A festa começou animada, foi perdendo gás e acabámos de mão estendida e língua de fora. E no meio de tantas travessuras, valeu-nos a ridícula doçura de um adversário para amealharmos mais três pontinhos. É a crónica do Paços vs Sporting

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Desconfio que por esta altura, Fernando Santos é um gajo atento a Jorge Silas. A arte de ganhar sem nada ou a pouco jogar não está ao alcance de todos e a verdade é que o técnico leonino parece dominar a arte com muito menos anos de banco do que o seleccionador nacional.

E o início de jogo parecia indiciar precisamente o contrário. Frente a um Paços que regressou à primeira com um plantel de segunda, ainda por cima sem poder contar com os dois centrais que são habitualmente titulares, o Leão atirou-se ao castor e durante 20 minutos os rapazes de camisola amarela ficaram enfiados no seu meio-campo, sujeitos a levar um, dois, três golos. Só entrou uma das bolas, ali pouco a seguir aos dez minutos, depois de passe perfeito de Bruno Fernandes, que mesmo com um olho à belenenses conseguiu ver a desmarcação do camisola 29 e permitiu a finalização com estilo de Luiz Phellype.

Foi, realmente, um início promissor. Com apenas duas alterações na equipa (Ristovsky no lugar de Rosier, Luiz Phellype no lugar de Bolasie), o Sporting entrou a pressionar alto, linhas subidas, capacidade de recuperar a bola no meio campo adversário e de rodá-la de pé para pé. O golo foi tão natural como foi surpreendente o que se passou a seguir. Em vez de carregar sobre um adversário à beira do ok, o Leão encolheu as garras, desceu as linhas e limitou-se a gerir o jogo a meio-campo. Um longo bocejo de 25 minutos, até Rui Costa, rapaz que puxa da cartolina amarela com a facilidade com que todos estes rapazes puxam da cartolina amarela para os jogadores do Sporting, apitar para o intervalo.

E se a coisa estava pouco entusiasmante para os Leões que se mantinham firmes, à chuva, no apoio à equipa, quase se transformou num filme de terror logo após o recomeço. Bruno Santos obrigou Renan a enorme defesa e deu o mote para o que aí vinha: o Paços subiu as linhas, matou a primeira fase de construção leonina (ou a saída dos centrais, pelo menos) e o jogo mudou radicalmente. Vietto e Jesé desapareceram ainda mais do jogo, Bolasie entrou em modo Chapitô, Eduardo e Doumbia pareciam peças de dominó a serem derrubadas a cada novo assomo pacense e o nosso único real sinal de vida veio de uma correria louca de Ristovsky que terminou numa bomba que daria um golaço. Na área contrária, a nossa, veio um canto, veio a não acção defensiva, veio o posicionamento patético de Renan. Golo do Paços, marcado pelo gajo referenciado no bloco de notas (Gabriel Alves é que sabe!).

Imagino a quantidade de palavrões que Silas terá dito, ele que na antevisão tinha deixado claro que “Quando chegámos, a nossa preocupação era a nível defensivo e ainda está a ser. Precisamos de estabilizar a equipa, porque os golos pesam muito. Temos 14 golos marcados e dez sofridos. Dez sofridos nesta altura é muito para uma equipa que quer lutar pelo título. O primeiro e segundo classificados têm três e quatro, nós temos dez”.

Passou a onze. E ali estávamos nós, a vinte minutos do fim, empatados com uma equipa das mais fracas desta liga. Pior, ali estávamos nós, a vinte minutos do fim, empatados com uma equipa das mais fracas desta liga e com toda a gente a ver que os castores tinham muito mais força nas pernas para correr até final, como se os nossos jogadores tivessem parado a caminho de Paços de Ferreira e passado a noite anterior numa qualquer casa da mãe Kikas.

Mas as coisas são como são e futebol é isto, já diria Fernando Santos. Estar vivo é o contrário de estar morto, já diria Lili Caneças, e a seguir ao Halloween vem o Dia de Todos os Santos, disse o catrapila Luiz Carlos, que não foi de modas e deu uma mãozinha travessa a um Sporting que ainda está para saber como saiu desta noite das bruxas com a juba apenas molhada e com três chupa chupas no bolso.

Não é preciso dar muito
O que conta é a intenção
Pão por Deus é hoje o dia
Abra a casa e o coração

Ficha de jogo
P. Ferreira-Sporting, 1-2
9.ª jornada da Primeira Liga

Estádio Capital do Móvel, em Paços de Ferreira
Árbitro: Rui Costa (AF Porto)

P. Ferreira: Ricardo Ribeiro; Bruno Santos, Bruno Teles, André Micael, Reabciuk; Diaby (Douglas Tanque, 58′), Luiz Carlos, Pedrinho; Hélder Ferreira (Zé Uilton, 65′), Welthon e Murilo (Dadashov, 81′)
Suplentes não utilizados: Simão Bertelli, Jorge Silva, Rafael Gava e Bernardo Martins
Treinador: Pepa

Sporting: Renan; Ristovski, Coates, Mathieu, Acuña (Tiago Ilori, 88′); Doumbia, Eduardo; Bruno Fernandes, Vietto; Jesé Rodríguez (Bolasie, 65′) e Luiz Phellype (Borja, 81′)
Suplentes não utilizados: Luís Maximiano, Neto, Miguel Luís e Rafael Camacho
Treinador: Silas

Golos: Luiz Phellype (11′), Douglas Tanque (74′) e Bruno Fernandes (79′, g.p.)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Murilo (29′), Ristovski (43′), Diaby (49′), Acuña (60′), Pedrinho (60′), Hélder Ferreira (62′), Coates (64′), Doumbia (69′), Luiz Carlos (76′), Borja (84′), Renan Ribeiro (88′) e Eduardo (90+3′)