bandeiraHá inúmeros tratados, livros e teses sobre gerir uma “guerra”. Na sua maioria ensinam-nos que face a um inimigo com um contigente mais extenso, todos os recursos e movimentos têm de ser geridos com extrema eficiência e inovação. Esta frase fará mais sentido uns parágrafos mais abaixo. Olho para as relações entre Sporting e Benfica e não posso deixar de constatar que as mesmas são muito semelhantes a dois ministérios beligerantes em completa batalha de trincheiras, pontuada por permanentes ataques e contra-ataques e muito sinceramente, sem grandes ganhos por qualquer das partes.

Pode-se argumentar que nem o plano de secundarizar o Sporting está a dar frutos, nem a estratégia leonina de destabilizar o Benfica está a ter o sucesso desejado. O Sporting tem crescido bastante na sua operação financeira e desportiva, o Benfica continua a posicionar-se na disputa pelos troféus nacionais. Esta imensa contenda é apenas lucrativa para as tvs e jornais que têm um filão inesgotável de polémicas intermináveis. Todo o resto no futebol e no desporto, infelizmente, perde.

Não leiam nestas palavras qualquer incentivo à paz ou à tentativa de que as partes a encontrem. Se há coisa de que tenho a certeza no Sporting é que nunca poderíamos ser coniventes ou neutros com as actuais direcções dos nossos maiores rivais. Não nos respeitam, não respeitam aquilo em que nós acreditamos, as suas acções provaram e provam-nos que não são organizações concentradas em respeitar os princípios básicos da ética desportiva. Enquanto assim for, enquanto ambos forem emblemas dispostos a tudo para levantar troféus, enquanto o único obstáculo para a imoralidade for o “não ser descoberto ou apanhado”, o Sporting deve ser o mais feroz combatente destas lógicas.

Não sejamos ingénuos, numa guerra com um clube que tem muito do terreno, supostamente neutro, completamente minado, cabe ao Sporting muitas vezes fazer o papel de “agressor”, confundindo muita gente essa procura de afirmação de diferença (e sim é uma defesa aguerrida) como “ataques”. A história e a narrativa dos duelos é muitas vezes escrita por cronistas parciais, a quem dá muito jeito “ilustrar” um Sporting tão mau como os outros, pois se assim não fosse seria difícil justificar as persistentes notas negativas com que se pontua a actualidade informativa sobre o nosso clube.

Esta distorção mediática está na base da maioria das tomadas de posição do clube, está na raiz de uma constante aparição de BdC nos media, está na essência da votação nas últimas eleições do Sporting. Muito da afirmação e glorificação do nosso rival encarnado passou e continuará a passar por uma decadência brutal da deontologia jornalística, onde a verdade e a imparcialidade foram empurradas para debaixo do interesse financeiro, para debaixo da urgência de agradar à maior fatia de audiência.

Como dizia no início, ao Sporting cabe o papel de potência “contestante”. E eu gosto que assim seja. Mas preferia que fossemos mais cirúrgicos, mais inovadores e sobretudo muito mais criativos para lidar com este enorme plano inclinado que se chama “comunicação”. Com mais ou menos guerra, dentro do Sporting têm de ser definidos objectivos claros, escolhidos os melhores intervenientes e colocar em em marcha uma visão global do que o clube quer dizer ao país desportivo. Haverá quem chame a isto estratégia, eu prefiro a palavra “caminho”. Ser apenas reactivo às polémicas e envolver tudo e todos na luta de trincheiras desfoca-nos do principal alvo e no meio do fumo, dos gases tóxicos e do bombardeamento de declarações e comunicados perdemos o sentido do que estamos a pensar, dizer e fazer.

E qual é o principal alvo? Essa todos sabem: ser campeão, defender a verdade desportiva de forma transversal e efectiva…fazer do Sporting um dos maiores clubes da Europa. E sim, muitas vezes isto passará por “atacar” o Benfica ou o Porto. Passará por continuar de espingarda nas mãos encostados à trincheira prontos a “aviar cartucho” no carvão mediático. Passará por desintoxicar a mente não vendo, lendo ou escutando os paineleiros ou as crónicas de gente que nos menospreza, despreza e insulta a inteligência. Mas, na minha opinião esta é só a parte menos fundamental do nosso verdadeiro esforço de guerra. A nossa concentração deve estar sobretudo no apoio incondicional às nossas equipas, no seguimento e apoio possível à nossa TV e Jornal, na imensa missão possível que é acrescentar valor ao nosso clube.

A defesa do que somos, o crescimento e fortalecimento desse imaginário e ideal é a “minha guerra”. O resto é como lidamos com o lixo lá em casa: metemos num saco e deitamos fora, todos os dias.

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca