Na passada semana, coloquei a debate entre os tasqueiros a interrogação sobre o grau e modo de preparação do projecto do Sporting para manter a sua hegemonia no panorama do Futebol Feminino (e para ir consolidando alguma afirmação no panorama internacional). O debate, apesar de ainda limitado a poucos intervenientes, contou com alguns contributos e opiniões interessantes.

E, mantendo a boa tradição da Tasca, esses contributos e opiniões suscitaram alguma sadia polémica. Como também é tradição a Tasca voltou, então, a servir um bom petisco: “Salada de Lagosta Fingida”, em que as respostas à questão colocada, suscitaram novas questões então abordadas muito fugazmente, até porque, rapidamente, o interesse nas nossas meninas foi desviado (vá-se lá saber porquê) para as incidências do jogo de andebol que se disputava no Dragão Caixa. Mas acabei por perceber que, na origem do tal porquê de tão “desviante” desvio (passe o “pleonasmo”), não estava qualquer problema da qualidade técnica ou estética das meninas, nem qualquer afectação do gosto dos nossos tasqueiros: a “culpa” foi exclusivamente minha que “atrasei” o meu post da prevista 2ª Fª para uma 4ª Fª com noite de clássico (a meu favor, para além dos motivos do atraso, joga o facto de na dita 2ª Fª ter havido um SCBraga vs SportingCP na Pedreira).

De qualquer modo, e voltando às meninas (salvo seja), a principal polémica presente no debate então suscitado prendeu-se com a natureza “pouco física” da constituição do nosso plantel, a qual iria sendo relativamente suficiente para “consumo interno” (e cada vez menos, pois Braga e Benfica estariam a constituir planteis mais físicos que o nosso) mas que seria manifestamente insuficiente para competir externamente.

Na altura aduzi alguns contrapontos a esta teoria. Desde logo, o facto de termos dominado internamente os dois primeiros anos do nosso projecto, de tal forma clara que conquistámos os 5 troféus em disputa (nas séniores), sem uma única derrota! Isto apesar de o Braga ter investido muito mais que nós na constituição do seu plantel, com 7 estrangeiras (contra nenhuma no Sporting) e com uma média de alturas cerca de 8 cm mais alta que a da nossa equipa (e, no primeiro ano, até “perdemos” a capitã Patrícia Gouveia, uma das mais altas do plantel; na realidade, ganhámos uma leoazinha, pois a Patícia apenas “suspendeu” a sua contribuição futebolística, para levar a bom termo o seu PROJECTO MUITO MAIOR de ser Mãe)!

Depois o facto de, mesmo as 2 derrotas em 6 jogos que disputámos para a Champions (os outros 4 foram vitórias) apenas terem ocorrido nos últimos 5 minutos dos respectivos encontros, que dominámos claramente, na técnica e na velocidade.

Ou seja, a “limitação” física só o é (limitação), se não for compensada com outros argumentos e recursos, como a técnica, a velocidade, a raça, o espírito colectivo e o rigor táctico. Destes 5 recursos só tivémos desvantagem internacional no último, porque esse, a um nível de Champions, requer mais tarimba e experiência competitiva, a qual só se adquire com mais jogos internacionais.

Mas, tal como sucede com outro petisco da Tasca (“Pescadinha de Rabo na Boca”), é quase impossível nesta polémica atribuir razão a uns ou a outros argumentos. Por isso, a questão que agora coloco é: devemos abandonar, ou mesmo “apenas” “desvirtuar” o projecto do Sporting Clube de Portugal para o Futebol Feminino que assenta na Formação da Jogadora Portuguesa?

É que, ao contrário de Braga e Benfica, nós não investimos apenas na constituição de um Plantel Sénior altamente competitivo. O Sporting, logo no seu 1º ano de Futebol das Senhoras e das Meninas participou e ganhou todas as competições em todos os escalões oficiais da Modalidade em Portugal (Sub17 com um plantel com média de idades de 15 anos e em que o golo da garantia do título foi obtido por uma menina então com 13 anos; sub19 com um plantel com média de idades de 17 anos; séniores com um plantel onde havia titulares como a Joana Marchão, armas secretas como a Ana Capeta ou suplentes de luxo como a guarda redes Inês Pereira todas com idade de sub 19). No 2º ano acrescentou a esses plantéis um plantel de sub 14 que competiu no Distrital Masculino do escalão; não apenas foi a única equipa totalmente composta por meninas, como todas as outras apenas incluíram rapazes; e terminámos a meio da tabela, com resultados tão “surpreendentes” como a vitória por 8-1 ao Olivais e Moscavide; resta acrescentar que nesse nosso plantel havia meninas que iniciaram a competição ainda com 11 e 12 anos! Neste 3º ano, mantivemos todos os anteriores escalões e acrescentámos o de sub 23, a competir na 2ª divisão nacional, exactamente para dar continuidade à formação das sub17 e sub 19, que ainda não consigam entrar regularmente nas contas do plantel principal.

p.s. (continua significar post scriptum , não tendo, por isso qualquer conotação partidária): esta semana julgo não haver “argumentos” para desviar o debate para outros tópicos. A solicitação e o desafio que coloco aos tasqueiro é que acendam o rastilho da “polémica”, mas, SOBRETUDO, que participem mais no debate sobre algo que – acredito sinceramente – reflecte e valoriza na perfeição o ADN do nosso Clube: o “Futebol das Nossas Senhoras e Meninas”.

Saudações leoninas deste Tasqueiro e um abraço do Núcleo SCP da Ilha de Santa Maria.

* às segundas, o Álvaro Antunes faz-se ao Atlântico e prepara-nos um petisco temperado ao ritmo do nosso futebol feminino