Ainda está tudo muito fresco, ainda dói muito a alguns, ainda será cedo para retirar todas as ilações do que aconteceu sábado passado na Assembleia Geral do nosso Clube. Permito-me sublinhar duas, que me parecem evidentes e serão, possivelmente, das mais importantes.

A vitória da Democracia
Num ambiente de grande crispação de muitos receios e imensas dúvidas, os sócios do Sporting Clube de Portugal compareceram em número impressionante e o que se temia poder constituir uma manifestação de intolerância e mesmo de confronto físico decorreu em ambiente de serenidade que insultos avulsos e mais ou menos audíveis não conspurcaram.

Num momento particularmente difícil e complicado para o nosso Clube, os sócios compareceram e disseram claramente o que queriam perante o cenário que lhes foi colocado. Quase 15 mil associados é espantoso, tanto mais quanto muitos deles fizeram centenas de quilómetros para exercer o seu direito e manifestar a sua opinião. Este facto enche-me de orgulho e satisfação por pertencer a uma associação que, assim, deu uma grande lição ao País. Mais que o resultado, mais que as percentagens, a afluência à AG é reveladora de quanto sentimos o Sporting e do que estamos dispostos, ordeira e democraticamente, a fazer por ele!

A derrota das ‘redes sociais’
O resultado final foi uma grande surpresa para a generalidade das opiniões que ouvi e li (e para mim). Sendo que no cenário de um clube, com diferentes capacidades eleitorais (leia-se número de votos) no universo dos seus sócios, é quase impossível realizar sondagens de opinião (ou sequer previsões ‘à boca das urnas’), a única forma de tentar ‘sentir’ as tendências de voto é ‘ouvir’ pessoas aqui ou ali.

As ‘redes sociais’ vieram, supostamente, facilitar esta possibilidade: estamos todos à distância de um ‘enter’, podemos alimentar debates simultâneos com pessoas em qualquer parte do mundo em tempo real e sem filtros. Seria o mundo perfeito (e a primeira vitória de Barack Obama na corrida presidencial veio alimentar significativamente este modelo). Todavia… as ‘redes sociais’ de hoje têm pouco a ver com as ‘redes sociais’ desse tempo de Obama. Então, as ‘redes sociais’ alimentavam-se e progrediam com base em pequenas redes interligadas e que, basicamente, correspondiam a pessoas de carne e osso unidas por um qualquer tipo de interesse comum.

Mas hoje essa realidade é apenas um parágrafo da história. De então para cá, as ‘redes sociais’ foram ‘descobertas’ como forma de ‘fazer amigos e influenciar pessoas’, ‘armas’ de ataque e defesa, instrumentos de condicionamento de opiniões, veículos de difusão de ‘fake news’, refúgio de quem tem dificuldade em encarar o mundo real… As ‘redes sociais’ de hoje servem mais a propaganda e o condicionamento do que qualquer outra função. Servem mais para procurarmos (e construirmos) o nosso ‘mundo’ do que para nos confrontarmos com a realidade: os nossos ‘amigos’ são apenas os que pensam como nós; os outros são o ‘diabo’.

A nossa Assembleia Geral de sábado veio deitar um balde de água fria em muitas ‘certezas’: o mundo é um local muito diferente do nosso ‘mundo’ cibernético… No próprio sábado, as ‘redes sociais’ davam uma vitória de cabazada ao ‘não’. O mundo, todavia, é um desmancha-prazeres…

ESTE POST É DA AUTORIA DE… ffigueiredo
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