Na AG de dia 23 de Junho, estará em jogo tanta coisa no futuro do Sporting que, não podem ser permitidas quaisquer dúvidas quanto ao que as duas partes, que defendem os dois cenários propostos (continuidade ou destituição), vão aferir do resultado das urnas. Para isso bastava que realizassem um compromisso pré-AG. É completamente urgente esta definição, até para que faça inteiro sentido a votação dos sócios. Se o CD não acatar o resultado da AG, impugnando-a ou a MAG prosseguir na suspensão dos sócios do CD, o dia 24 será exactamente igual aos anteriores, mantendo-se uma guerra civil absurda e estranguladora do futuro do Sporting.

Não consigo compreender como podemos continuar a permitir estes jogos, estes silêncios, estas costas voltadas ao sócios, estas recusas em esclarecer e dar à massa associativa todas as condições para poderem escolher. Na verdade o poder está cada vez menos na mão dos sócios, pois continuamos a permitir por inércia que agendas paralelas aos “superiores interesses do Sporting” se sobreponham ao que é a nossa legitimidade para governar os nossos destinos. Numa inspiração completamente oligárquica, afastamo-nos das decisões e levamos com pazadas de desinformação diárias, que nos consomem o discernimento e esclarecimento quanto ao que está em causa.

Assumo com plena convicção que sempre pensei ser necessária uma consulta aos sócios. Mas não desta forma. Atropelaram-se regulamentos de ânimo absolutamente leve, atiraram-se culpas de forma escandalosamente vil, contaram-se espingardas diariamente e muito poucos sequer hesitaram em jogar a reputação do clube e da SAD na lama, apenas para ganhar pontos percentuais na simpatia nos sócios. Como em qualquer guerra civil, as maiores vítimas não estão em nenhuma das facções, mas sim entre a neutralidade de opinião que se afunda no desespero de ter de escolher entre uma solução de continuidade ferida e a tentar resistir a um mundo de desvantagens e uma solução de ruptura completamente opaca e desprovida de qualquer sentido de legitimidade ética.

marta-soares

Na minha opinião, que respeito poder não ser a vossa, não vejo sequer um vislumbre de fiabilidade na massa de sócios que originou o súbito finca pé de JMS ou a definição do Conselho de Gestão e acho um profundo devaneio estatutário a manobra de suspensão de sócios do CD. Ouço muitos sportinguistas dar a estas pessoas o mérito de terem conseguido levar adiante a AG de destituição. Sinceramente não consigo defender “os males que vêm por bem”. Foram atravessadas várias linhas que não deviam ter sido atravessadas e se era para acreditar na PMAG como promotora de procedimentos que viriam a corrigir supostos abusos do CD, tal falhou redondamente ao ponto de, nesta altura, começar a temer bem mais a motivação de quem dá está a suportar esta MAG e CG do que tudo o resto que possa ter corrido mal no CD.

Sinto muitas interferências políticas, demasiadas ingerências financeiras, tremendas movimentações de pequenos grupos de associados que conquistaram na comunicação social um supersónico “estado de graça”. Se mais não houvesse a temer, bastaria a estranha empatia com JMS de figurinhas que assumem coisas como “eu farei sempre tudo para prejudicar o Sporting” para começar a entender de que lado se escondem as verdadeiras ameaças ao meu clube. Temo aliás que as suecas habituais de saudável convívio entre figuras do passado do Sporting e figuras do presente do Benfica, tenham sido capazes de parir a génese de muitas das aparições mais recentes de “notáveis”, alguns habitués da troca de campos ou saltos para comboios em movimento.

Recomendo a todos os sócios que tentem observar o futuro do clube e escolher o menor dos males, sabendo que esta AG de dia 23 não marca o fim da nossa crise, mas deve pelo menos marcar o primeiro passo para ser resolvida. O agora é decisivo e voltando ao inicio do texto, espero que JMS e BdC nos ajudem a escolher qual das linhas deve permanecer, manifestando o que farão no dia 24 em qualquer dos cenários. O Sporting não pode continuar desta forma e dê por onde der, a governabilidade tem de ser assegurada.

Um último pedido a todos: vão votar e ajudem na realização de uma assembleia sem provocações ou animosidade. Aquele momento apenas serve para debater e votar e é isso que devemos mostrar a todo o mundo que sabemos e fomos lá fazer. Respeitemo-nos como pessoas de ideias diferentes e posições distantes, mas amantes do mesmo emblema. No final, na segurança (espero) de que o voto foi soberano, aceitemos a decisão de todos e consigamos construir ou pelo menos não obstruir a que o Sporting continue.

*às quartas, o Zero Seis passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca