No último jantar antes do Natal, o Leão não foi de modas: bebeu e empanturrou-se como se fosse dia de consoada! E o melhor é que, a partir do momento em que abriram a pista de dança, contagiou tudo e todos com a sua capacidade de brilhar a todos os ritmos e mais alguns

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Este era visto como o jantar de Natal menos entusiasmante das últimas semanas. Mas, ainda assim e porque dele dependia a continuidade na Taça CTT, Jorge Jesus não prescindiu da maioria dos seus principais artistas, apenas dando folga a Coentrão e a Battaglia que, a esta hora, ainda devem estar a receber vídeos a partir dos telemóveis dos colegas com os melhores momentos de uma grande noite.

E nem tudo começou de forma tão festiva. É verdade que o Sporting entrou forte, novamente com a dupla Gelson-Podence a deixar a cabeça em água aos adversários, mas, aos poucos, o União foi-se libertando e conseguindo chegar à área leonina, quase sempre pelo irrequieto Rodrigo Henrique. No fundo, o Sporting estava subido, bem subido, tão subido que William pouco ou nada contava com a ajuda de Bryan Ruiz e era praticamente o único homem no miolo.

Mas essa vontade de pressionar alto e estar sempre perto da área insular acabaria por dar frutos à passagem dos 20 minutos: Sagna, claramente um daqueles gajos que chega aos jantares e bebe demasiado enquanto servem os aperitivos, achou que era capaz de sair a jogar à Beckenbauer, borrou-se todo quando foi pressionado por Doumbia e depois ficou a ver o 88 a embalar para a baliza e a fazer um golo com estilo, tanto estilo que a meio parecia que a jogada ia perder-se.

Os Leões pareceram deslumbrados com aquele prato de marisco ainda antes de se sentarem à mesa e levaram dois sustos para ver se abriam a pestana. E abriram, amarrando definitivamente o jogo e enviando bolas ao poste e à barra: primeiro Podence, num remate rasteiro; depois Coates, num gesto técnico fantástico, rematando de trivela para grande defesa do redes que desviaria o esférico para o travessão. Último momento de perigo nos pés de Bryan Ruiz, com a bola a encontrar as pernas de um defesa quando se encaminhava para a baliza.

Vieram as sobremesas e, aí sim, a noite animou. Doumbia foi o primeiro a correr em direcção ao buffet, mas o remate embateu nas pernas de um defesa e foi para canto. Acuña segurou na bola, ajeitou-a junto à bandeirola e cruzou para uma belíssima cabeçada de Matthieu! Um Crêpe Suzette no ponto, tão no ponto que Bryan e Bruno César (olha quem…) repetiram demasiadas vezes e tiveram que dar o lugar a Bas Dost e a Bruno Fernandes, os Dj que vieram incendiar a pista de dança!

Acuña passava para defesa esquerdo e ganhava a companhia de Gelson (aquela recuperação, na raça, fodido, mesmo, aos 55 minutos é tão boa para calar os palermas que criticam o puto), o Sporting embalava para um final de festa diabólico. Tão diabólico que Bas Dost tentou um monumental chapéu de pé esquerdo e Doumbia, já com a gravata à volta da cabeça, aproveitaria uma “marrada” do intratável Coates para, com a barriga, empurrar para o 3-0.

Bas Dost ria-se muito, largava os pratos e corria pela pista. Bruno Fernandes não hesitou e lançou uma morna de costa a costa, que o holandês ofereceria com dedicatória ao menino Gelson Martins. 4-0 ali por volta dos 70 minutos, altura em que Doumbia chamou um taxi para o levar a casa. Quieto até então, Iuri Medeiros deixou os reflexos da bola de espelhos iluminarem-lhe o rosto e juntou-se à festa e sacou as fotos todas que não me deixam mentir.

Coates, louco, pregava cuecas em plena área defensiva e dizia a William que aquilo é melhor do que o cabrito do passado domingo; Matthieu, segurando uma garrafa de vinho francês que trouxe de casa, trocava-se todo a tentar marcar de pé direito depois de assistência de Podence; o pequeno Daniel ficava lixado, até porque o pessoal do bar lhe tinha voltado a pedir o cartão de cidadão para o deixar beber, e assistia Coates, que aproveitava os ritmos latinos para mais uma tentativa de trivela que acabaria dentro da baliza; depois, Iuri avançava para uma selfie, numa daquelas bolas em arco, cortadas ao poste mais distante, para o sexto golo da noite, agora ao som de James e daquela estrofe onde se escuta «Wanna see you take that ball and make it break the laws of gravity; Sell me a dummy on the way, Curve ball, around the wall»

Goal, Goal, Goal, Goal, Goaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaal, todos a celebrar, com Bruno Fernandes a voltar a tentar uma bomba de fora da área, antes de deixar um telemóvel ligado à mesa de mistura e ficar em cuecas e gabardina depois de ir oferecer a roupa ao pessoal que, lá na curva sul, tinha cantado John Lennon e agora puxava de cânticos nórdicos. Jesus ria-se muito e chegava ao final da noite sem tirar aquele casaco quente “comóraio”, mas, agora, com um barrete de pai natal verde enfiado na tola e com a alma cheia de felicidade por ver a sua rapaziada mostrar total compromisso numa festarola underground.