Não. Nem o presidente, nem os jogadores. E, juntos, ofereceram-nos não só um dos mais tristes espectáculos de que se recorda a minha memória Sportinguista, como serviram um banquete às hienas que diariamente nos rodeiam.

Depois de horas a pensar nisto, dei por mim a ler “Os dez mandamentos do Sportinguista”, os mesmos que alguns gostam de atirar à cara quando embarcam naquela viagem esquisita de medição de fervor e devoção clubística. E constatei que esses mesmos mandamentos foram esquecidos ao longo destas penosas 24h.

Atente-se, por exemplo, no 6.º mandamento: «Nunca em público amesquinhes os actos de quem represente o teu Clube; roupa suja lava-se em família e o teu dever é criar em toda a parte, pelas tuas palavras e pelos teus actos, um ambiente favorável ao Sporting, enaltecendo-o.». Que poderia ser completado com o 4º mandamento: «4.º Nunca digas mal do que não possas fazer melhor; a crítica é fácil, mas prejudica quando imerecida e perdes o direito moral de falar se não puderes realizar aquilo que amesquinhas.»

Isto vale o que vale, pois mesmo sem estes mandamentos é inegável que todos faltaram às suas responsabilidades. Primeiro, o presidente, com a agravante de ser mais um momento em que Bruno de Carvalho perde completamente a noção do cargo que ocupa e da forma como esse mesmo cargo o obriga a controlar-se. O presidente do meu clube, em quem eu votei sem reservas uma, outra e outra vez, é um desastre comunicacional e, pior, não mostra vontade de inverter essa pecha que o expõe, que o enfraquece aos olhos dos Sportinguistas e que o torna num alvo fácil para os adversários.

Bruno teve um exemplo prático do impacto de um ralhete em público, há 3 ou 4 anos, depois daquela maldita derrota em Guimarães. Os jogadores não responderam publicamente, mas, internamente, os capitães chegaram-se à frente. Depois, as pauladas foram sendo dirigidas às modalidades. Muitas delas injustas, muitas delas num claro despejar a quente toda e qualquer merda que lhe passa pela cabeça. “Ah, e tal, preferes um sincero ou um sonso?”. Pergunta de merda para justificar o injustificável.

Obviamente que Bruno de Carvalho deve sentir-se frustrado muitas e muitas vezes. Se nós, comuns adeptos, nos sentimos, imagine-se aquele que tem a responsabilidade de tocar o clube para a frente e que tem trabalhado, ó se tem, para dar todas as condições a mais algumas a todas as modalidades e mais algumas. Mas, tirando para uns milhares, cada vez menos, que sofrem de ejaculação precoce de cada vez que o Presidente acena com a mão de ferro em público e junta um capítulo boçal à série “puta da Gala”, esses ralhetes em praça pública são um péssimo acto de gestão de recursos humanos e um péssimo exemplo de liderança. E, desta vez, Bruno foi demasiado longe.

Ele tem todo o direito de exigir. Paga bem, paga a horas e trata de oferecer as mais variadas mordomias aos jogadores. Mas uma coisa é mostrar o descontentamento com uma equipa e com um grupo, outra bem diferente é apontar o dedo a um, a outro e a mais não sei quantos, não só individualizando como caindo no ridículo de tecer apreciações técnicas sobre as acções dos jogadores. Já para não falar de quem em termos de valorização de activos um post destes, escrito por um presidente, é um verdadeiro tratado…

Não satisfeito e com bílis extra por descarregar, vai de telefonar para a CMTV, mandar duas ou três lambadas nos paineleiros (giras e fundamentadas, mas descabidas) e tentar justificar o injustificável. Pior, como já havia feito, por exemplo, em dois discursos das últimas AG, voltou a deixar claro que considera parvos, estúpidos, burros e sei lá mais o quê todos aqueles que não concordam com ele. Ah, cereja (estragada) no topo: depois de ter desafiado os Sportinguistas a deixarem de comprar jornais e a deixarem de ver estes canais, mostrou-nos que se há coisa que ele deve fazer, consecutivamente, é estar atento ao que se diz nestes programas de merda.

E, de merda em merda, face à presença de Bruno na Procuradoria-Geral da República e da indisponibilidade para reunir com os jogadores que, chegados de Madrid, queriam explicações, somos brindados com a resposta do plantel… nas redes sociais. Quem com facebook mata, com facebook morre, mas isto é tudo muito giro até representar um envergonhar extra do nome do Sporting. Um festim, um verdadeiro festim, com horas e horas e linhas e linhas e o raio que parta sobre o plantel estar a medir forças com o Presidente.

Mas, esperem, que isto não termina assim. Completamente descontrolado, Bruno escreve um post para os amigos, que depressa o entregam de bandeja aos inimigos e pouco demora até os cabrões dos print screens, técnica utilizada pelos yes boys que andaram, durante meses, a recolher o que se dizia na Tasca e em tantos outros pontos online de verde e branco pintados, estarem escarrapachados em todo o lado: “ai os meninos querem festa? Então estão suspensos todos aqueles que publicaram o comunicado nas suas páginas pessoais!”.

Ou seja, num momento em que a casa estava a arder, Bruno saltava cá para fora, em tronco nu e, de olhos esbugalhados, rega o incêndio com gasolina! Destas chamas, das quais saímos todos chamuscados (voltaram a cravar-se trincheiras, voltaram a criar-se rótulos para quem apoia cegamente e para quem discorda do presidente) e das quais o Sporting pode vir a sair bem queimado, não é preciso peritos para perceber de quem é a culpa. Ao longo de 24h, não houve quem tivesse pensado no Sporting! Não houve quem tivesse recordado o 3º mandamento, que diz: «Quando envergares a camisola verde e branca lembra-te que a colectividade te honra, distinguindo-te como seu representante. Faz, portanto, quanto possas para merecer a distinção conferida».

E agora? Agora, e antes que me esqueça, mando-vos a todos para o caralho! E antes que venham acenar-me com a merda do novo regulamento disciplinar que até mereceu uma merda de uma AG extra para satisfazer egos e reforçar poderes, tenham vergonha na tromba e percebam que, perante esse mesmo regulamento, vocês estariam todos suspensos, do presidente ao gajo que faz de pino nos treinos!

Depois, sejam homenzinhos! Pensem no Sporting! Pensem no Sporting e coloquem-nos onde ele deve estar: acima de tudo! A época não acabou e raios vos parta se esta vergonha que nos fizeram passar, não tenha como resposta um final de época em que o rugido do Leão faça eco em todo e qualquer campo! De caminho, leiam os mandamentos ou, pelo menos, metam este na cabeça: «Mesmo nos transes mais dolorosos conserva inabalável a fé nos destinos do Clube. O Sporting não pode retrogradar porque por ele pulsam em todo o mundo alguns milhões de corações!»

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