No regresso a casa, o Sporting sarou definitivamente as feridas abertas pelo desaire frente ao Chaves, goleando um Portimonense com alma pequena. Amorim rodou a equipa e ganhou em toda a linha, numa tarde em que se voltou a jogar à luz do sol e onde as duas únicas notas “não” foram a lesão de Neto e mais uma assistência abaixo dos 30 mil

Há quem ache que isto é conversa de chalupa, há quem garanta que é prova de estarmos a lidar com gente mal intencionada, mas eu, como gajo que preserva memórias de idas à bola de há mais de trinta anos, estou-me literalmente nas tintas: chegar a Alvalade com o sol a queimar a pele é um regalo para a alma. Tal como a magoa, perceber que há cada vez mais quem vá ver o Sporting como se fosse ocupar o seu lugar em qualquer outro evento de lugar marcado, não admirando que, depois de um brilharete na Champions e com a partida a começar às 18h, tenham estado menos de 30 mil nas bancadas. Como a maioria acha que está tudo bem e que são dois temas que não vale a pena discutir, siga para o jogo.

Quarta feira houve Frankfurt, terça feira há Tottenham, por isso Neto, Ricardo Esgaio, Nuno Santos e Rochinha saltaram para o onze, dando descanso às pernas de Pedro Porro, Matheus Reis e Ugarte (as de St. Juste decidiram meter baixa por elas próprias). Do outro lado, o Portimonense esteve-se nas tintas para o facto de vir de quatro vitórias consecutivas ou para o facto de até se apresentar com mais cinco pontos do que o Sporting na tabela classificativa: Paulo Sérgio recuperou a fórmula utilizada em Alvalade na época passada, assumindo um bloco baixo e uma linha defensiva com seis homens, com a diferença (ui), de apostar no 6-3-1 em vez de ser no 6-4-0.

Acontece que o Sporting marcou cedo, ali por volta dos sete minutos, na sequência de um canto, quando Trincão mandou uma trancada de ressaca na bola e a deixou em rebolation encostada à rede. Acontece que, quando estas equipas que só pensam em defender, levam um golo cedo, raramente conseguem mudar o chip e ficam expostas à sua própria pequenez de espírito. Foi o que aconteceu aos algarvios, com o extra do treinador, o sempre mal disposto Paulo Sérgio, ter resolvido tirar Gonçalo Costa (miúdo formado em Alvalade, assobiado por alguns imbecis, talvez os mesmos que, há uma semana, no Estoril, não perderam a oportunidade de enxovalhar Chico Geraldes), para colocar um avançado que, a cinco minutos do intervalo, teria um passe despropositado para o meio, interceptado por Edwards, que rapidamente lançou Rochinha para corrida e assistência perfeita para nova trancada de Trincão. 2-0, numa altura em que o rapaz do apito, cara nova nestas andanças, começava a somar pontos à sua carta de recomendação, disparando amarelos na direcção de tudo o que vestia de verde e branco.

Na segunda parte, pouco ou nada mudou, com nota negativa para as lesões de Inácio (não pareceu preocupante) e de Neto (vamos lá ver se não fica de fora até ao Carnaval…). Amorim viu-se obrigado a mexer mais cedo do que pensava, e começaram a entrar alguns indiscutíveis, como Porro ou Ugarte, sendo de sublinhar a boa entrada de Sotiris, rapaz que poderá dar-nos uma dimensão física extra no meio campo.

Com tudo isto, vieram mais dois golos. O primeiro, num cruzamento de Porro para uma cabeçada de Pote que contou com o ressalto num defesa para ir lá para dentro. O segundo, numa bela jogada, em que Trincão recebeu à direita, Pote apareceu entre o central e o lateral para, com um toque de classe, meter na entrada e o remate de Nuno Santos. 4-0. Só depois disso, o Portimonense fez mira à baliza de Adán, ainda que uma mira à imagem da pobreza de espírito apresentada.

Terça feira há mais, num grau de dificuldade imensamente superior, mas com a certeza de que a tarde de ontem serviu para sarar as feridas da derrota com o Chaves e de que, jogo a jogo, esta equipa vai juntando os cacos e tornando-se num conjunto bem mais consistente.