A imagem de Bruno de Carvalho a saltar da bancada do Pavilhão Rocha para a quadra, na final do Campeonato de Voleibol é um momento de grande impacto e são 2 ou 3 segundos que me fizeram reflectir no que é, neste momento, o papel do nosso presidente na nossa conjuntura como clube.

Já é um facto, Bruno de Carvalho não se preocupa minimamente com protocolos e canons presidenciais. Institucionalmente e para quem se preocupa com as arquitecturas de carácter (ou personal branding como se diz agora), o nosso Presidente faz tudo ao contrario. Fala quando devia optar pelo silêncio, age quando devia especular, confronta quando devia flexibilizar.

Confesso que muitas vezes me baralha a estratégia, chegando muitas vezes a apostar que não existe nenhuma, mas a verdade é que, entre altos e baixos, Bruno de Carvalho, passa o teste do aftermath, não só conquistando terreno, como solidificando a sua forma de liderar.

Muitas vezes escrevendo muito mal sobre linhas direitas e tantas e tantas vezes escrevendo bem sobre linhas completamente tortas, esta presidência tem trazido um dado novo ao património do Sporting e isso é mesmo a única coisa indesmentível em todo este texto que estou a escrever: Bruno de Carvalho está lá, dando a cara, seja qual for o momento ou a dificuldade. Está lá, sempre.

E os Sportinguistas precisavam e precisam de alguém que sustenha uma bandeira. Somos todos leões de juba lustrosa, felinos e altivos, orgulhosos e territoriais…em casa. A verdade é que na hora de defender o clube na praça pública, cabe aos que menos poder têm para o fazer, chegarem-se à frente. Os “notáveis” e os “mediaticos” refugiam-se em lugares comuns e convocatórias à “ponderação” e “reflexão” deixando passar todos os argumentos de defesa pelos dedos das mãos, calejadas de “realismo político”.

O Sporting viveu demasiado tempo entregue a uma mecânica de subsistência, de pactos silenciosos como uma figura menor do nosso desporto. Passámos demasiado tempo na esperança e nos anos seguintes. Perderam-se as rotinas de sonhar, querer e fazer por ser Campeão. Mal ou bem, mas acredito que melhor do que pior, Bruno de Carvalho centrou sobre si mesmo uma visao diferente de Sporting. Este Sporting quer “agora” e não no próximo ano. Este Sporting luta “agora” e não adia para as calendas o esforço das decisões.

Os louros não serão só do Presidente e do Conselhor Directivo (e cabe-lhes dividir sempre que possam esse “prémio”) porque houve e há muita gente que fez muito para que o clube ressurgisse. Houve e há muita gente que também tem sabido entrar nesta nova dinâmica e penso que será de todo justo (e muito mais grandioso) que tenhamos bem presente no nosso consciente que um líder só o é de facto se existirem muitas outras pessoas que o apoiem e que lhe deem o espaço e condições para liderar.

Isso não retira métiro a ninguém, acrescenta. Tal como não retiraria nada ao discurso de BdC, o desaparecimento ou diminuição da eterna preocupação que revela sobre “o que os Sportinguistas acham” ou “o que os Sportinguistas entendem”. Antes de mais porque, nunca um grupo alargado de pessoas “acha” ou “entende” a mesma coisa sobre qualquer outra coisa. Segundo e porque mesmo que assim fosse, deveria tal facto interferir na gestão do clube? Dando um exemplo, deveria o Sporting não contratar o jogador A ou B se isso desagradasse aos adeptos, mesmo acreditando que isso seria uma mais valia desportiva?

Três ideias que gostaria de partilhar com Bruno de Carvalho:
1/ O universo leonino é composto por mil visões diferentes do que deveria ser o clube. Três mil sobre o que devia ser o Presidente. Dez mil sobre quem deveria ser o treinador e umas 40 mil sobre quem devíamos contratar para 2ª avançado. Esta divergência é porém especulativa e quase sempre inócua. Ter opinião não significa querer ter a responsabilidade na escolha ou na decisão. Significa apenas ter opinião.

2/ Nem todos os Sportinguistas “papam” o nosso retrato nos media. Lentamente, mas cada vez mais consciente, os leões trocam informação, partilham-na nas redes sociais, duvidam, questionam. Este entendimento do que são manobras de spinning e como está dividido o espaço mediatico, deixou de ser um mistério para muitos adeptos. Hoje, ninguém poderá desmentir o papel da comunicação social na construção de opinião sobre algo. Mas da opinião à decisão sobre algo em concreto, vai um passo complementamente diferente.
Um bom exemplo disto mesmo têm sido os resultados em AG’s e Eleições. Se os Sportinguistas fossem realmente uma massa com dificuldade em separar o trigo do joio, nunca BdC teria os votos que teve, nunca – acrescento – teria tido o apoio que teve, mesmo nos momentos em que o seu nome não saía de um turbilhão mediático negativo, fazendo capas de revista, jornais e TV’s, numa “parede” de destruição pessoal rara no nosso país.

3/ Acredito já há muito tempo que chegou o tempo de dar um novo passo no Sporting. Torná-lo mais eficiente, mais organizado, mais competente. Isto não significa que o que está a ser feito está mal ou é deficiente. Significa apenas que manifesto a minha esperança nas pessoas que lá estão para nos aproximarem desse próximo nível.

E não, não teremos de abdicar da paixão, do rigor e da transparência. Pelo contrario, podemos e devemos fazer dela o valor acrescentado no crescimento. Qualquer organização que gere confiança e consistência de atuação, cresce mais facilmente, qualquer produto que introduz granjeia mais simpatia e adesão. O crescimento do número de sócios é um retrato, o aumento do nº de gameboxes vendidas ou espectadores nem Alvalade e Pavilhão João Rocha é disso exemplo.

Mas podemos melhorar. Tal como melhorámos a equipa principal de futebol, a de andebol, vólei ou futsal, investindo. Gastando dinheiro, mas gastando-o com a melhor noção possível de retorno associado. Ao contrario de outros clubes, escolhendo os mais competentes e não os mais sabujos, os mais astutos e não os mais mediaticos, os mais “lucrativos” e não os que garantem mais votos numa eleição. Gastar com rigor. Gastar com transparência. Gastar para ganhar.

Como tem sido o modelo atual no futebol profissional, imagino eu, mas desta vez em quadros técnicos, em profissionais de marketing, em técnicos de bilhética, em médicos, preparadores, psicólogos, em contabilistas e advogados. Não conquistaremos tudo no agora, mas ganharemos muito nos amanhãs. Seremos o tal “clube exemplo de gestão” que tanto apregoaram do outro lado da 2ª circular. Mas desta vez real e não suportado por uma “estrutura” montada na arte da trapaça e distorção de leis e verdade desportiva.

Acredito que no dia em que o Presidente confie no “long term” da compreensão dos adeptos e assim que acelere este “choque profissionalizante” no clube e na SAD, as linhas tenderão a ficar mais direitas e a sua escrita, muito mais legível. A solução não é contestar e reagir a tudo e a todos, mas ganhar-lhes.

(PS: Ó Presidente, isto tem corrido tão melhor sem facebook…)

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca