É meia-noite, hora que o futebol moderno considera normal por algum motivo, e o Real Madrid acaba de conquistar mais um título na Era Zidane. Cristiano Ronaldo e companhia conhecem o seu treinador há 18 meses. Nesse período perderam apenas 7 partidas, venceram 7 troféus.

Zidane é tudo menos um inovador táctico. Não é um mestre da posse como Pep, nem do contra-ataque como Mourinho, nem da pressão sufocante como o Simeone, muito menos da simplificação do futebol, como é António Conte. Zidane não tem um único traço característico, ganhou muitos jogos com golos caídos do céu, mas conseguiu a proeza única de transformar uma equipa carregada de talento e elevá-la ao seu verdadeiro potencial. Quem conhece o Real Madrid, sabe que isso é histórico.

O careca marselhês, em tempos o meu jogador favorito de sempre, percebeu algo simples no futebol moderno e carregado de pseudo-estrelinhas que se acham donos do mundo: se todos estiverem motivados, prontos à acção e aceitarem a rotação natural de uma equipa, estarão sempre mais perto do sucesso. E a isto não escapa ninguém, nem mesmo a maior estrela do planeta do futebol.

Zidane é um bom condutor de homens, que entende a dificuldade de vencer sempre e que se recusa a excluir alguém do seu plantel. E assim os jogadores sabem que chegará sempre a sua vez e que o grupo estará mais perto dos troféus.

A defesa e meio-campo são mais ou menos estanques, salvo algumas alterações pontuais, mas é no ataque que tem mexido mais, conseguindo que o seu ponta-de-lança suplente ultrapassasse os 20 golos e o extremo de segunda linha se transformasse no maior assistente da equipa. Porque o ataque é o que está sempre mais suscenptível a alterações, mesmo em pleno jogo, e por isso o que acumula mais jogadores por posição.

Voltando à nossa escala. O Sporting tem na sua posse uma frente de ataque entusiasmante e carregada de talento, mas que tem de ser devidamente explorada. A Iuri, Gelson, Acuña, Bruno César, Podence, Bas Dost, Gelson Dala, Alan Ruiz e Doumbia deverá ainda juntar-se um reforço (Gabigol está hoje mais perto) que nos permitirá ter mais uma opção principalmente para a ala.

Temos jovens a começar, jovens experientes, goleadores natos, gordinhos de belíssimo pé esquerdo, homens que geram desconfiança e até uma formiga atómica. E todos juntos permitem soluções diferentes para jogos diferentes, permitem-nos ser competitivos em todas as competições e são garantia de golos e assistências.

Mas o futebol não é matemática e ter apenas um punhado de bom jogadores é tudo menos garantia de golo. Importa servi-los da melhor forma e adaptar a equipa às suas diferentes características, a todos os momentos. E, como Zidane nos ensina, todos prontos e motivados para entrar e realmente marcar a diferença.

Importa perceber que existem momentos em que Iuri nos será mais útil que Gelson, que Alan Ruiz mais essencial que Podence e até que Doumbia nos poderá oferecer outras soluções em jogos complicados, quando comparado com Bas Dost.

Uma frente de ataque fixa, estancada como cimento, em nada nos vai ajudar tendo em conta o invejável talento que temos à disposição. Em nada nos ajudará quando dependermos demasiado de um homem e, naturalmente, não o conseguirmos utilizar nas quatro competições em que estaremos envolvidos.

Iuri Medeiros deu o mote na última partida, tal e qual tem de fazer sempre que for chamado. Jesus tem agora a função de fazer crescer um conjunto de jogadores, e de os fazer entender que o grupo depende do seu talento e todos terão a sua oportunidade de ajudar.

dost mónaco

 

*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa