O Ricardo Sampaio vai à sua caixinha de memórias e até nos oferece uma foto emblemática.

 

001Deixem que vos apresente um resumo do “meu” Sportinguismo e a forma como cresceu este sentimento inabalável de posse quando se fala do SPORTING CLUBE DE PORTUGAL.
Como já referi aqui algumas vezes, a minha infância foi vivida longe do José Alvalade (Do novo e do velhinho), muito longe… demasiado longe, diria eu. Não tive tios nem vizinhos facciosos e “doentes” que tentassem viciar-me, levando-me a jogos de bola do GRANDE num qualquer Domingo à tarde. Nem a treinos nos pelados do velho estádio para depois esperar junto à mítica 10-A os craques de forma a sacar-lhes um rabisco mágico na camisola. Muito menos acompanhar jogos das modalidades na Nave… Nada disso. Nem podia! Pudera…

Longe, muito longe daqui… Em Puerto La Cruz (há poucos kms de Barcelona, cidade onde nasceu o nosso Leo Jardim!), Estado Anzoátegui, Venezuela, nascia o “meu” Sportinguismo… sim, são mais de 6300 kms de distância do “epicentro” do universo verde-branco. Ainda assim, muito longe da vista, e apesar da tenra idade, foi-se instalando o bichinho perto do coração. Tudo começou com uma viagem do meu pai a Portugal, de onde trouxera uma réplica da verde-branca (comprada nalguma feira, imagino eu). Vocês nem imaginam que raio de tecido era aquele… a memória não me trai: É lixado! Para o clima nos trópicos, aquela malha era tramada… e picava na pele. Enfim, tinha tudo para eu não querer vestir aquela indumentária. Que puto o faria? Mas aquele Leão fascinava-me… aquele símbolo, pá… aquelas riscas, pá… tudo aquilo mexia comigo! Vestia aquilo com orgulho e em locais algo inesperados (vejam lá a foto… deve ter cerca de 30 anos, certamente).

Não me lembro de ver um jogo que fosse do Sporting, lá na Venezuela. Pela TV, claro. Tenho uma vaga ideia, mas não me recordo disso. Mas tenho sim, memória, das manhãs de Domingo! Muitas delas, geralmente de 15 em 15 dias, às 11h/12h lá pegava eu na minha “Blue Bird 86”, uma bmx cromada, bem bonita, muitas vezes de verde-branca vestida, para fazer 3 quarteirões de forma a chegar à Arepera habitual (Arepera era uma espécie de “tasco” onde se comiam arepas e outros pratos típicos da zona… ). Entrava sempre pelo armazém e lá ficávamos a ouvir os relatos. Obviamente havia mais portugueses lá. E assim nascia uma paixão, entre pilhas e pilhas de grades de Pepsi Cola, Maltín Polar, Cerveza Polar, com relatos de coisas que eu nem entendia muito bem (entenda-se que na Venezuela o desporto rei era o baseball!) mas que era apelativo… era um ritual que mantinha com o meu pai.
Saí da Venezuela em 89… 24 de Junho. Ficou lá uma infância muito bem vivida, apesar dos problemas sociais que já se faziam sentir. Um dia lá voltarei para matar saudades de tudo aquilo. Adiante…

De lá para cá muitos anos se passaram.
Vivi a frustração dos natais infames que teimavam em ceifar os nossos intentos, conseguindo sempre as vitorias morais do melhor futebol jogado no final de cada época. Não vi Manuel Fernandes, Jordão ou Oliveira, mas ainda vi grandes jogos de Douglas, Luisinho, Leal… vivi a caminhada excelente na UEFA do Marinho Peres até às meias finais onde caímos contra o Inter de Matthaus, Andreas Brehme, Klinsmann e companhia. A mesma época das 11 vitória consecutivas… Equipa onde despontava, esse sim, um SENHOR: Krassimir Balakov! Quem o viu jogar, sabe do que falo. Vivi tragédias ao longe (ia para a escola ainda de manhã quando as lágrimas me correram a face ao ouvir pelo rádio o acidente do Cherbakov. Pela televisão entrava-me a imagem do varandim que caiu no dia em que Bobby Robson confirmou ser campeão em Alvalade… pela “equipa visitante”) e ao perto, muito perto (A morte de Rui Mendes na final da taça… vinha no mesmo autocarro que eu, numa excursão do Núcleo da Mealhada… mas não voltou comigo, vitima do inexplicável).
Poucos sucessos desportivos. Muito poucos, diria eu, mas sempre com aquela esperança renovada todos os anos que as vitórias viriam para o ano seguinte.

Vivi grande alegria no Jamor, em 1995. A primeira Taça que vi ganhar ao vivo! Iorda fez questão de marcar um golo de frente para mim. Gritei e vibrei com desconhecidos que viviam aquilo que eu também vivia. Assim como vibrei em 2000 pelas ruas de Coimbra, com a conquista dum titulo cheio de Esforço, Dedicação e Devoção. Eu e todo um pais… todo um mundo verde vibrava, porque não. Um mar verde como nunca antes vira. Vivi também tristezas… 2005 é um marco nesse sentido: Perder o titulo contra os vermelhos e cair daquela forma em casa contra uns russos manhosos, depois de mais uma épica caminhada uefeira foi duro. Mais ainda quando ao intervalo tínhamos uma das mãos na taça, graças ao Rogério. Muito duro. Jogávamos bem e não merecemos tamanha desfeita.

Também vivi a vergonha como nunca pensei que viria a viver. 24 de Março de 2011. A data porventura mais negra que me lembro da história do nosso grande CLUBE. Noite atribulada e madrugada negra… uma manchada de desonra. Começava nessa madrugada a sentir-se um cheiro fétido, putrefacto. Incrédulo, mesmo às 7h da manhã, quando me deitei, não queria acreditar. Ali, venceu o cansaço… e o desânimo. Senti-me traído pelos “meus”, que votaram em gente que se preparava para enterrar o meu clube. Quase o conseguiam. Revoltado, humilhado, desonrado, entrei em modo “fight & resist” interno mal me deitei nessa madrugada. Foram 2 anos de vergonha e enxovalho, com dirigentes abjectos que se preparavam para, aos poucos, decepar a cabeça ao Leão, condenando-o a uma morte que parecia mais que certa. Falava-se em Belenização… Inaceitável. Felizmente, nessa mesma noite, acendia-se uma luz de esperança no meio da incerteza…

Num palanque que serviria, aparentemente, para apresentar o novo presidente eleito nessa noite aos sócios, o tal, o que supostamente fora eleito, tivera de sair escoltado por uma cambada de seguranças e securitas, encolhido face ao desprezo e revolta de muitos que não aceitaram ver-se representados por uma corja. Nesse palanque, surgia a esperança! Uma voz, rouca, gritava para uma mole humana enfurecida: “Calma, calma… Confiem em mim… estamos por cima dos acontecimentos”. Qual rugido, ecoou nos corações dos descontentes e desesperançados… Aquela voz rouca não era mais que o rugir da esperança. O rugir de quem invocava o direito de ser o “Rei” do povo leonino. O nosso Simba estava encontrado mas teria de aguardar até que a maioria do seu povo percebesse a realidade em que colocara o Leão…

A 1 de Maio de 2011, o meu modo “Fight & Resist” conhece um local especial onde poderia combater o lado negro do verde, um verde muito escuro e sombrio… um blog. Onde se fala do Sporting. Onde se respira Sporting. Onde se VIVE Sporting. Entrei e instalei-me… até hoje. Nesse período, acompanhei aquele rugido, o tal da noite mais negra do Sporting. E rugi. Rugi muito e contra muitos! E outros rugiram comigo… cada vez mais. Foram dois anos de rugidos… tempo demais. Dois anos perdidos duma história centenária. E aquele rugido, o tal rugido, eis que voltou mais forte que nunca, com mais experiência! Mais uma luta eleitoral, mais uma campanha suja… mas o rugir venceu! O Rugido ouviu-se bem alto para todos… sem excepções e sem dúvidas! A escumalha, a corja, fora corrida… hora de limpar a casa! O rugido, em jeito de revolta misturado com satisfação ecoou: “O SPORTING É NOSSO OUTRA VEZ”… Não dele, disse bem o novo (pelo menos, oficialmente reconhecido, desta vez) Presidente… NOSSO! É esta a palavra que deve ressoar na nossa mente…

Hoje vivo de forma mais consciente (e porque não exigente comigo mesmo… daí fazer-me sócio em breve), com o devido orgulho, tudo o que tem sido feito nestes últimos 9 meses. O Leão já não é mais o “bichano” simpático que olhava para o céu… Não se deixa pisar. Não se deixa menorizar. Ruge. Ruge muito. Ruge alto e com força. Ruge com veemência! “Os nossos rivais vão ter de se habituar a perder mais vezes”… “Quem quer ser líder não se alia, ultrapassa os seus adversário”… O Sporting, agora sim, ESTÁ DE VOLTA!

Sara as suas feridas, de batalhas contra inimigos e contra “infiéis”, mas não deixa de rugir bem alto, para não haver dúvidas que está firme em reclamar o seu lugar. De lutar pelo seu legado, resistindo às rasteiras de adversários e de antipáticos situacionistas espalhados pelo seu reino. E vai fazê-lo, honrando a sua história com orgulho, dignificando o seu presente com exigência e potenciando a esperança no seu futuro. Um futuro construído por si mesmo… consciente da sua própria grandeza. Eis um Sporting digno de sí mesmo. E eu caminharei ao seu lado…”

 

*às quartas, a cozinha da Tasca abre-se a todos os que a frequentam. Para te candidatares a servir estes Leões, basta estares preparado para as palmas ou para as cuspidelas. E enviares um e-mail com o teu texto para [email protected]