Depois da injusta derrota em Turim, Alvalade engalanou-se na esperança de uma viragem na eliminatória. No final, o exasperante 1-1 atira os Leões para fora da Liga Europa e oferece aos verde e brancos um mês de competição onde o único objectivo passou a ser respeitar o símbolo que carregam ao peito  

Enquanto me encaminhava para a saída do Estádio, ainda com a cabeça a mil de frustração e de irritação, dei por mim a escutar as várias opiniões que iam sendo largadas ao vento, numa análise ampliada quando, em massa fomos obrigado a parar para passar aquelas intermináveis obras no metro.

Foi precisamente enquanto coleccionava essas ideias soltas, que esta crónica começou a ser escrita, a custo, num sentimento que, mais do que causado pela derrota, foi causado por ideias como…

“como é que o Coates falhou aquele remate?!?”
é verdade, ficámos todos de mãos na cabeça, de mãos nos olhos, de olhos no céu, de boca aberta. Mas, não deveríamos antes perguntar, o que aconteceria se em vez de um defesa central, ali estivesse alguém cuja função e melhores argumentos seja meter a bola na baliza? Alguém, nem que fosse um Koke! Só que… não há, não faz falta, porque temos o Paulinho, o Chermiti e quando estamos à rasca metemos o Coates que é o melhor cabeceador da equipa. Às tantas, alguém vai lamentar que a bola não tenha sido cruzada para a cabeça do capitão, porque aí é que tinha sido e tínhamos ido a prolongamento!

“o outro cabrão tirou a bola em cima da linha…”
pois tirou, e, imagine-se, outra vez com o Coates a fazer o papel que deveria ser feito por alguém contratado para esse efeito. Meu rico Sebastião, que além de limpares tudo atrás, ainda tens que ser o matador da equipa. “E se corre bem? redux”

“os italianos tinham a equipa toda a defender”
é verdade, nomeadamente nos últimos quinze minutos de jogo, onde abdicaram completamente de atacar, mas não nos esqueçamos do início da segunda parte, onde subiram linhas e bem que nos mataram as transições e a capacidade do Morita e do Ugarte irem lá à frente. E o que é que nós fizemos para contornar aquilo que eles estavam a fazer? Zero! Aos 60 minutos, já eu berrava para o Amorim mexer na equipa, já eu exigia um ponta de lança em campo, no lugar do patético Trincão, já eu perguntava que merda está cá a fazer o Belerín se não tira o lugar ao Esgaio, já eu desesperava com os minutos a passar e nem um sinal de querer mudar o que quer que fosse, quando Fatawu e Arthur no banco podiam ter dado uma dinâmica diferente às alas, jogando de fora para dentro. Qualquer coisa, mas esse qualquer coisa não aconteceu

“voltámos a falhar golos de baliza aberta”
dois em itália, dois em Alvalade. Podemos juntar-lhe o momento do Esgaio em que podia ter virado um cisne, mas preferiu continuar um pato desengonçado. É muita coisa, nomeadamente a este nível e frente a uma equipa que, viu-se, pouco falha quando tem possibilidade de marcar. Mas será que alguém reparou que as oportunidades maiores e o desacerto na defesa italiana, só apareceram quando, a mal ou a bem, já havia um ponta de lança em campo? Pena ter entrado tão tarde, não é?

“tivemos tantos cantos e os gajos é que marcaram”
é de arrancar os cabelos, não é? Isso é pormenor que se trabalha nos treinos, mas tirando a cabeçada do Diomande, ainda na primeira parte, não me recordo de termos transformado esses lances em algo a cheirar a golo. Quanto ao golo deles, para lá do “galo” de dois dos nossos chocarem cabeça com cabeça, alguém percebeu a tremideira em que estava o Adán? Inacreditável, o receio que o levou a não ir a mais do que um cruzamento que andava ali pela pequena área. Eliminatória para esquecer do espanhol…

“viste o banco deles e viste o nosso?”
então não vi. Aliás, estou a ver a desgraça que foi a preparação desta época desde Agosto. No fundo, nenhum de nós devia estar espantado com o facto de, a cinco semanas de terminar a época, estarmos a jogar sem qualquer objectivo de conquista.

“o Ugarte é brutal!”
concordo. Tão brutal que, muito provavelmente e sem a ida à Champions, vamos ter que vendê-lo. Aliás, é bom que nos preparemos para o que pode vir por aí, sem a qualificação para a prova que dá dinheiro a sério. Mas, sim, o Ugarte é brutal, o Morita também fez dois jogos tremendos, o Diomande impressiona por se estar nas tintas para o craque que tem que marcar, o Coates esteve imperial na defesa e por um bocadinho voltava a ser herói. Uma palavra para o Edwards, sozinho na tarefa de ir para cima dos adversários, de fintar, de desequilibrar, de ser o gajo que faz a diferença. Foi quase sempre através dele que a equipa se espreguiçou e fez a velha senhora tremer, sendo normal que, a dada altura, o oxigénio lhe faltasse e acabasse a perder-se em fintas.

“o árbitro foi uma vergonha e deu poucos descontos”
foi realmente curioso observar a mudança de comportamento do senhor do apito, do primeiro para o segundo tempo, passando a pactuar com perdas de tempo e com manhosices italianas. Eu continuo a ficar bem mais irritado quando me lembro do tempo que levámos a mexer na equipa…

Falta falar-vos na cereja no topo do bolo, certo, que me foi dada a provar já no carro, através do rádio. Aquela cena do Leidson, do Derlei e do Slimani não terem sido campeões. Só faltou falar do Bas Dost, para eu ficar com a certeza que, afinal, estamos no caminho certo, e que não precisamos de um goleador para voltar a ser campeões. Está lá quem já foi, se calhar regressa outro, e até aposto que o Fatawu vai explodir para o ano, que daqui a pouco nem joga na Champions dos putos porque está a ser trabalhado para fazer a diferença na equipa principal. Vai ficar tudo bem (coloquem vocês o arco íris, pode ser?)