Num jogo entretido para quem vai à bola vê-la rolar só porque sim, com sete golos a animar as bancadas, o Sporting, em ritmo baixo, conseguiu superar no ataque os golos que foi oferecendo na defesa, com Trincão a ser a figura de um jogo que teve momentos que chegaram a parecer uma brincadeira de férias da Páscoa

Já vamos ao jogo, porque os espectadores são parte fundamental do mesmo e, ontem, voltaram a ser tratados de forma ridícula por uma Liga que diz ter como objectivo levar cada vez mais famílias aos estádios. Muito provavelmente, na cabeça de Pedro Proença e dos restantes engravatados que não fazem a mínima ideia do que essas mesmas famílias gostam e querem, ter apenas uma bilheteira aberta e fazer com que, por volta da meia hora de jogo, ainda estivessem pessoas a entrar, faz parte do plano para atingir esse objectivo.

Ora, essas pessoas não viram dois golos, até porque o primeiro tornou-se no festejo mais rápido de 22/23, com Pote a aproveitar o facto dos jogadores do Casa Pia ainda estarem a espreguiçar-se para ir por ali fora e servir Trincão, que entrou na área e disparou para o 0-1, aos 17 segundos.

Pela minha cabeça, e, acredito, pela de vários Sportinguistas, passou a imagem daquela goleada ao Bsad, no mesmo estádio do Jamor, em 2019, quando Bruno Fernandes fez um hattrick e o Sporting venceu por 8-1, aproveitando o facto do adversário ter ficado reduzido a 10 por volta dos 20 minutos. Puro engano, pois a partida tornou-se numa verdadeira brincadeira de putos, só que em vez de ser a caça aos ovos era ver quem oferecia o choco surpresa mais recheado de disparates.

Matheus Reis foi o primeiro a entrar em cena, numa brincadeira junto à linha que terminou com um cruzamento para a área onde Coates e Diomande andaram aos papéis onde estava desenhada a tentativa de fora de jogo. 1-1, aos sete minutos, e estava lançado um jogo a fazer lembrar tantos outros do Sporting esta época, que ajudam a explicar o quão paupérrima tem sido a mesma: disparates atrás de disparates na defesa, deixando aos tremeliques uma equipa que lá na frente tem gente virtuosa, sem que exista uma ou duas figuras para quem meter a bola na baliza seja como beber água. Resultado? Vitórias à rasca, sempre resultantes de inspiração individual, neste caso tendo em Trincão a figura maior, bem secundado por um Pedro Gonçalves sem medo de correr ao sol.

O nipónico Soma aproveitou nova perda de bola para obrigar Adán a ir ao relvado, Chermiti deixou o redes lá deitado, mas não foi capaz de ter força para concluir o lance no ombro a ombro com o defesa. O mesmo Chermiti viu um remate ser cortado quando se encaminhava para a baliza, antes de Trincão voltar a entrar em cena, agora com o seu melhor pé, o canhoto, num remate em banana com a curva perfeita. 1-2 a cinco minutos do intervalo, e a cinco minutos de nova oferta verde e branca: pressão com os olhos, mais um cruzamento para a área, confusão dos diabos, Adán safa a primeira, Nuno Santos tem azar e no carrinho com que corta a bola leva a que a mesma bata nos pés de Soma e entre na baliza. 2-2 mesmo antes do apito para o intervalo.

Amorim tirou Reis, Diomande e Chermiti, metendo lá para dentro Juste, Inácio e Morita, com o samurai a ocupar o lugar de Pote no centro do terreno, dando liberdade ao 28 para subir no terreno. A estratégia não podia ter corrido melhor, pois logo aos dois minutos da segunda parte, Morita foi por ali fora e lançou Pote, dizendo-lhe para nos recordar aquilo que tão bem sabe fazer: respirar em momentos de pressão quando a baliza já é opção, e meter a redonda lá dentro com toda a delicadeza. 2-3.

No lado contrário, a brincadeira continuava, e Esgaio não quis ficar atrás de Reis no que toca a oferecer, esperando até aos 62 minutos para ficar a ver Lelo cruzar para a área, Coates falhar e Felippe Cardoso fazer o 3-3 e confirmar que, a sete jornadas do final, o Sporting já tem mais três golos sofridos do que em todo o campeonato anterior.

O tal Cardoso haveria de ser uma das figuras da partida, pois entrou aos 56, viu um amarelo aos 59 por entrada dura sobre Coates, marcou aos 62 e aos 64’, depois de falta sobre Pote, viu o segundo amarelo e foi expulso. Uma expulsão forçada, diga-se em abono da verdade, mas típica no nosso campeonato.

O Sporting tinha 25 minutos, mais descontos, para ir para cima de um adversário reduzido, procurando o golo da vitória, e, para não variar, a solução foi colocar Coates a ponta de lança. Como é que podemos falar em falta de poder de fogo quando, ao fim de três anos, a nossa solução para desbloquear jogos continua a ser colocar o Coates a ponta de lança?, é a pergunta que deve ser feita, pois ninguém no seu perfeito juízo pode achar isto normal…

Fatawu, que não joga na Champions dos putos porque ia ser aposta na equipa principal, continuava a assistir a tudo de fora, Rochinha, que muitos diziam ter ficado fechado num cacifo, foi chamado e acabou por dar à equipa uma genica extra, com constantes mudanças de direcção e futebol a pedir passes curtos em apoio. Num desses lances, a bola chegou a Pote, que levantou a cabeça e, já que Coates lá está, meteu a bola na direcção do uruguaio. Coates sofreu penalty, mas a bola sobrou para Trincão, que de primeira fez o primeiro hattrick da sua carreira, oferecendo os três pontos ao Sporting e mantendo os Leões ligados ao ventilador na perseguição ao terceiro lugar.

Na antevisão, Amorim havia dito que quem desligasse corria o risco de não jogar com a Juventus. No final, recordando essas palavras, e obviamente descontente, ironizou dizendo que, se levasse à linha o que havia dito, “se calhar contra a Juventus jogava o Adélio (treinador adjunto)”. Fica tudo dito, certo?