O que faltou em inspiração sobrou em transpiração. Foi essa a receita para o Sporting regressar às vitórias na visita a Vila das Aves, num jogo com pouco brilho, mas onde se atingiu o essencial para uma equipa agarrada a traumas e a meses de preparação duvidosa

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Ao assistir ao Aves – Sporting dei por mim a pensar no filme Trainspotting e a olhar esta equipa que carrega as nossas cores como um viciado, um dependente de uma droga maldita que lhe foi injectada ao longo de anos, com doses cada vez mais fortes. E, dois dias depois de ter começado a experimentar um novo tratamento de cujo sucesso não existem garantias, prescrito por um médico capaz de errar nove em cada dez vezes que toma uma decisão, o nosso TrainSporting lá foi para campo.

Silas, o tal tratamento experimental, recuperou a titularidade ao azarado Coates, ofereceu a canhota da defesa a Borja, deu a titularidade a Eduardo ao lado de Doumbia e experimentou uma frente de ataque com Vietto, Bolasie e Jesé, deixando Acuña e Wendel no banco.

E, logo aos quatro minutos, um grande susto: na sequência de um canto, Rosier desviou de forma inadvertida ao primeiro poste para a barra da baliza de Renan; na recarga, Rúben Oliveira falhou por pouco e deixou os jogadores leoninos a olhar uns para os outros, como que temendo que a visita ao último classificado resultasse em mais um enorme passo rumo à morte por overdose.

E até final da primeira parte, o Sporting apenas conseguiu criar perigo em remates de longe, com destaque para a bomba de Eduardo à trave, ali pelos 25 minutos. No resto do tempo, muita posse de bola (70% posse de bola, 86% eficácia de passe), mas uma lentidão de processos na primeira fase de construção e uma confusão futebolística nas acções ofensivas, onde a insistência no corredor central fazia com que Vietto nem aparecesse e Bruno Fernandes desaparecesse, até porque Jesé era e é um total corpo estranho dentro de campo e dificilmente se afirmará como referência ofensiva.

Ao intervalo, Silas tentou experimentar trocar o futebol apoiado, à espera de movimentações dos homens da frente, por um futebol mais directo. Foi pior a emenda que o soneto e acabou por ser o Aves a criar os dois primeiros lances de perigo do segundo tempo, através de Welinton e Mohammadi. Jesé, completamente alheado da partida, deu o seu lugar a Luiz Phellype, Wendel e Acuña, em gestão de esforço, saltaram lá para dentro, mas a inspiração tardava em aparecer. Sobrava a transpiração e foi num desses momentos de mais em esforço do que em jeito que Bolasie foi carregado dentro da área.

A sete minutos dos 90 o Sporting tinha oportunidade de ouro e Bruno Fernandes não desperdiçou, dando aos Leões a possibilidade de saborear algo que não saboreavam há mais de um mês: uma vitória. O que esta equipa conseguirá fazer com ela neste longo e penoso processo de recuperação é algo que continuaremos a ver na próxima quinta-feira.

Ficha de jogo
Desp. Aves-Sporting, 0-1

7.ª jornada da Primeira Liga
Estádio do Clube Desportivo das Aves, na Vila das Aves
Árbitro: Carlos Xistra (AF Castelo Branco)

Desp. Aves: Beunardeau; Jailson (Bruno Xavier, 83′), Mato Milos, Dzwigala, Afonso Figueiredo; Falcão, Luiz Fernando; Rúben Oliveira, Enzo Zidane, Mohammadi (Rúben Macedo, 80′) e Welinton (Peu, 88′)
Suplentes não utilizados: Aflalo, Hélder Baldé, Bruninho e Estrela
Treinador: Augusto Inácio

Sporting: Renan; Rosier, Coates, Mathieu, Borja (Acuña, 77′); Eduardo (Wendel, 70′), Doumbia, Bruno Fernandes, Vietto; Jesé Rodríguez (Luiz Phellype, 61′) e Bolasie
Suplentes não utilizados: Luís Maximiano, Neto, Miguel Luís e Gonzalo Plata
Treinador: Jorge Silas

Golo: Bruno Fernandes (83′, g.p.)
Ação disciplinar: cartão amarelo a Luiz Fernando (18′), Rúben Oliveira (85′), Wendel (86′), Dzwigala (87′) e Rosier (90+4′)