiciária, fisco, para todos os lados que quisermos olhar observamos um “nacional benfiquismo” que alastrou hiperbolicamente, ganhando de forma inexplicável, uma postura agressiva e destrutiva perante os adeptos e defensores de outras ideias que não o ariano estatuto de primazia benfiquista. Hoje, muito mais que há 5 anos é difícil derrotar o nosso maior rival e no entanto isso não advém do que as equipas valem dentro de campo, mas tudo o que influencia os jogos em que os “grandes” não competem entre si.

O Carnide é cada vez mais um “monstro” de habilidades e não uma equipa temível, uma rede de confluência de interesses bem longe da tal hegemonia desportiva que daria espinhas dorsais à Seleção Nacional ou colocaria o clube a par dos tubarões da Europa. Temo cada vez mais os árbitros e os juízes dos conselhos de disciplina ou justiça e cada vez menos as artes dos jogadores ou treinadores daquele clube. Causa-me bem mais azia os comentários distorcidos e manipuladores dos media “isentos” do que os sucessos retumbantes de um clube que nem a sua história respeita.

E, no entanto, a resposta de muitos sportinguistas perante todo este ambiente adverso e tóxico para as nossas cores é invejar o enorme oásis plantado artificialmente na Luz, desmerecendo no que somos capazes de fazer e tentando justificar “o que não conseguimos como eles” com as deficiências internas “dos nossos” servidas de bandeja pela paineleiragem das tv´s. Que nem tudo o que BdC e restante direção leonina faz é bem feito, estamos de acordo. Que errámos e erramos, estamos de acordo. Que há muita coisa a fazer, estamos de acordo. Com o que não consigo estar de acordo é com uma tendência crescente de divisionismo que já encara o establishment actual do Sporting como o maior obstáculo para o sucesso, cegando o espírito à leitura de que não é somente o que o Presidente faz ou diz que nos possibilita ter mais ou menos 1 ponto que o rival no final da Liga.

Desde a primeira hora desta presidência do Sporting que digo e escrevo sobre o erro que cometemos no passado em confiar angelicamente no sportinguismo das direções e que em todo o caso ou momento devemos questionar tudo o que não entendermos como facto e verdade absoluta. Mas é também nossa obrigação não sermos os primeiros a deitar suspeita e desconfiança sobre assuntos que não nos damos sequer ao esforço de os compreender. A todos os que já lemos ou ouvimos essas confissões de “alarme”, devemos (sim, devemos mesmo) perguntar o que já fizeram para ter a certeza de tais informações e se tal for admitido, porque não denunciá-las aos orgãos sociais do clube? Simplesmente não consigo perceber Sportinguistas que “sabem” de prejuízos ao clube e não dão um passo sequer para o denunciar ou sequer ajudar a que isso venha a acontecer.

Um clube não vive só de sucessos, não cresce apenas com conquistas de troféus. Esta tendência para “mastigar” invejas tem simplesmente que acabar. Os nossos rivais não são sportinguistas, não se chamam direção nem anti-direção. A nossa responsabilidade não nos permite alimentar “boatos”, obriga-nos a “fiscalizar” o que não entendemos. O nosso amor ao clube não deve ser direcionado para um Sporting de outras pessoas ou eras, mas sim para o actual, com os defeitos e virtudes que tiver. E se não gostamos de A ou B, X ou Y, lutamos para quem venham a ser C e D, W ou K. Sem barreiras ou trincheiras, sem pretensiosismos ou elitismos, perseguições à diferença ou à opinião.

O Sporting Clube de Portugal deve estimular o que tem de mais precioso, os seus adeptos e sócios. Nunca receando ou desvalorizando o debate sobre os caminhos do clube. Os sócios devem ser solidários com quem elegeram para o governar, dando condições e confiança a quem o faz.

Eu não sou Pró ou contra BdC. Sou sportinguista, sou e serei sempre pró crescimento do Sporting e contra os que de um lado ou do outro o tornam mais pequeno. Não sou anjinho, nem acéfalo e muito menos seguidista. Não sou parte de nenhuma inquisição ou darei caça a alguém só porque não partilho do seu “tipo de sportinguismo”. Não sou arrogante ao ponto de achar que tenho sempre razão, que serei melhor sócio ou que tudo que apoiei e apoio será o melhor para o clube, mas de uma coisa eu tenho a certeza…se esta tendência de abrir cisões e não combatê-las continuar, a pergunta que fiz no início já estará respondida.

 

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca