Pura e simplesmente patético. É a única coisa que me apetece dizer do jogo do Sporting na Supertaça, bem como dos últimos meses de vida do nosso futebol sénior masculino. Para mim estas duas coisas não são dissociáveis e passo a explicar porquê.

Bem sei que há resultados desnivelados entre grandes clubes europeus, servindo como exemplo o histórico recente de jogos entre Barcelona e Real Madrid, sendo certo que este tipo de eventos pode ser motivado por causas estruturais ou por causas conjecturais. O que me preocupa, claro está, é saber se esta “manita” vermelha “é futebol”, como referiu o nosso ilustre Presidente, ou, se pelo contrário, existe algo de pior escondido, neste vilipendioso resultado.

Que fique bem claro que não estou preocupado com os atletas que compõe o plantel do Sporting. Já tivemos grupos de trabalho, considerados inferiores aos “favoritos”, a jogarem mais e melhor futebol, atingindo o título de campeão. No Sporting servirão como exemplo, ao longo dos nossos 22 títulos de campeão nacional, as épocas de 61/62, 79/80 ou 99/00.

Sendo assim, acho que o problema reside em dois polos que se conjugam, isto é, a pessoa do treinador e da sua equipa técnica e a direção que preside o nosso Clube.

Disclaimer – antes de me classificarem distou ou daquilo, quero referir que sou, apenas e somente, Sportinguista e nada mais do que isso. Se Frederico Varandas for campeão nacional, ficarei muito feliz por esse sucesso. Esta análise não corresponde a um grito de Ipiranga eleitoral, mas apenas a um exercício de critica.

Marcel Keizer – em torno deste treinador temos dados que são verdadeiramente curiosos. Com 50 anos de idade, treinou os seguintes clubes: UVS(Holanda), SV Argon (Holanda), VVSB Noordwijkerhout (Holanda), Telstar (Holanda), SC Cambur (Holanda, na qualidade de coordenador técnico), FC Emmen (Holanda), Ajax e Al Jazira (EAU). Repararam que na maior parte dos clubes tive a necessidade de indicar qual o país de proveniência de cada um?

Prosseguindo. Como podemos ver, Marcel Keizer tem uma modesta carreira pelo reino dos Países Baixos, sendo o seu ponto alto a passagem pelo Ajax de Amesterdão, clube do qual foi afastado. O simpático treinador Holandês tem dois troféus conquistados, ambos ao serviço do Sporting, mediante o desempate de grandes penalidades. Marcel não é ainda conhecido no Sporting – pelo menos até momento – por ter lançado jovens talentos, de modo claro e sustentado, sendo que as suas opções táticas oscilam muito, consoante as provas nas quais competimos ou mediante os adversários que enfrentamos.

Keizer também não é um feliz comunicador e motivador. Da sua expressão afável ouvimos normalmente um “passing not good” ou um “the time did well”, isto sempre com um curioso sotaque inglês, como quem fala e mastiga chucrute ao mesmo tempo, típico de quem é originário do belo país das tulipas. Marcel é de facto uma pessoa simpática, mas cujas ideias de futebol não percebemos nem conhecemos bem. Tanto aparece com um inovador 3-5-2, como muda tudo e salta para um típico 4-3-3, a jogar com um avançado móvel, apesar da falta de mobilidade dos nossos avançados.

Ora aqui reside um problema de maior relevância, uma vez que o campeão nacional de Portug@l, por norma, (i) joga bom futebol, (ii) marca muitos golos, (iii) sofre poucos golos, (iv) tem um plantel, que pode não ser vasto, mas é sustentado e (v) tem uma filosofia de jogo bem definida, que por norma se impõe aos outros e não o seu contrário.

No entanto, avancemos para a análise da direção. Neste ponto não quero tecer críticas personalizadas em determinadas pessoas. Quero apenas analisar tomadas de decisão adotadas por esta direção, apenas e somente, no âmbito da equipa de futebol masculino sénior do Sporting.

Como já constatámos, escolher Marcel Keizer para treinar o Sporting foi, no mínimo, uma decisão estranha. Não tem currículo, não tinha troféus e não lhe é conhecido nada de inovador, marcante ou revolucionário no futebol. No entanto, Keizer atingiu o terceiro lugar, após bater um Braga a precisar de um verdadeiro Salvador – e não deste Salvador – conquistando ainda dois troféus.

Peço perdão pelo que vou dizer, mas não consigo adotar o mindset do que o “Sporting realizou a melhor época dos últimos 17 anos” ou de que “foi um ano difícil e duro”.

2018 foi difícil, com certeza que sim, mas mesmo nesse ano, o clube conquistou muito coisa relevante para a sua história e, na verdade, preocupa-me mais um clube com modalidades a fechar, em sétimo lugar, sem dinheiro e a vender jogadores para pagar salários, do que um clube magoado por uma crise diretiva interna grave, a lidar em simultâneo com rescisões de jogadores e a estranha invasão da nossa academia.

No primeiro cenário temos um problema estrutural, no segundo, um cenário conjetural grave, que se deveria ter resolvido nas eleições.

Avançando. Esta direção decidiu manter Marcel Keizer e dar-lhe confiança. Sou daqueles que entende que despedir Peseiro foi uma ótima decisão – e sinal de inteligência do Presidente – no entanto, contratar Keizer e mantê-lo foi o inverso e passo a explicar porquê.

O Presidente do clube é o grande responsável por impor e incutir uma mentalidade nos seus associados e atletas. Se queremos um Sporting Europeu, conquistador e o maior de Portugal, temos de comunicar isso, diariamente, com palavras, mas também com gestos. Temos de investir em atletas com qualidade; temos de escolher treinadores de projeto, que venham dar algo ao Clube e também ao campeonato, isto é, verdadeiros “misteres” que pensem futebol e que sejam mais inteligentes do que os treinadores dos rivais.

Sejamos francos – é difícil ter um treinador, já não digo melhor, mas de qualidade igual à de Sérgio Conceição e de Bruno Lage? Devemos aceitar esta “manita” como normal, quando somos derrotados por uma equipa que a meio do jogo lança o Taarabt, o Chiquinho e o Jota? E já agora e o Nuno Tavares?

Pois… a diferença entre esta “manita” e entre um Real Madrid 2-6 Barcelona, reside no facto dos primeiros perderem um jogo contra Henry, Messi, Eto’o, Xavi e Iniesta – apenas para citar alguns.

Nós nem conseguimos se quer igualar a qualidade do futebol gerado por Florentino, Gabriel e Pizzi, esse trio maravilhoso que vai dominar o futebol europeu, desde a velha Lusitânia até ao Mar Cáspio.

Frederico Varandas não está preocupado, mas eu estou. Estou preocupado porque o Presidente deve ter um discurso que repudie e combata este tipo de eventos, em vez de os justificar ou de os “aconchegar” na alma.

Não estou a dizer que devemos ofender publicamente jogadores e treinador, mas há muitas formas de marcar uma posição e quem é Presidente do Sporting tem de ter a inteligência necessária para o fazer.

Ao invés, somos brindados com uma mensagem confusa, inócua e subjetiva. “Não estejam preocupados porque que eu também não estou” – da mesma forma que um presidente não pode passar o dia no Facebook a enxovalhar tudo e todos, também não pode ser um “ente” frágil e vulnerável, numa das funções de maior relevância do seu cargo – ser a cara do Clube na rua, marcar o ritmo, a exigência e os objetivos do mesmo.

Esta época começa mal e com dois defeitos – um que reside em quem define as prioridades e como as comunica, outro que reside em quem executa as mesmas. O treinador e a sua equipe técnica não dão sinais claros de terem a qualidade necessária que se impõe, enquanto a direção gere o silêncio quando não deve e quando se impõe falar, fala de modo amorfo e confuso.

Por fim, uma palavra de esperança para todos nós. O Sporting é uma associação, por isso vive dos seus associados. Felizmente – e ao contrário do que possa parecer – considero que nos últimos anos o clube mudou na sua massa associativa. Mais acordada, mais ativa e reativa, mais reivindicativa e mais exigente, mais orgulhosa de si.

Perdoem-me o calão, mas somos o Sporting porra! Levámos 5 agora? Levámos pois, mas eu já estou a pensar nos 5 que quero dar na luz, nas goleadas que quero aplicar no hóquei, nos títulos de futsal que vamos festejar no Media Market, nos sets em que gritamos “virooouuuuu” no PJR, nos triplos que vamos encestar e no contorcionismo dos nossos magos do andebol. Somos o Sporting e a nós, só nos é admissível vencer!

ESTE POST É DA AUTORIA DE… Bucefalus, the Great
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