Em Alvalade, o sector que sofreu mais mexidas foi mesmo a defesa, particularmente no eixo central. Rúben Semedo, Paulo Oliveira e Douglas abandonaram o clube, e para os seus lugares entraram, para já, Jérémy Mathieu, André Pinto e Tobias Figueiredo. Terá ficado o Sporting melhor ou pior neste sector em particular? Essa é a pergunta à qual nos propomos responder de seguida, depois da análise individual a cada reforço, assim como da sua comparação com os titulares da época passada.

Jérémy Mathieu
33 anos, ex – Barcelona
É, dos três, aquele que menos apresentações requer. Campeão europeu e mundial de clubes ao serviço do Barcelona, depois de ter passado cinco épocas no Valência, que o vendeu aos catalães por 20 milhões de Euros, Mathieu era um lateral-esquerdo com grande estampa física que acabara por ser convertido em defesa-central.

No Barcelona foi bastante utilizado na primeira época (2014/15), mas a partir daí deu-se um natural ocaso, na utilização e nas exibições, tendo em conta o avançar da sua idade. Mathieu perdeu velocidade, mas perdeu também o poder de choque que revelava nos duelos, sobretudo aéreos, tendo passado de 76% de eficácia em 14/15 para os 57% das últimas duas épocas, que o colocam como o mais pobre dos quatro centrais nesse aspecto.

Tendo em conta o papel pouco notório da rectaguarda do Barcelona, não seria de esperar que Mathieu apresentasse números médios muito elevados nos aspectos defensivos, mas, entre os que apresenta, destaca-se aquela que é cada vez mais a sua maior qualidade: a capacidade de ler em jogo em antecipação.

Em resumo, tendo em conta o nível de dificuldade da liga portuguesa relativamente à espanhola, é previsível que Mathieu ainda seja garantia de segurança a nível interno. No entanto, o francês está, na nossa opinião, um degrau abaixo de Coates, e é provável que isso se torne mais óbvio na Liga dos Campeões.

André Pinto
27 anos, ex – Braga
Foi a primeira contratação do Sporting para a época 17/18. André Pinto é um defesa-central com escola de FC Porto e que chegou a ser internacional A num amigável contra Cabo Verde, no qual acabaria expulso.

Depois de passagens por Vitória Setúbal, Portimonense, Olhanense e Panathinaikos, André Pinto estabilizou no Sp. Braga, pelo qual fez 67 jogos na Liga NOS, divididos entre quatro épocas. No pico da sua maturidade futebolística, regressa agora a um clube grande, depois de não ter renovado com os minhotos.

Estatisticamente, André Pinto é um defesa-central de contrastes. Quase imbatível no jogo aéreo, venceu uns impressionantes 80% de duelos defensivos pelo ar nas últimas duas épocas. O estranho é ter disputado apenas 1,8 a cada jogo, um número raro e que revela desde logo algo que André Pinto tem em comum com Mathieu, a pouca agressividade. Ao contrário de Coates e Rúben Semedo, por exemplo, será muito raro ver André Pinto tentar um desarme, algo que se torna mais preocupante tendo em conta que não compensa isso com números altos nas intercepções. Efectivamente, mesmo jogando numa equipa que defende tendencialmente mais que o Sporting, André Pinto registou apenas 2,4 intercepções por jogo, contra as 3,1 de Coates, 3,2 de Semedo e 3,0 de Paulo Oliveira.

Resumindo, causa até uma certa estranheza a contratação de André Pinto, atendendo ao perfil de defesa-central que Jorge Jesus privilegia: força, agressividade e rapidez são características que não fazem parte do portefólio do ex-arsenalista.

Tobias Figueiredo
23 anos, ex – Nacional (empréstimo)
Um regresso a casa numa altura inesperada. Depois de uma época de empréstimo que ficou muito aquém das expectativas, ao ponto de, com três cartões vermelhos, ter sido o jogador mais vezes expulso na Liga NOS 16/17, Tobias Figueiredo estará de regresso para integrar o plantel.

Outrora grande esperança da formação leonina e da selecção nacional, Tobias nunca sofreu verdadeiramente o upgrade de qualidade desejado, e continua a revelar o mesmo tipo de erros que mostrou na época de Marco Silva, na qual tambémfoi expulso duas vezes em apenas 14 jogos, graças às muitas faltas que faz em zonas perigosas do terreno.

Fora isso, Tobias até apresenta alguns números interessantes. Forte pelo ar em ambas as áreas, o jovem remata muito de cabeça e com bastante precisão, fazendo ainda uso da sua boa visão de jogo para tentar passes verticais com frequência, que até resultam num número elevado (para um central) de passes para ocasião de remate.

Caso corrija as falhas momentâneas de concentração e até mesmo alguns momentos de indisciplina, Tobias pode subir na hierarquia de centrais, mas há muito trabalho a fazer. Sete expulsões numa ainda curta carreira de profissional não são um bom cartão de visita.

comparativocentrais

Tendo em conta as opções disponíveis, Coates e Mathieu formarão neste momento a melhor dupla de centrais do Sporting. Se o francês e (principalmente) o uruguaio dão garantias, a falta de alternativas com a mesma qualidade na ausência de qualquer um deles é motivo de preocupação.

Globalmente, as quatro opções desta época não são melhores do que as da anterior, e, se a saída de Rúben Semedo se compreende pelo encaixe financeiro, a de Paulo Oliveira (5.81) custa muito a entender se atenderemos aos seus substitutos.

Há ainda um jóquer que pode ser jogado por Jorge Jesus: João Palhinha. O ex-Belenenses fez grande parte da sua carreira como defesa-central e tem números que o avalizam perfeitamente para esse lugar, não sendo, neste momento, uma opção menos válida que André Pinto ou Tobias Figueiredo.

Tem a palavra Jorge Jesus, nas opções que tomará e naquilo que conseguirá tirar das mesmas. No entanto, comparando com a profundidade do meio-campo e do ataque, a defesa é claramente o ponto mais frágil do Sporting versão 17/18.

 

artigo publicado no site GoalPoint