Esta semana, e não o parecendo, vou falar muito de Sporting, e muito de Rugby… Para variar e não ser sempre do mesmo. Cá vai o Especial da Casa.
Para prelúdio, que cada um se lembre do Tempo em que havia dois canais de TV, para muitos de nós a preto e branco, ainda… no meu caso, uma televisão marca Telefunken, a imitar madeira… E que os sábados eram todo um Universo de batalhas e jogos e golos e brincadeiras sem fim… Os Domingos eram tão só a continuação, e nem se pensava ainda na segunda-feira, na escola, enfim, nas responsabilidades. Assim mantenham este espírito para o resto, vai ser preciso.
O Sporting, e tal como todas as organizações, ou grupos, tem a sua riqueza na diversidade. Este é um ponto assente, e que eu quero bem vincar, num tempo em que andam todos a espreitar aos buracos da fechadura… uns acham que são mais que outros, e ainda que são melhores, ou mais altos… Enfim.
Em 1605, um dos maiores vultos da literatura mundial escreveu um romance, Miguel de Cervantes de seu nome, e o livro que escreveu, em duas partes, passou à Eternidade com o nome d’ El ingenioso hidalgo Don Quixote de La Mancha, e que comummente conhecemos como Dom Quixote.
Neste romance há um pequeno fidalgo de província, que lia muitos romances de cavalaria, e de tantos romances ler, começou a acreditar nesses romances como realidade, e não como literatura. Conta nestas suas aventuras o Cavaleiro da Triste Figura com a ajuda e socorro de um servo, de seu nome Sancho Pança.
Não que o seu servo partilhasse dos seus ideais, ou das suas visões. Sancho acompanhava o seu amo, completamente desiludido da fantasia, e desejando que o seu amo não se envolvesse em aventuras, que acabavam sempre mal.
Mas o que podia motivar alguém como Sancho Pança a acompanhar tão tristes aventuras e figura?
O vil metal… Dom Quixote havia prometido uma recompensa ao seu pajem, nomeá-lo governador de uma província. E havia também, porque nisto de sonhos andam sempre de braço dado, uma Senhora Dulcineia, que viva rodeada de pavorosos gigantes e a quem Dom Quixote devotava o mais profundo dos afetos.
Ora meus caros, em todo o lado há Dom Quixotes, Sanchos Pança, e Dulcineias… Basta ver. Todos nós aqui temos a nossa Dulcineia, a quem estremamos de carinhos e cuidados, a quem amamos e a quem projetemos de todos os males. Alguns de nós são o Dom Quixote desta nossa história, alguém que acredita no Belo, no Sublime, no Bem… Sempre prontos para defender a nossa Dama Alguém que não hesita em arvorar alto o lema da heroica Ala dos Namorados em Aljubarrota:
…Por Minha Dama.
Ou em aprimorar o nosso Zarolho, para um
A Mente a nossa Dama dada,
O braço, às Armas feito…
Somos como somos, somos assim, ridículos, valentes, temerosos, valentes… Somos nós. Mas também somos um Sancho Pança, que olha ao vil metal, o Realista que vê que aquela ação não vai dar em nada, que aconselha, que impede o desperdício na Vã Glória… Que repetidamente avisa, e com a esperança de ser ouvido: – Não é um gigante, são moinhos de vento… Esse mesmo Sancho Pança que igualmente alerta: – Cuidado Senhor, não são moinhos, são gigantes…
É Sancho Pança quem vence o Mundo, que governa o Ideal materialista e Material… Quem não é assim? Ou o seu contrário?
Por nossa Dulcineia, o nosso Amor, somos de extremos, somos Quixote e Sancho, irmanados numa viagem. Só nos falta a uns o ser menos Sancho e mais Quixote, outros precisamente o contrário… Mas todos nós amamos Dulcineia, todos estremecemos ao ver gigantes, sejam ou não eles moinhos…
Como até agora nada de rugby falei, só para deixar uma alegria imensa… As nossas leoas, as nossas seniores vão ser Campeãs Nacionais de Sevens! Na última jornada, no próximo sábado na Agrária em Coimbra, nós seremos Campeões.
Também aqui, o Sancho lutou com D. Quixote, acerca do que seria moinho, e do que seria Gigante… Ganhou o fiel escudeiro, e ganhou bem. O Realismo sobrepôs-se ao Sonho… Mas este vosso Cavaleiro da Triste Figura ainda não desistiu do sonho, continua a querer mais, a querer melhor, sempre. E estima muito o seu Sancho Pança, e às vezes dá-lhe razão…
*às quintas, o Escondidinho do Leão aparece com uma bola diferente debaixo do braço, pronto a contar histórias que terminam num ensaio
4 Maio, 2017 at 14:09
Muito bom 🙂
Nisto de acreditar sou sempre Quixitoniano… tenho por aí Panças que cheguem para me trazer à razão.
Vamos ser Campeões!
4 Maio, 2017 at 14:52
Boa ” peça” caro amigo Escondidinho
…
Todos nós somos, em muitas situações Quixotes ou Sanchos…mas o nosso amigo Escondidinho ” passou ao lado” de “dois ajudantes de campo” dos personagens principais…
Não lembrou o cavalo do fidalgo, bem o burro ( ou a mula) do seu fiel ajudante…
É que bastas vezes ” na defesa” da nossa Dulcineia…não falta quem vista a pele desses ” animalejos”… e umas vezes ” a coice”, outras “zurrando” mais alto… queira fazer-se ouvir…ou marcar terreno…
(Sem ofensa… é claro…!)
SL
4 Maio, 2017 at 15:10
O valente Rocinante, vítima involuntária da loucura alheia, que arca em grande com os desvarios do seu dono…
4 Maio, 2017 at 15:45
Que belo texto!
Pensemos só nos ideais… o resto está demasiadamente envolto pelas sombras.
Os meus sinceros parabéns e
SL
4 Maio, 2017 at 16:00
Bom, Muito Bom.
Por mim, o Escondidinho pode escrever sobre rugby, petanca, armários..
Ou bacalhau, tem aqui um fiel amigo!
4 Maio, 2017 at 17:44
Epá, querem roubar o emprego ao Sá! Já não basta o homem ter perdido o esquerdo…
4 Maio, 2017 at 17:48
Não está perdido…fica pendurado até à nova época
4 Maio, 2017 at 18:10
Porra, mas pendurados não estão todos?
4 Maio, 2017 at 18:27
O dele ta por um fio
4 Maio, 2017 at 16:41
Excelente texto. Entre o sentir quixotesco e a triste realidade, convém manter um certo equilíbrio, para não perdermos os sonhos de vista, mas sabermos que terreno pisamos. A isto é obrigado um sportinguista, sobretudo um sportinguista.
A realidade mostra-nos aqui uma inversão metafórica. É a realidade que nos montra os monstros gigantes que temos que combater, qual polvos tentaculares, e não moinhos de vento.
5 Maio, 2017 at 11:05
Que texto delicioso.
A dicotomia sonho e realidade é uma constante da vida, como dizia o poeta, tão concreta e definida como outra coisa qualquer.
Aqui na tasca essa dicotomia é vivida intensamente todos os dias, sempre que alguém vestido de verde e branco corre, luta, salta, remata ou placa, agarra é a realidade da competição que o move e é o sonho que nos faz apoiar, viver intensamente aqueles momentos.
Contra monstros ou moinhos de vento que tantas vezes se confundem e tantas vezes são apenas duas faces da mesma moeda, quantas vezes somos o fidalgo da triste figura ou o seu servo anafado, sempre na defesa da nossa Dulcineia, que independentemente do que outros possam pensar é o nosso grande amor.
5 Maio, 2017 at 13:46
Eu não o diria melhor. 🙂
5 Maio, 2017 at 22:53
Um comentário à altura do texto.
SL