Claro que foi um balde de água fria. Gelada, se preferirem. Depois da derrota de fcp e do empate de slb, tínhamos que ganhar este jogo, não só para encostar ao encarnados, mas, e talvez mais importante, para deixar os azuis numa espécie de limbo. Não deu, não ganhámos, mas fizemos por isso.

E começo, precisamente, por aí. Fizemos por isso. Fizemos mais por isso do que em Guimarães, por exemplo. Fizemos mais por isso do que contra o Belenenses. Fizemos mais por isso do que contra o Nacional e se, nessa noite, as críticas se centraram todas no árbitro, não entendo tanto apontar de dedo às nossas cores numa noite em que se contam cinco oportunidades claras de golo e mais umas ameaças e onde, parece-me claro, o senhor do apito volta a ser figura incontornável na perda de dois pontos (ponham mais um penalti, uma enervante dualidade de critérios e uma conivência com o anti-jogo na conta, sff).
Dizia eu, fizemos por isso! Como que embalados pelo sentimento de união das bancadas (fazendo numerologia, diria que 35 dos 37 mil que estiveram em Alvalade viraram as costas à corrupção durante os primeiros três minutos), entrámos bem no jogo, criámos as duas primeiras oportunidades (Montero e Jefferson) e, durante 20 minutos, imprimimos ao jogo um ritmo que dava a entender que o mais complicado seria marcar o primeiro golo. Golo que não apareceu nesse período, com a agravante de, de um momento para o outro, a equipa ter desligado até final da primeira parte.

Voltámos a entrar bem na segunda e, com o passar do tempo, as oportunidades foram-se avolumando, à semelhança de um sentimento de desespero de cada vez que a bola embatia num dos bonecos que vieram no autocarro do Conceição (patéticas as afirmações posteriores, tendo o desplante de afirmar que as oportunidades de golo foram divididas – duas para a Académica, uma em cada parte, contei eu – e gabando-se da mestria do anti-jogo quando voltou para casa com um ponto sem saber ler nem escrever). Podemos, obviamente, afirmar, que uma dessas bolas tinha que dar golo. Tal como uma das várias oportunidades frente ao fcp, para a taça da vergonha, devia ter acabado a balançar as redes. Mas, a não ser que tenham começado a ver futebol este fim-de-semana, todos sabemos que há jogos destes, não sabemos?

Resumidamente, sem deslumbrar, creio que fizemos suficiente para ganhar. Falhámos na finalização, pois falhámos, e não há como negar a seca do Montero (que voltou a subir de produção quando teve permissão para fugir dos centrais) ou as dificuldades físicas do Slimani. Não há como negar a ausência de um “inventor” que acrescente magia a todo o esforço, dedicação e devoção da nossa equipa. Não há como negar que houve pouco fogo nas alas. Não há como negar que Leonardo demorou demasiado tempo a tirar Wilson Eduardo, por exemplo. Não há como negar que a lesão de Jefferson foi um forte revés. Ou que o amarelo a William (que jogo monstruoso!) foi cravarem-nos o picador numa noite gelada. Mas daí a começar a atirar pedras a tudo e todos, vai uma longa distância.

Tal como não percebo as pessoas que deixam o seu lugar vazio dez minutos antes do jogo terminar, também não entendo as acusações de que colocámos em causa a conquista do título. Minhas amigas e meus amigos: a ilusão de poder conquistar esse mesmo título, foi-nos dada pelos homens que, agora, são criticados. Se há meia dúzia de meses tudo o que se pedia era que nos orgulhassem do que fariam com a camisola verde e branca vestida, não entendo como, depois de uma noite aziaga e menos bem jogada, se acusam estes «vendedores de ilusões» de estarem a colocar em causa um objectivo que só passou a existir na nossa cabeça… em função de tudo aquilo que eles fizeram até agora!

Sabem, quando comecei a escrever este texto, duas imagens teimavam em assaltar-me o espírito: a dos Sportinguistas que gostam de dar o exemplo do ManUnited, pela paciência que teve com Sir Alex, e a dos Sportinguistas que gostam de imaginar-nos a seguir as pisadas do Dortmund (ou, mais distante, do Ajax), apostando na formação, nas contratações cirúrgicas a baixo custo e na criação de uma equipa na verdadeira acepção da palavra.
Depois de muitos dos comentários que fui lendo, chego à conclusão que muitos de nós não estão preparados para ter a paciência a que esses cenários obrigam. Mas quero acreditar que a maioria, já estará em posição de combate rumo à próxima batalha!