Primeiro que tudo, e antes que me esqueça, os meus parabéns a Adrien Silva pelos 28 anos celebrados ontem, pela carreira, pela braçadeira e pelos anos de serviço ao Sportng (mais de metade da sua vida). E se é verdade que já tivemos muitas curvas nesta relação, que foi por vezes mais turbulenta que cruzeiro, hoje serão poucos os sportinguistas que contestam a sua presença na galeria dos ilustres, que duvidam do seu mérito como capitão ou que sequer colocam em causa a sua mais-valia desportiva. E é precisamente sobre este último ponto que hoje vos trago este texto.

Adrien Silva é um jogador raro, muito raro, não só pelo talento mas também pelo conjunto de características que reuniu em si, muitas delas melhoradas com o tempo. Era um médio de pendor muito mais ofensivo quando começou no Sporting, que actuava em zonas mais subidas do terreno e se fazia valer de uma excelente visão de jogo. Tinha passe, sabia manobrar a equipa à sua volta e cresceu assim nos seus dois empréstimos longe de Alcochete.

O regresso à equipa principal, numa altura surreal do clube, fez com que voltasse a essas posições atacantes. Mas mais ou menos em Novembro já todos concordávamos que Adrien Silva não seria o 10 capaz de empurrar a manobra ofensiva do Sporting num sistema de 4x2x3x1.

Leonardo Jardim percebeu bem as suas características, Adrien percebeu que estava numa fase delicada da sua carreira e aquele casamento perfeito acabou por resultar na sua afirmação. Actuava a 8, num meio-campo a três, oferecendo a outros as funções puramente ofensivas, e aprendeu a ser relógio. Na realidade, é isso que hoje é (facto ainda mais notado apenas na companhia de William). Adrien é o compasso que marca os tempos, que imprime a velocidade do jogo, que define as linhas e momentos. É a voz de comando como capitão e como cérebro táctico. Aproveitou a sua capacidade de choque, a sua intensidade chocante e a qualidade de passe para se fazer um médio raro, apreendendo a arte de defender e o posicionamento como poucos.

O capitão é hoje o pêndulo que separa ataque e defesa, o ofensivo e o defensivo e que controla as operações dando ao jogo a velocidade que ele decidir. Teve uma mutação semelhante à de João Moutinho, mas conseguiu elevar-se no que toca à finalização e especialidade nas grandes penalidades (caraças que o homem não falha). São jogadores cada vez mais raros no futebol actual, pela capacidade de ser várias coisas em diferentes zonas de terreno.

Por isto tudo, encontrar alguém que possa fazer de Adrien quando Adrien não está é uma tarefa complicada mas essencial no futuro a curto prazo do Sporting. As lesões não vão abrandar e os castigos, naquela que é a sua forma de jogo, certamente também não.

A resposta não é Francisco Geraldes, que está longe de ser este jogador, não é nenhum médio que actua na equipa B, não será Wallyson por todos os motivos e mais alguns, poderá até vir a ser Gauld mas o Jesus nem sabe que ele existe, e os fantásticos médios dos nossos sub-19 terão ainda muito pão para comer até chegar a esta fase.

A solução tem de vir de fora, tem de ser definitiva e enquadrada com os valores que o clube tiver disponíveis mas, mais que tudo, tem de ser uma das prioridades no planeamento da próxima temporada.
Em Portugal existem poucos atletas com estas valências. Fransérgio seria o mais interessante neste perfil, mas já está a caminho do Braga, Vukcevic seria outro mas renovou pelo mesmo clube, e não se vislumbra nos outros clubes alguém capaz de ser opção credível.

É altura de comprar sim, mas alguém com experiência europeia, que possa fazer de capitão quando o mesmo não estiver disponível, que tenha a intensidade, o posicionamento e a técnica. Venha ele de onde vier, seja ele quem for, que não existam dúvidas desportivas na hora de chegar.

*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa