Exibição esmagadora do Sporting, tanto na pressão constante que permitia recuperar a bola, como na vertigem ofensiva em que os 4 marcados podiam ter sido oito. Sporar, João Mário e Tiago Tomás entraram de início e a equipa transfigurou-se para melhor, dando aos adeptos leoninos uma noite de sono como há muito não tinham memória

Sporting`s players celebrate after scoring the 3 - 0  lead against CD Tondela during the Portuguese First League soccer match at Alvalade Stadium in Lisbon, Portugal, 01 November 2020.  ANTONIO COTRIM/LUSA

Sporting`s players celebrate after scoring the 3 – 0 lead against CD Tondela during the Portuguese First League soccer match at Alvalade Stadium in Lisbon, Portugal, 01 November 2020. ANTONIO COTRIM/LUSA

Pai, hoje é que era fixe estarmos no estádio!“. Não sei se vos aconteceu o mesmo, mas as palavras da minha filha já tinham passado pela minha cabeça mesmo antes de serem ditas. Além disso, e não sei se também partilham esta sensação, depois de tanta oportunidade de golo, o festejo do primeiro de Peter Potter saiu em forma de rugido bem sentido e bem diferente de quando resulta de um futebol chato.

Mérito os jogadores e mérito do trinador, que foi capaz de abandonar a teimosia táctica depois de ver que a mesma o estava a levar para um beco de onde poderia ter dificuldade em sair. Sporar apareceu na frente e a equipa passou a ter uma referência ofensiva. Tiago Tomás voltou à titularidade e a equipa juntou inteligência à vontade. João Mário ocupou o lugar de Matheus Nunes no meio campo e a equipa passou a ter um maestro e uma dimensão da qual acabaria por beneficiar, em muito, Pedro Gonçalves, cujo nome aqui escrevo só para não dizerem que estou sempre a chamar-lhe Peter Potter quando nem sei se o rapaz gosta da alcunha tal como fiz com João Mário que ainda hoje é apelidado de Pantufas quando se calhar até anda sempre descalço em casa.

Mas foi com pantufas de classe e magia com total liberdade que o Sporting encostou o Tondela lá atrás desde o primeiro minuto, até porque nas costas daquela gente que, com a ajuda de um incrível Nuno Mendes que por certo faria o Cafu exclamar “aquele ali sou eu dji pé esquerdo!”, ia criando situações de golo consecutivas, existe um rapaz chamado Palhinha que teve que escrever o seu próprio guião até perceberem que a sua vida é vestido de Leão.

Com tudo isto, aos 37 minutos Pedro Trigueira já era o guarda-redes com mais defesas feitas nesta jornada, num verdadeiro massacre aos beirões que começou com uma perdida incrível de cabeça, por Coates. Depois foi Porro, depois foi Tiago Tomás, depois foi Peter Potter com uma cueca pelo meio. A única coisa que irritava era a incapacidade dos centrais saírem a jogar, optando invariavelmente por bolas longas que obrigam um gajo a ficar calado para não passar por mal educado.

Pior ainda a vida do Tondela, que aos 20 minutos de jogo já tinha perdido seis ou sete bolas no seu primeiro terço de terreno e praticamente não conseguia respirar. Nuno Mendes tentava à bomba, de pé direito, Sporar simulava deixava passar para Potter, que via o redes voltar a brilhar, depois Nuno Mendes tentava com o esquerdo e João Mário com o direito. Até que, mesmo e cima do intervalo, chegou a justiça: cruzamento de Porro, Sporar falha o desvio ao primeiro poste e Pedro Gonçalves aparece ao segundo a cabecear, fazendo o quarto golo em três jogos.

Tendo-lhe tomado o gosto, o Leão não esperou muito para pregar nova dentada. Grande lançamento de Porro para a desmarcação de Sporar e o avançado a assistir na perfeição o bis de Peter Potter! Aos quatro minutos do segundo tempo o Sporting matava o jogo e avançava para deixar o adversário ko, pese o esboço de inconformismo que acabou com um golo bem anulado ao Tondela.

Veio o remate do Tiago Tomás, depois veio uma perdida incrível do Sporar, depois um golo anulado ao Pedro Gonçalves e o Sporting passava a ser a primeira equipa a ultrapassar a marca de 10 remates enquadrados em jogos da Liga NOS 20/21. Falavam era mais golos para dar brilho a esse vendaval de ataque.

Sporar voltava a desperdiçar, Porro estrear-se-ia a marcar. Grande golo do lateral espanhol, a rematar na passada depois de assistência de Nuno Santos, que tinha entrado com Matheus Nunes para o lugar de Tiago Tomás e de Palhinha. E foi já com Jovane também em campo que o Sporting chegaria ao quarto, por Sporar, num golo que se espera dar-lhe a confiança que parece faltar.

No final, o técnico do Tondela diria que “dá gosto ver o Sporting jogar”, enquanto Amorim diria «tal como fiz após o jogo com o Lask, já disse aos jogadores para amanhã não lerem jornais. Vão dizer que é tudo bom e eles vão pensar que são melhores do que realmente são”. Se calhar bastava ter pegado nestas declarações e tinha a crónica escrita, mas tinha mesmo que dizer-vos que that’s the way i like it, uh-huh uh-huh!