A pouco mais de 24 horas para o Clássico que determina o papel do Sporting nas contas da Primeira Liga e sabendo todos que encontraremos tudo menos facilidades (até pela amostra que já tivemos esta temporada) é tempo de percebermos, afinal o que vale este FC Porto? Como podemos remendar a nossa equipa cheia de lesões, gripes e claras ausências de forma? Aqui vai.

Assente num 4x4x2 móvel, com Marega a desempenhar uma dupla função de avançado e médio ala e Brahimi encarregue das despesas mais criativas, tem sido do lado direito do ataque que mais dificuldades o Porto tem encontrado para arranjar alternativas. Corona (até pelos problemas pessoais que teve este ano) está longe de ter confirmado tudo aquilo que se projectava no seu futuro quando o Porto pagou algo como 8 milhões pelo seu passe, Marega apresenta força e capacidade de progressão, mas está longe de ser um extremo magnífico, e a presença quer de Herrera como André André daquele lado cedo se revelou como um 4x3x3 disfarçado, até pelas características dos jogadores em questão. Se repararam que não me referi a Hernâni, repararam bem.

No meio-campo, Danilo, Sérgio Oliveira e Herrera têm dado conta do recado de forma fantástica. A lesão do médio-defensivo ditou a titularidade de Sérgio Oliveira e a verdade é que o rapaz mostra um enorme entendimento com Herrera, tem contribuído com golos e assistências, para além de oferecer outra mobilidade aquela zona do terreno. Se o Sporting quer anular o Porto, engolir Sérgio e Herrera, não permitir que tenham bola ou que saiam a jogar é o primeiro passo para sermos bem sucedidos. Sem aquele meio-campo, acaba a profundidade e essa é a verdadeira arma deste Porto. Atacam o espaço como prioridade e a construção em posse não é mais que uma consequência natural do seu valor face à maioria dos adversários.

Frente ao Liverpool, o futebol vertiginoso trouxe um sabor amargo. A tendência de imprimir velocidade, aproveitar as costas dos adversários, jogar nos limites do equilíbrio pode resultar sempre bem contra o Tondela, mas frente a experientes equipas, com melhores interpretes, o resultado será quase sempre negativo. Foi assim frente ao Besiktas, Leipzig, Liverpool e esse é o motivo pelo qual o Porto ainda só conseguiu marcar um golo nos quatro clássicos que já disputou, apesar de ser a maior força ofensiva em Portugal.

Na defesa, o fantástico Alex Telles contribui efectivamente para o jogo ofensivo da equipa, Ricardo é dificilmente apanhado em falso e os centrais Felipe e Marcano são, na minha opinião, banais. Um é excessivamente violento, outro tem problemas em quase todos os capítulos do jogo, excepto no futebol aéreo. É essencial que o Sporting não se foque no “cruzabol” que tantas vezes aparece em alturas de maior aperto. O jogo interior é a nossa maior arma e precisamos que esta seja a maior aposta em termos ofensivos.

No fundo, o Porto apresenta-se num momento de forma muito superior ao Sporting, não há que negar, tem construído goleadas e tem um plantel quase todo com muitos minutos nas pernas. O Sporting tem vindo a sobreviver aos normais atropelos do futebol. Entre lesões, árbitros, más opções técnicas e momentos de forma pouco aconselháveis, a equipa lá se vai reerguendo nos minutos finais, somando os três pontos de forma consecutiva e quase sempre com o coração.

O Clássico representa a última oportunidade para que os leões acreditem no título, mas para o Porto será apenas mais uma semana no primeiro lugar. Esperemos que Jesus saiba imprimir essa garra, essa vontade e essa crença e que a mesma se sobressaia frente ao descontraído rival, que não depende deste jogo para as suas contas. Se quisermos muito mais que eles, a vitória não nos escapará.

Por fim, é sempre perigoso que se trate um gigante do futebol português da forma que o Sporting tem sido tratado na última semana. O país desportivo está convencido de que a vitória não foge ao Dragão, de forma clara, e que no Sábado a prioridade leonina se vai transformar na Liga Europa. Conclusões tão assertivas em torno de um clube que tantas vezes já mostrou que não desiste, com uma massa adepta tão especial e com um treinador tão experiente têm tanto de absurdas como de arrogantes. Que o plantel saiba capitalizar tudo isto numa crença enorme.

O meu onze (4x4x2)
Rui Patrício, Ristovski, Coates, Mathieu, Coentrão, Bruno César, William, Battaglia, Bruno Fernandes, Bryan e Dost.

*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa