No fim de semana passado, realizou-se a Taça Hugo dos Santos ou Taça da Liga, caso prefiram. No ano passado, fomos eliminados nas meias-finais pela Oliveirense, que acabou por vencer essa edição.
Este ano, a Oliveirense ficou de fora, devido à grande prestação que o Imortal está a fazer no campeonato. Recordo os distraídos que os 4 primeiros classificados no final da 1ª volta do campeonato ficaram imediatamente apurados para a final four da Taça Hugo dos Santos, que se realizou em Sines. Na final four (meias-finais), o Sporting, 1º classificado, ficou emparelhado com o Imortal, 4º classificado, e o Porto, 2º classificado, ficou emparelhado com o Benfica, 3º classificado.

O Sporting entrou para esta final four da Taça da Liga algo (para não dizer muito!) debilitado. Fields lesionou-se na FIBA Europe Cup e vai ter uma paragem de 2 semanas. A somar a isto, Cândido Sá também estava lesionado e não pôde dar o seu contributo nestas competições. No último jogo da Europe Cup já não jogou e o Sporting ressentiu-se na importante luta do jogo interior e nas tabelas.

O Imortal, sabendo disso, colocou Dominic Robb no seu 5 inicial (ele que habitualmente é suplente), começando assim com dois postes de início – Dominic Robb e Tyere Marshall. A Intenção? Fazer ao Sporting aquilo que o Sporting tão bem faz aos outros: carregar no jogo interior e, com isso, ganhar espaço no jogo exterior (um dos pontos fortes do Imortal). A realidade foi outra bem diferente, sobretudo no 1º período, porque não resultou! O imortal abandonou a sua matriz de jogo e nunca se conseguiu encontrar com o seu lançamento. A defesa do Sporting chegou para as encomendas e foi sempre bastante agressiva a contestar os lançamentos adversários (que terminaram com 9% de lançamento de 2 pontos no 1º período e 15% no 2º período). Ganhámos o primeiro período por 20-11. O Imortal abandonou a sua estratégia e regressou às origens. DJ Fenner “pegou” no jogo e os triplos começaram a cair e lentamente foram recuperando no marcador, tendo mesmo passado para a frente já no final do 3º período, fruto de uma atitude defensiva completamente diferente na 2ª parte. O Sporting atacava de forma muito atabalhoada, sobretudo sempre que Shakir coordenava o ataque.

Na realidade, pareceu-me sempre que o Sporting tentou gerir o esforço de forma a não se desgastar muito, mas, quando se apercebeu, o Imortal estava por cima e foi preciso puxar dos galões no 4º período para ganharmos este jogo. No final, perdemos a luta dos ressaltos, por 42-37, mas ganhámos o jogo por 79-67!

No dia seguinte, defrontámos o FC Porto na final. O Porto é uma equipa bem trabalhada ofensivamente (já disse isso anteriormente), mas isto tem custos e é, por isso também, a equipa dos 4 grandes que menos lançamentos efectua no jogo. Segundo estatísticas da Liga Placard, o Porto faz 60,17 lançamentos de média por jogo (lançamentos de 2 e 3 pontos). A Oliveirense faz 68,11, o Benfica faz 68,35 e o Sporting faz 70,75 lançamentos por jogo! Este ataque mais lento e trabalhado do Porto tem também custos nos pontos marcados, com o Porto a ser a equipa, entre os 4 candidatos, que tem pior média de pontos marcados, 80,62 ppj, contra os 82,82 ppj da Oliveirense, 88,87 ppj do Sporting e 89,47 ppj do Benfica.

O Sporting, num jogo de 40 minutos, consegue efectuar mais 10 lançamentos por jogo que o Porto e consegue-o, graças a um jogo mais simples, rápido e vertical no ataque ao cesto, aproveitando sempre que pode as saídas para o contra-ataque. Eis um pequeno exemplo de uma jogada simples, em que, após um bloqueio, o Sporting coloca o defensor em dúvida sobre a ajuda no jogo interior, onde a sua equipa tem desvantagem, ou marcar mais em cima o homem que tem a bola na linha dos 3 pontos.


O defensor fica a meio caminho e o lançador ganha o espaço necessário para lançar. Ataque rápido, simples e eficaz.

O Porto entrou para este jogo com uma missão clara: aproveitar a vantagem que Eric Anderson tinha sobre Claúdio Fonseca no jogo interior. E aqui, volto a focar na questão da ausência de Fields, pois, socorrendo-me das estatísticas presentes no site da FPB, verifico que o Benfica tem uma média de 37,82 ressaltos por jogo, o Porto de 43 rpj, a Oliveirense de 43,94 rpj e o Sporting, com Fields, lidera esta estatística com uma média de 45,5 ressaltos por jogo.

Estes foram os 5 iniciais:
Diogo Ventura, James Ellisor, Travante Williams, João Fernandes e Cláudio Fonseca, pelo Sporting.
Brad Tinsley, Francisco Amarante, Larry Gordon, Miguel Queiroz e Eric Anderson, pelo FC Porto.

O Sporting fez um fantástico primeiro período, porque, defensivamente, conseguiu uma grande entreajuda e rapidez nas trocas defensivas que o ataque do Porto obrigava a defesa do Sporting a fazer. O Porto atacava de forma mais lenta e como o Sporting era rápido nessas mesmas ajudas, conseguia suster o ataque do Porto, que também falhou todos os 5 triplos que tentou converter.
Eis um pequeno exemplo da excelente rotação defensiva, esta por acaso já no início do 2º período, mas foi um dos melhores exemplos que me lembrei.

No final do 1º quarto, ganhávamos por 23-9! Quem só viu este período do jogo e viu o resultado final perguntou-se: Como é que fomos perder este jogo? Eu respondo… Do outro lado, estava uma equipa à séria e não um grupo de pinos! O Porto ajustou o seu ataque, tornando-o mais rápido com a entrada de Jalen Riley. O pequeno americano ia criando desequilíbrios no 1×1, que, por sua vez, acabavam por criar desequilíbrios na defesa. O Porto ia conseguindo fazer entradas para o cesto que, ou davam em falta ou cesto na área pintada, ou davam bons lançamentos exteriores que o Porto começou a converter. Luis Magalhães tentou várias hipóteses para marcar Riley – Ellisor, Shakir e até Amiel. Nenhuma resultou na perfeição e o Porto foi recuperando no marcador… O Sporting, até esta altura, ia conseguindo suster o jogo interior do Porto, mas, como os triplos do Porto começaram a cair, o Sporting viu-se obrigado a esticar a sua defesa até à linha exterior. E aqui começaram os nossos problemas.

Devido à falta de opções, Claúdio Fonseca viu-se obrigado a jogar muitos minutos (32 neste jogo) e isso acabou por enchê-lo de faltas, que foi tentando gerir. Verdade seja dito o Porto também o “atacava” sempre que podia. No entanto, chegou a um ponto onde Cláudio ficou com 4 faltas e aqui haviam duas soluções: ou Magalhães o tirava de jogo e colocava João Fernandes a poste (sendo que o João já tinha 3 faltas e era necessário para combater o Tanner McGrew) ou deixava Claúdio em campo e ia tentando controlar os danos. E assim foi…
O problema é que Eric Anderson é um poste forte fisicamente e sabe fazer uso do seu corpo para ganhar a posição. E foi isso que fez. O Porto espaçava bem o seu ataque e com alguns bloqueios, ajudavam Eric Anderson a levar invariavelmente Claúdio Fonseca muito para debaixo do cesto, de tal forma que, a partir desse ponto, Cláudio já nada poderia fazer se o seu adversário recebesse a bola.

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É muito mais difícil jogar frente a um adversário que seja mais forte fisicamente e que sabe usar o seu corpo do que um que seja mais alto, mas menos pesado, porque, na luta pela posição, o mais pesado ganha quase sempre. E depois estanca os pés e é como os burros – dali ninguém os tira! É um pouco semelhante à luta pelo ganho de posição dos pivôs no andebol. E deixem que vos diga, esta luta desgasta imenso! Desgasta bem mais do que andar a fazer piscinas de um lado para o outro.

O que poderíamos ter feito para combater isso? Bem, primeiro o Claúdio poderia ter tentado defendê-lo pela frente, tentando “empurrá-lo” o mais para o fundo do campo possível. Dessa forma, como era mais alto e estavam mais próximos da linha final, retirava-lhe a hipótese de os adversários lhe efectuarem um passe bombeado para as suas costas, porque não tinham espaço para isso (um pouco como as equipas de futebol com centrais lentos jogam com o bloco defensivo mais baixo para não levarem com bolas nas costas). A outra hipótese era Claúdio defendê-lo sempre de lado (“os livros” mandam um jogador que defenda a estar sempre entre o seu atacante e a tabela defensiva), com um braço esticado, de forma a desaconselhar os portistas a fazerem um passe interior, com medo de que o mesmo fosse interceptado por Cláudio. A última opção que me ocorre para que o Porto não conseguisse colocar a bola em Eric Anderson, na situação da foto, era todos os outros jogadores do Sporting pressionarem imenso os jogadores do Porto, de forma a que não conseguissem fazer o passe para o colega, mas com bloqueios e afins, esta tarefa é dificílima! A última hipótese seria o Sporting passar para uma defesa à zona, porém, sendo bem defendida, o esforço seria maior e abriria espaços na linha exterior.

Com isto e com os triplos de Riley e Tanner, o Porto ia conseguindo marcar com regularidade. Como defensivamente estavam muito agressivos e taparam os caminhos para o cesto do jogo mais individual do Sporting, nós fomos perdendo a vantagem, até que passamos para uma situação de desvantagem. Shakir Smith volta a entrar no jogo, mas em modo FIBA Europe Cup e, com a ajuda de Catarino, que entrou cheio de vontade e estava também com uma percentagem altíssima de lançamento, conseguem manter o Sporting na corrida.

Se no 3º período entrámos muito mal, no 4º foi a vez do Porto. Shakir e Catarino voltaram a colocar cerca de 10 pontos de vantagem para o Sporting e o Moncho López viu-se obrigado a parar a partida. Até à entrada de Shakir e Catarino, na parte final do 3º período, o Sporting tinha apenas 2 pontos a vir do banco (feitos por Micah Downs), enquanto que o Porto tinha 29! O Sporting, após este timeout, voltou a estar vários minutos sem concretizar e o Porto voltou a recuperar no marcador, fazendo uso da fórmula utilizada anteriormente – o jogo interior de Eric Anderson. Foram vários os cestos conseguidos pelo norte americano, até que Cláudio faz finalmente a sua 5ª falta, a cerca de 3 minutos do fim do jogo. Quando Cláudio sai, sai também Eric Anderson. A sua missão tinha chegado ao fim! A poste ficam João Fernandes, do lado do Sporting, e Miguel Queiroz, do lado do Porto. Jogadores menos altos ou poderosos fisicamente, mas muito mais agressivos que os seus colegas que saíram. O Sporting ainda ganhava por 63-60.

E aqui surgiu, a meu ver, um erro por parte da equipa técnica. Travante Williams tem estado muito infeliz e irregular ultimamente. É certo que, na primeira parte, fez 11 pontos (muitos deles no fantástico 1º período), mas nesta 2ª parte estava muito marcado pela defensiva do Porto, em especial por Larry Gordon, e tinha marcado apenas 2 pontos em toda a segunda parte. Aliás, já estava no banco há imenso tempo… Este ano, o Sporting passa muito do seu jogo ofensivo por Travante e as equipas sabem disso e defendem de acordo. Como o Sporting esteve mal ofensivamente grande parte do jogo, Catarino, até mais que Shakir, nunca deveria ter saído! Aliás, o mesmo já tinha acontecido na FIBA Europe Cup. Se acham que o Ruben Amorim é teimoso, o que dizer de Luís Magalhães?!

O Sporting, com o marcador próximo, continuava a recorrer a jogadas individuais, sobretudo através de Travante, que queria lutar sozinho contra o mundo, ao invés de tentar desequilibrar colectivamente. Resultado? Não correu bem, obviamente! Com o jogo empatado a 65, a 56 segundos do fim, o Porto pede um timeout. Quando o jogo recomeça faz um triplo! Querem melhor resultado para um timeout? Não conheço! Nós ainda conseguimos marcar 2 pontos e, depois de uma perda de bola do Porto no ataque, Ellisor vai determinado para a área pintada fazendo uma bandeja para depositar a bola no cesto, mas eis que surge Larry Gordon e dá-lhe um abafo monumental e impede o Sporting de passar para a frente por 69-67, a cerca de 15 segundos do fim. Este lance defensivo valeu-lhes a vitória. O Sporting viu-se forçado a parar o relógio fazendo faltas e o Porto fez aquilo que lhe competia: colocou a bola num jogador com boas percentagens de lançamento na linha de lance livre.
Apesar disto, o Sporting ainda não estava morto e teve uma última oportunidade para empatar o jogo. Travante sofreu falta num lançamento de 3 pontos e teve oportunidade, se convertesse os 3 lances livres, de empatar a partida, a 3 segundos do fim. Mas falhou o segundo lançamento e o destino do jogo ficou selado…

Resultado final, derrota do Sporting por 68-72.
Conseguem adivinhar o MVP da partida? Esse mesmo, Eric Anderson que terminou com 18 pontos e 10 ressaltos!
Acabámos por perder na luta dos ressaltos por 35-32, bem como nas assistências, onde fomos goleados por 24-12, e nos pontos na área pintada por 36-26. Tivemos 17 pontos a vir do banco contra os 37 do Porto. Perdemos em toda a linha estatística, excepto nos turnovers e roubos de bola, 15-18 e 8-6 respectivamente. Parabéns ao Porto, porque foi inteligente e soube adaptar-se melhor às incidências do jogo, bem como explorar melhor as fraquezas do Sporting.

A recente derrota frente ao Imortal fica para outras núpcias, porque merece um destaque próprio. Saudações leoninas!

*quando o nosso Basquetebol entra na quadra, o Tigas dispara um petisco a saber a cesto de vitória sobre a sineta