Se tivesse que escrever uma crónica de jogo para o twitter, seria relativamente simples. Sim, mesmo tratando-se de um clássico. Voltámos a entrar em jogo oferecendo um golo ao adversário, passámos a primeira parte a ter a bola e a não saber o que fazer-lhe para criar oportunidades de golo, viemos para a segunda parte transfigurados, encostámos o adversário às cordas, tivemos uma mão cheia de oportunidades de golo, os nossos adeptos foram reis em terras adversárias e acabámos o jogo a coleccionar mais lances daqueles que o conselho de arbitragem vai dizer que são de difícil análise ou demasiado rápidos para evitarem o erro.

faltabrahimiCom as lesões de Campbell e Bruno César, Matheus Pereira foi a grande surpresa do onze, já que a inclusão de Palhinha no lugar de William era mais do que esperada. Alan Ruiz também ficou no banco, com Jesus a preferir ter Bryan no apoio a Bas Dost (e, diga-se, o costa riquenho fez um bom jogo, nomeadamente quando passou para a esquerda). Depois, depois um gajo recorda o filme da primeira parte e vê-se a comer dois golos nos únicos dois remates que o adversário faz à baliza (sim, Rui Patrício não teve que fazer uma única defesa em toda a partida). O primeiro é um movimento defensivo falhado na sua plenitude, desde a marcação patética de Zeegelaar a permitir o centro a um gajo com metade do seu tamanho à tentativa tardia de Palhinha acertar a linha de fora de jogo (já agora, a propósito de Palhinha, diz a estatística que foi o mais eficaz em campo, com seis cortes de cabeça e 10 duelos ganhos a Danilo em 12); o segundo é um grande lance de contra ataque que nasce de uma falta clara de Brahimi (não existem cargas de ombro ao nível da cintura e o argelino nem chega a tocar na bola) que permite aos azuis e brancos recuperarem a bola e lançarem a correria de Soares (já agora, a propósito de andar de olho nos gajo com potencial nesta liga, espero que a nossa vontade de ir buscar o Welthon, ao Paços, seja real).

O resto do tempo foi aquele tão nosso domínio de bola em que queremos tanto ter a bola que ela não chega uma vez em condições ao melhor ponta de lança a actuar em Portugal (infelizmente, ela não lhe chegou uma vez em condições em todo o jogo). Há o remate de ressaca de Matheus, há a cabeçada de Ruben a mostrar que o Casillas ia vingar-se de todos os jogos cagados que fez contra nós até hoje.

Cagados, óptimo termo para descrever o adversário. Borrados, mesmo, o que me amplia o sentimento de má disposição e torna ainda mais complicada de digerir esta derrota. Borrados, sempre a baixar linhas como qualquer equipa da metade inferior da tabela, borrados, como Casillas mostrou logo a abrir a segunda parte, quando a bola cabeceada por Ruiz quase lhe deslizou das luvas para dentro da baliza.

Nessa altura já Alan Ruiz estava em campo, substituindo um Matheus Pereira que merecia ter tantos mais minutos nas pernas antes de chegar ao dragão e não envergonhar quem quer que fosse (foi, até, um dos que melhor pressionou alto, mas deve ser do cacete teres oportunidade de jogar e passares o tempo com a sensação de estares sozinho no teu lado). E o argentino depressa mostrou que os dois últimos jogos eram reais e que caminha para poder ser o jogador que todos ansiamos que venha a ser (uns com mais, outros com menos paciência, como é o meu caso, confesso).

Mas antes de Alan se transformar numa das figuras do jogo, permitam-me dizer que seria ridículo Marvin ver o segundo amarelo por um pé em riste e mais ridículo que isso só se fosse marcado um penalti quando o Soares resolveu atirar-se para o chão. Ah, e recordar a pantufada de Adrien na bola, com o pé esquerdo, que daria um golão de todo o tamanho. Não entrou a de Adrien, entrou a de Alan, depois de assistência de Dost. Grande pontapé do argentino relançando o jogo com meia hora para jogar.

penalti coronaE nessa meia hora só deu mesmo Sporting que até já tinha, imagine-se, um lateral a ir à linha (sim, Schelotto fez um jogo competente, mas quem cometeu essa proeza rara foi Esgaio a jogar no lado contrário ao seu melhor pé). Corona só volta a ver-se quando corta com a mão um remate de Andrien, dentro da área (e duvido que não houvesse cambalhota no marcador se empatássemos o jogo a 15 minutos do fim), Podence já lá está dentro e Adrien é o 6 com o apoio de Bryan, Coates inicia um duelo particular com Casillas. Deste mano a mano em castelhano sai vencedor o redes espanhol, primeiro defendendo no chão, depois bloqueando sobre a linha aquele que seria o empate mesmo em cima da hora.

Resumidamente, voltámos a entrar em jogo oferecendo um golo ao adversário, passámos a primeira parte a ter a bola e a não saber o que fazer-lhe para criar oportunidades de golo, viemos para a segunda parte transfigurados, encostámos o adversário às cordas, tivemos uma mão cheia de oportunidades de golo, os nossos adeptos foram reis em terras adversárias e acabámos o jogo a coleccionar mais lances daqueles que o conselho de arbitragem vai dizer que são de difícil análise ou demasiado rápidos para evitarem o erro.

O filme de uma época contado em 90 minutos, no final dos quais ficámos a 9 pontos do primeiro, que podem ser dez, sendo que se passarem a ser dez ficamos a nove do segundo. Resta esperar que as 14 cenas guardadas para lá do genérico final se traduzam em momentos mais felizes e capazes de ajudar a escrever um guião com menos erros de casting do que aquele com que nos brindaram este ano.