Comecemos, então, pela única bóia de salvação a que podemos agarrar-nos: o penalti não assinalado sobre Bruno César. É tão descarado como todos os penaltis descarados que não têm sido marcados a favor do Sporting, durante décadas e décadas. É tão descarado como já havia sido há três anos, em Setúbal, com o mesmo árbitro. É mais do mesmo.

Quando isso aconteceu, estavam decorridos 75 minutos de um jogo que poderia ter ficado resolvido aos 8′. Canto marcado por Bruno César, bola larga ao segundo poste, onde um tal de Rui Correia se agarra a Coates como se visse fugir-lhe a oportunidade de estar com a Irina e com o soutien que tem o seu nome. Vasco Santos engoliu em seco e apitou. William Carvalho engoliu em seco e atirou de forma displicente. Duvido, aliás, que algum Sportinguistas não tenha tinho que confrontar a sua própria fé quando viu o Sir avançar para a bola, enquanto pensava “e o Bryan? e o Dost? e o Chuta César?”. William fez o que era previsível. Falhou o penalti. Mais do mesmo.

Quem acredita em bruxas percebeu o raio de noite que aí vinha, quem não quer acreditar agarrou-se ao facto incontornável de estarmos a jogar contra uma equipa patética. Outra vez. O problema é que o tempo passava e as ideias faltavam e o coração verde e branco só se animava quando a bola chegava aos pés de Gelson. O nosso Gelson. Como naquele lance que ele inventa, aos 20 minutos, e que acaba com um remate salvo pelo redes no último ressalto na relva. Mais do mesmo.

Bastava um golo. Eu sabia, tu sabias, até Jesus sabia. E a bola lá andava, de um lado para o outro, sempre no nosso pé, quase sempre devagar devagarinho, até alguém, como aconteceu com Bryan, se lembrar de pregar uma cueca ao adversário e abrir espaço para um cruzamento que devia ter dado golo. Ou quando Schelotto fez a única coisa boa em todo o jogo, ganhou a direita da grande área e cruzou rasteiro, com a bola a percorrer toda a boca da baliza sem que aparecesse alguém para encostar. Mas quando Schelotto fez isto, já o jogo caminhava para a fase de desespero. Sabes o que isto quer dizer? Que o tempo passou sem que fossemos capazes de criar verdadeiras jogadas de perigo. Ao intervalo tínhamos 72% de posse de bola e quatro remates (dois à baliza). No final, 70% de posse de bola e nove remates (quatro à baliza). Os mancos madeirenses, com 30% de posse, fizeram o mesmo número de remates (mas só enquadraram um na baliza). Andamos à semana a viver neste estado de muita parra e pouca uva. De total ausência de objectividade. Mais do mesmo.

Pelo meio, Markovic voltou a estar em campo sem que alguém desse por ele. Querem, à força que ele faça o lugar de Teo, mas o sérvio tem tanta aptidão para essa posição que o resultado é igual a termos o colombiano a sacar selfies na praia. Gloria a Dios! (e mais do mesmo). E porque o Marko que devia jogar na linha não joga na linha, o Bryan que devia jogar no meio não joga no meio e o desgraçado do guerreiro holandês passa 90 minutos à espera de inventar uma oportunidade ou de alguém que lhe faça chegar uma bola de golo a sério. Mais do mesmo.

Epá, ó Cherba, o futebol não é assim tão simples. Olha que é, mas tudo bem. Assumamos que não é. Então, se isto é coisa para mentes avançadas, deve ser a razão pela qual eu tenho um colapso nervoso quando o Campbell entra para o lugar do Bryan. É que o Bryan, mesmo com falta de pernas, era o único gajo a conseguir inventar alguma coisa naquela altura (o Gelson já se tinha fartado de levar a equipa às costas, o William parecia um farol com a luz fundida e o Bruno era quem mais corria, mas de tanto correr faltava-lhe o oxigénio quando tinha que decidir). Faltava meia hora para o jogo terminar, era esse o momento de tirar o Marvin, baixar o Bruno para a esquerda, entregar a batuta ao Alan Ruiz a partir de trás e deixar os dois costa riquenhos a alternarem entre a ala e o meio. Estás a ver como o futebol é simples?

Espera, enganei-me. Estás em desespero de causa e tens um avançado, um bom avançado, no banco. O relógio continua a contar e a cinco minutos do fim entra o Elias. Porque nós somos muita bons e não queimamos tempo quando devemos queimar, nem usamos futebol directo quando temos que usar. Ná. Bola no pé. Tiki taka foda! Esmagamos em posse de bola. E queixamo-nos do anti-jogo. Mais do mesmo.