Muito temos discutido, desde que no Verão o mercado de transferências se fechou, a necessidade de investir naquele que seria um lateral esquerdo de valor absoluto, sem margem para contestação e que nos fizesse esquecer a casa de horrores que Jefferson e Marvin apresentaram desde muito cedo, esta temporada.

Com efeito, a precoce dispensa de Jonathan Silva ainda no decorrer de 2015/16 para resgatar aquele que era o mais promissor jogador do Rio Ave pareceu-me uma troca natural, em que, essencialmente, se assegurava o equilíbrio do plantel sem perdermos credenciais. Mas nem tudo o que está escrito no papel é realidade no terreno de jogo, e a camisola listada pesa mais a Marvin que a muitos que chegaram nas suas circunstâncias (chegando de clubes de dimensão inferior).

Reconhecendo que Jefferson e o holandês têm estado muito, muito longe do esperado, que Bruno César não é mais que uma alucinação e Esgaio seria apenas uma solução de recurso quando tudo o resto falhou, existem outros problemas associados à nossa ala esquerda que permitem que se transforme naquela A5 ao domingo de manhã.

Bryan Ruiz é jogo após jogo a escolha do treinador como extremo esquerdo, ou ala esquerdo ou tudo o que lhe quiserem chamar. E se antes a sua ocupação de espaço, leitura dos tempos e intensidade elevavam o jogo leonino para um patamar superior, permitindo situações de perigo em apenas um toque, aparecendo a ajudar o meio-campo na recuperação de bola e com intensidade para matar uma jogada contrária desde cedo, hoje Bryan é uma sombra desse homem. Por tudo o que fez o ano passado tem as credenciais que lhe permitem a paciência da bancada e das redes sociais mas, para proteção do próprio atleta, a sua manutenção no onze sem experimentar a alternativa, parece começar a ser perigosa para o exigente auditório de Alvalade. E todas as semanas se notam as consequências defensivas e ofensivas desta escolha.

E, como vítima final desta saga canhota, o central do lado esquerdo. E aqui existem vários problemas.
Não é coincidência nenhuma que um dos sacrificados do onze que iniciou este campeonato seja Rúben Semedo, um central velocista e técnico, que actua no lado esquerdo da defesa exatamente por isso. O pé esquerdo que não tem compensa com a rapidez e toque de bola, permitindo até ao Sporting uma abordagem diferente na construção de jogo e na subida da linha defensiva. Vezes e vezes sem conta (não desculpando a sua juventude idiota por vezes) não existia ninguém para as dobras, tinha de acompanhar o extremo adversário até à linha final e até corrigir insistentemente o posicionamento de Bruno César.

Paulo Oliveira, um central seguro e confiável, entrou para o seu lugar mas rapidamente trocou a posição com Coates. Aquelas aventuras de andar naquele lado a navegar na maionese não são para ele. Altura de El Patron assumir, com as consequências que já se começam a notar. Jogos francamente mal conseguidos de Coates, a culminar na partida frente ao Vitória de Guimarães como uma das piores ao serviço do Sporting. Nem Coates nem Paulo parecem propriamente especialista naquela função: ser corpo presente numa ala que encontra dificuldades todas as partidas. Nem especialmente dotados tecnicamente para correrias descabidas que lancem de novo o ataque. Nem sequer especialmente rápidos (o que não significa que não sejam fantásticos naquilo que realmente sabem fazer).

A somar a isto tudo, o cansaço evidente de William Carvalho, que nem lesões, nem castigos de maior tiraram do onze para quase todas as competições em que participámos e em que falhámos. Um cansaço muito mais que anímico (como se verifica na equipa) mas definitivamente físico.

Solução passa então, na minha perspectiva, pelo afastamento de Bryan Ruiz daquele lugar e a possível recuperação de Esgaio naquelas funções até final da época. Depois, começar desde já a prepara algo óbvio: o regresso de Jonathan Silva acompanhado de um lateral esquerdo de valor inquestionável, pronto a entrar no onze e com capacidade de ser ajuda defensiva e ofensiva (algo que falhou em ambos os lados este ano).

jeff

*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa