Em fim-de-semana que marcou o arranque da Liga Revelação, do campeonato de juniores e do campeonato de juvenis (a Maria há-de contar-vos tudo ao pormenor), foi com redobrado interesse que li a entrevista dada por Virgílio, fazendo um ponto de situação em relação ao estado da nossa Academia.

Antes, no entanto, gostaria de chamar a atenção para alguns números que estiveram na base na criação da Liga Revelação, também conhecido por campeonato sub-23
– em 2017-18, a percentagem de portugueses entre os 19 e os 23 anos nas três provas nacionais, baixou consideravelmente. Na Liga NOS foi de 16,3%, na 2ª Liga foi de 15,7% e no Campeonato de Portugal de 8,7%
– os dados da FPF mostram uma taxa preocupante de desistências de futebol. Em cada uma das últimas três temporadas, cerca de 30 mil futebolistas, incluindo futsal, deixaram de ser federados. Este número é particularmente grave acima dos 18 anos: juniores A e seniores representam mais de 40% do total de desistências em 2017/18

virgilio

Atentemos, então, nas palavras de Virgílio, das quais destaco as seguintes passagens.

«Encontrei a Academia em muito más condições e ninguém me ouviu dizer que as coisas não estavam bem. Em primeiro lugar, a formação é um valor importantíssimo da marca Sporting e, portanto, nunca se deveria dizer publicamente algo que afectasse esse património»

«O que se faz hoje em Alcochete é o que se faz de melhor em Portugal e no Mundo. Uma coisa é não sabermos o que se faz ou como se faz, outra é não ter sido feito. Uma das razões que me levam a não querer voltar à Academia é achar que o meu trabalho está feito e há algo que me deixa muito satisfeito: ninguém sabe como está feito, como está organizado, quais são as estratégias que estão a ser seguidas. Quando cheguei, havia uma reunião de manhã e à tarde já estava tudo cá fora»

«Dizem que o Sporting nada ganhou no ano passado e que na época anterior tinha vencido em sub-17 e sub-19. Mas fiquei mais feliz este ano, porque se mostrou que nos escalões mais jovens, sub 14, 15 e 16, o Sporting tem os melhores jogadores e as melhores equipas. E tudo isso é fruto do trabalho destes cinco anos»

«Se continuarmos a trilhar este caminho, dentro de dois anos teremos todos os escalões com as melhores equipas e jogadores. Não tenho qualquer dúvida»

«Na minha opinião, naquilo que depende do clube existiu uma deficiente gestão das carreiras quando os atletas chegaram aos seniores. Compreendo perfeitamente a frustração manifestada por Matheus ou por Francisco Geraldes, pois depois de todas as provas dadas mereciam uma oportunidade de jogar no Sporting. Em 2013 o projecto era esse e eu continuo a pensar rigorosamente da mesma forma que pensava em 2011 e 2013»

«Não chega responsabilizar o treinador. Os plantéis são construídos de acordo com as orientações das administrações e treinadores, portanto há responsabilidade de toda a gente, incluindo minha que, se calhar, devia ter-me batido mais para que eles ficassem. No Sporting sempre houve aproveitamento dos jogadores de qualidade, mas nos últimos anos não aconteceu»

«Estas coisas não se traduzem em números. Tem a ver com a qualidade dos jogadores. Se existirem quatro para entrar, devem entrar quatro. Tem a ver com fornadas. E eu sei que nos próximos anos vão sair da formação excelentes jogadores»

«Chegou-se à conclusão que as equipas B não tinham futuro, até porque o processo formativo não tem continuidade na equipa B. Continua a haver necessidade de um patamar entre os sub-19 e o futebol profissional. Na segunda liga joga-se pouco futebol e os jogadores apenas crescem fisicamente, no combate. Mas o processo que ele assimilou… desapareceu»

«Há um aspecto em que o Sporting é claramente deficiente: as infraestruturas físicas. Isso tem a ver com o facto de ter sido a primeira Academia a ser construída e durante anos não ter havido investimento. Há dois anos, voltou-se a investir. Há uma série de projectos que estão em andamento – campos, balneários, instalações de apoio – mas é preciso ter dinheiro»

«Disponibilizei-me para falar com todos os candidatos, pois entendi que seria minha obrigação passar a informação de que disponho. Apenas um deles mostrou interesse e talvez por isso seja aquele que tem dito menos asneiras»

«Não vou envolver-me nas eleições, mas posso dizer que um candidato apresentou organogramas para futebol profissional, formação e recrutamento e no caso deste último está muito aquém do que temos neste momento. Esse projecto de alterações funcionais na formação está implementado a 80% e traduzia-se num acréscimo de 1 milhão de euros ao que já se gasta na formação, sendo que 60/70% dessa verba vai directa para o recrutamento. Esse departamento é hoje, muito provavelmente, o mais organizado do país. Está devidamente implementado sem que ninguém tenha dado por ele. Durante seis meses houve pessoas a trabalhar no terreno sem que os nossos rivais dessem por isso. E quando vejo propostas que representam metade do que está feito, obviamente que fico preocupado»