Com duas mãos cheias de condicionantes, o Sporting fez das fraquezas forças, enfrentou a história, encostou o Atletico de Madrid às cordas durante 45 minutos e só lhe faltou conseguir infligir o KO técnico aos espanhóis

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As primeiras palavras têm que ser estas: que grande jogo fez o Sporting! E, logo a seguir, com o seu quê de ironia: quem haveria de dizer-te que se tirasses o Bryan Ruiz perdias o meio-campo e o controlo do jogo?

A verdade é que foi mesmo aí, por volta dos 70′ minutos, que passou a sentir-se que seria muito complicado lá chegar. Quando o costa-riquenho saiu, mesmo cansado, era ainda por ele que passava todo o carrossel leonino e era dos seus pés, mesmo com perdas de bola por pensar demasiado com ela colada à chuteira, que saiam os lances com mais critério. Com Bruno Fernandes numa noite em que deixou a juba em campo, mas onde raramente tomou as melhores decisões, a equipa não só perdeu o farol, como ainda obrigou outro dos monstros da partida, Acuña, a ter redobrado trabalho para fechar o flanco esquerdo. Mas o argentino, cada vez mais a piscar o olho ao lugar de lateral e a sacar cruzamentos que parecem saídos da Playstation (aquele na primeira parte, da zona da bandeirola de canto, é impressionante), nunca virou a cara à luta, só sendo superado por Battaglia, que tem um pulmão extra e que perto dos 90 minutos ainda ensaiva desesperadas subidas lá à frente para criar desequilíbrios.

O quadro dos jogadores que mais se destacaram fica completo com Ristovsky, sentindo-se como peixe na água no 3-4-1-2 idealizado por Jesus (sempre bem a montar, sempre questionável a refazer) e varrendo todo o corredor direito, nomeadamente a nível defensivo. Mas, nesta noite de quinta-feira, mais do que individualidades, o Sporting soube ser uma verdadeira equipa. Patrício abafou quando teve que abafar (e ainda mandou aquele merdas do Diogo Costa para o estaleiro); Coates esteve em todo o lado e esteve tão perto de marcar, André Pinto começou nervoso, mas terminou seguríssimo; Petrovic rendeu o lesionado Mathieu e foi uma belíssima surpresa jogando no centro da defesa; Gelson correu até onde conseguiu, no final já fazendo todo o corredor, e só foi pena aquela cabeçada para as nuvens; Bruno Fernandes compensou em suor a falta de inspiração; Montero marcou um golo de elevadíssimo grau de dificuldade e fez um grande jogo como referência do ataque.

E se esta rapaziada acreditou, não menos acreditaram os adeptos. Muito ficaram em casa, entre chuva e a falta de crença (diria que estiveram cerca de 35 mil em Alvalade), mas quem lá esteve trouxe o espírito certo, enfrentando o cenário ao som da voz de Lorde, «We live in cities you’ll never see onscreen, Not very pretty, but we sure know how to run things, Livin’ in ruins of a palace within my dreams, And you know we’re on each other’s team…», enquanto puxava memórias de outras noites chuvosas, como aquele em que no velhinho Alvalade se virou o resultado frente ao Celtic. E não faltaram oportunidades para ir buscar a eliminatória onde alguns a julgavam perdida.

Logo aos 4 minutos, Battaglia foi à ala direita, flectiu para dentro e cruzou para uma cabeçada de Acuña que não passou longe. Era o primeiro sinal de uma equipa quase perfeita tacticamente, tanto na ocupação dos espaços como na ruptura dos mesmos, baralhando por completo a organização madridista e fazendo com que o guarda-redes fosse o melhor dos colchoneros, salvando, logo a seguir um golo que já se gritava quando Coates subiu mais alto que toda a gente e disparou para a baliza.

O Atletico, segundo classificado do campeonato espanhol, levava um verdadeiro banho de bola e ao longo dos primeiros 45 minutos não faria um remate à baliza, ao contrário dos Leões que, empurrados por um fortíssimo “nós acreditamos em vocês”, juntavam o crer dos atletas ao dos adeptos e estes últimos não faziam por menos, celebrando cortes, carrinhos, desarmes, recuperações como se estivessem lá em baixo. Veio o remate de Ruiz e veio mais um cruzamento incrível de Acuña, com o relógio a bater os 45′; Gelson está ao segundo poste e mergulha para a bola, só que a cabeçada sai tão alta quanto o bruá de desespero dos adeptos! Teria sido o final perfeito de uma primeira parte candidata a melhor primeira parte da época.

Os espanhóis regressaram com as linhas mais subidas e haveriam de rematar pela primeira vez perto dos 60′, num raio de um ressalto e já depois de Coates ter tentado uma bicicleta feita à entrada da área. Depois Coates meteria Fernando Torres no bolso com um enorme corte e viriam as duas últimas oportunidades leoninas: o remate em jeito, fraco, de Montero; a bomba cruzada de Bruno Fernandes, ambas para defesa de Oblak, antes de duas reais oportunidades de golo para os colchoneros, com Griezmann isolado na fase em que o Sporting já arriscava tudo.

Depois? Depois voltamos ao início desta crónica e repetimos «quem haveria de dizer-te que se tirasses o Bryan Ruiz perdias o meio-campo e o controlo do jogo?». Ah, e «que grande jogo fez o Sporting!». Tão grande, que ficas com a certeza que esta eliminatória estava ao teu alcance. Ou que tudo pode estar ao teu alcance, sempre que se jogue e se apoie assim.