«É preciso ter atenção, porque quando introduzimos avançados temos de deixar a equipa preparada para tal. Tínhamos o Capel e o Carrillo, não podíamos ter quatro jogadores lá na frente, pois isso iria desequilibrar a equipa defensivamente. Primeiro preparámos a equipa, para depois entrar o Slimani e terminarmos o jogo em 4x4x2. A nossa mudança tem a ver com aquilo que vimos dentro de campo. Temos de perceber se há condições para tal. Não vale a pena ter dois avançados se não os podemos alimentar. Mas na segunda parte estava propício a tal e, com a qualidade que temos, resolvemos a nosso favor»

As palavras são de Leonardo Jardim, no final do jogo de Guimarães, quando questionado sobre o porquê de Slimani ter entrado tão tarde. E são palavras que se percebem ou, se preferirem, é uma explicação que se aceita. Mas, a verdade, é que o argelino entrou, agitou o jogo (com a ajuda de Mané e Salomão, sim) e decidiu, reforçando a sua candidatura à titularidade.

Sejamos pragmáticos: neste momento, por aquilo que tem feito, Slimani justifica a titularidade; neste momento, existe uma menor capacidade dos extremos colocarem bolas à medida de Montero; neste momento, há uma clara menor produção de André Martins. Mas, mais importante ainda, neste momento é inquestionável que a equipa se transfigurou com Slimani ao lado (ou à frente) de Montero e que foi assim que conquistou pontos frente a Marítimo e Guimarães (e que só não seguiu em frente na Taça, porque foi impedida à lei do sopro).

E é este último dado que faz questionar um argumento: o sistema táctico, 4-3-3, está enraizado e é com ele que chegámos onde chegámos. Está visto que não é totalmente verdade, certo? E está visto que a fluidez desse mesmo 4-3-3 tem vindo a ter alguns engasganços, certo? Mas achas que o Jardim não tem razão no que diz?, podem perguntar-me vocês. Bem pelo contrário, acho que ele tem razão. Os equilíbrios são fundamentais numa equipa e, Jesus que o diga, isto de jogar como se estivéssemos num campeonato de PES é meio caminho andado para podermos lixar-nos.No entanto, também caberá a Jardim a tarefa de, entrando com Slim de início, preparar a equipa para esse desenho táctico.

E é aqui que entra André Martins, à partida condenado a saltar do onze para a entrada de do avançado argelino.Poderemos nós, de forma a manter o tal equilíbrio, utilizar Martins como interior direito / falso extremo, por exemplo, um pouco à imagem do que aconteceu no jogo frente à Fiorentina (é uma pena Magrão não mostrar argumentos para fazer parte dos planos, pois poderia ser a tal peça de equilíbrio)?

Estamos, sem margem para dúvidas, perante a primeira grande dor de cabeça para Leonardo Jardim, nesta tarefa de escalar um onze e gerir um plantel. Até porque, e no meio de tanta pergunta, há mais duas a fazer: será que podemos prescindir de um trunfo no banco que, de cada vez que entra, abana os sistemas defensivos contrários e, verdade seja dita, já começa a ser um ataque psicológico a essas mesmas defesas (foda-se, vem aí o homem bomba!)? Mas, a manter esta veia goleadora, até quando conviverá bem Slimani com este papel de suplente de luxo, mantendo o impressionante espírito com que entra em campo, faltem 30 ou faltem 10 minutos para o apito final?