Podíamos falar de muita coisa, relativamente ao sunset de ontem à noite. Da apresentação sem ponta de brilho ao vazio de alma em que se transformou a curva sul; do chumbo que parecia estar agarrado às pernas dos jogadores à leveza que fazia Porro voar pela ala; da apresentação da terceira camisola que se queria ser um momento exclusivo dessa tarde, mas cujo vídeo já andava a circular nas redes sociais e até na Sporttv; do ir a jogo em esforço do Ugarte ao tão injusto que foi Tabata só entrar aos 85′; do estranho desastre que foi o jogo de pés do Adán ao desastre que foi a nossa primeira parte.

E é precisamente nessa primeira parte, e no que aconteceu na segunda, que quero focar-me.

Vamos ser sinceros: o que se viu ao longo dos primeiros 45 minutos, foi um filme já visto frente a Ajax, Dortmund (na Alemanha) e City. Um filme que, disse-o Amorim repetidamente, tinha permitido crescer e aprender, colocando em cima da mesa, inclusivamente, a possibilidade de alterar o desenho táctico.

Ontem, o 3-4-3 surgiu exactamente igual, esperando por uma arrancada de Porro ou de Matheus Nunes para conseguir sair do espartilho imposto pelo adversário. Acontece que Lopetegui lançou Rakitic e Oliver na primeira linha de pressão e o Sporting, para piorar as coisas, ainda acumulava perdas de bola na tentativa de jogar desde trás. Chegou a ser deprimente ver a equipa andar 45 minutos a cheirar a bola, ao ritmo do adversário (a sorte é que o Sevilha tem a sua maior força fora do último terço do terreno).

Do intervalo, nada de novo. Quer dizer, Morita já estava em campo, porque Ugarte foi a jogo já com queixas e não aguentou. E que bem joga o japonês, parecendo saber quase sempre o que fazer à bola e, principalmente, a melhor forma de entregá-la jogável, mas… o desenho era exactamente o mesmo e os primeiros sinais de “sacudidela da pressão” só se foram notando à medida que o Sevilha, com menos quase dez dias de preparação, ia mexendo na equipa.

Até que… até que Amorim decidiu mudar realmente. Edwards e Rochinha entraram para os lugares de Trincão e de Matheus Nunes e, com isso, Peter Potter recuou para o meio-campo. Cinco minutos, cinco minutos foi quanto bastou para o jogo se agitar. A cueca, seguida de algodão doce que Edwards desperdiçou, o remate em arco que seria golo de bandeira, o enorme lance que permitiu isolar Paulinho para o golo.

A pergunta que se coloca é, e agora?

A descida de Potter, num meio campo a dois no miolo, algo que me parece mais do que suficiente para a maioria dos jogos na nossa Liga, coloca em causa a titularidade de Matheus Nunes, mas pode dar à equipa aquela velocidade de processos e aquele repentismo que ajuda a desbloquear blocos baixos.
Mas aquilo que aconteceu ontem, pode ser ainda mais importante em jogos contra equipas como o Sevilha, ou jogos da Champions, se preferirem. Insistir no erro de oferecer o meio campo à pressão adversária começa a ser algo injustificável, e se a dúvida reside em desfazer os três centrais, então que se opte por um 3-4-1-2, com Potter a ser o homem mais adiantado e mais solto do meio-campo, jogando atrás de dois homens da frente.

Estou muito curioso para ver as cenas dos próximos capítulos.