Há um ano, era grande a agitação na Secundária da Bola. Uma das turmas mais importantes, a do Sporting Clube de Portugal, passava a ter um novo presidente, Bruno de Carvalho de seu nome, que prometia mudar radicalmente o passado recente do emblema do Leão Rampante.

Para os adeptos do Sporting, era a esperança que se renovava, depois do pior ano letivo da sua história. Depois de década e meia em que a sua paixão foi, excetuando dois ou três anos, constantemente posta à prova, acreditavam ser esta a oportunidade de recomeçar, emendando erros de palmatória inacreditavelmente repetidos. Para os mânfios da escola, equipados de azul e de vermelho, este era um momento de desconfiança. Habituados ao bullying sobre os verde e brancos, com a complacência dos anteriores presidentes sportinguistas, não sabiam o que esperar de alguém que chegava com hábitos de adepto.

Os primeiros a fazerem o teste foram os de azul. Enviaram um ex-badocha, entretanto espremido numa qualquer lipo (e o desgraçado do Manel Machado é que teve azar), para provocar o tal do Bruno. Num pavilhão onde se jogava uma final de andebol, o tal do Caldeira que passou de boneco da Michelin a Monster High, recusou-se a cumprimentar o Bruno e ainda lhe mandou umas bocas javardas. O presidente do Sporting virou-lhe as costas e, no final, o bimbalhão voltou para o dragão com um granda melão. Fez queixinhas ao presidente dos azuis, o Jorge Nuno, gajo que, nos últimos vinte e tal anos dominou a secretaria, o pbx e a associação de estudantes. Fodido, o Jorge Nuno, a quem uma ex-namorada apelidou de Bufas, falou com o Macaco. O Macaco não reagiu, porque o Macaco só sabe mandar bater ou carregar no rec para copiar cânticos. Ainda mais fodido, o Jorge disse ao Caldeira: «tens que os lixar de qualquer forma!». Tentou-se um negócio na Bruma, que o Bruno percebeu e que terminou com o jovem Armindo Tué a anunciar champignons à turca. Em desespero de causa, venderam-se dois jogadores para um colégio, no principado, metendo ao bolso parte da verba que o Sporting teria que receber. Festejava-se o chico espertismo em tons de azul, mas ficava a mensagem: tinham-se acabado as galhofas, os croquetes e as palmadinhas nas costas tão típicas das presidências do gigantone Franco e do hobbitt Godo. E tinha-se acabado a mama a que muitos empresários estavam habituados.

Nos entretantos, o Bruno já tinha tido que enfrentar a tesouraria da escola. «Vocês devem muito dinheiro, nós não renegociamos e qualquer coisa que ganhem é para pagar a dívida». Isto, assim, dito por tesoureiros que, supostamente gostam do Sporting. O Bruno marca uma conferência de imprensa e promete dizer tudo o que lhe vai na alma. Temendo um motim na escola, os tesoureiros recuam e aceitam renegociar a dívida da Turma de Alvalade.

Os sinais estavam dados de forma inequívoca: os tempos tinham, mesmo, mudado! Claro que os mais desconfiados, continuavam a afirmar que «isto o que conta são as bolas lá dentro! Quando começarem a não entrar é que eu quero ver!». Os mais baixinhos, lançavam boatos de que a mulher do Bruno já estava a trabalhar e a ganhar do belo no Sporting (e que, depois, toda a família do Carvalho estaria a gerir o Sporting). Se os boatos só ficaram no ouvido dos mais palermas, a teoria das bolas ao poste desapareceu com o Postiga. E tudo, imagine-se, com o que tanta e tanta gente apelidou de «jogadores de segunda», «refugo» ou «jogadores em saldo». O sistema escolar estremeceu! Porra, isto era muito mais fixe quando eram os adeptos do Sporting a questionar o gasto de milhões para, no interturmas, ficarem atrás dos que gastam menos!

A Turma de Alvalade ia enchendo estádios e os jogadores, grande parte deles formados na Academia verde e branca (conforme promessa eleitoral), iam ganhando jogos. «Mau…», pensaram, quase em simultâneo, o Jorge e o Luís. Ah, ainda não vos falei do Luís! O Luís Filipe, rapaz que gosta de apregoar verdade desportiva à boca cheia e de contratar jogadores para os encaminhar para o Dubai (ou, noutros casos, de anunciar receitas completamente fictícias). Ora bem, o Luís foi o primeiro a beneficiar da vontade de parar o Leão. O Sporting foi eliminado da Taça de Portugal com a ajuda de um dos meninos da associação de estudantes, o Duarte, e, mais tarde, viria a ser eliminado da Taça da Liga por decisão do conselho directivo. No campeonato, chamaram-se mais uns moçoilos da AE e, pronto, serviço feito. Ou semi-feito, porque no meio da bandalheira os azuis acabaram por sair chamuscados.

Mas se nos custa cortarem-nos o sonho, não custa menos aos azuis, aos vermelhos, à AE, à secretaria e ao conselho diretivo verem que isso não abala o novo rumo que vai sendo traçado. Verem que isso não desmobiliza a Turma de Alvalade e que, depois de se voltarem a reunir as claques na curva sul, os adeptos verde e brancos têm a distinta lata de chutar a resignação e, num movimento cada vez mais conjunto, vociferar Basta! Nos corredores, no pavilhão de educação física, no polivalente, no bar e na cantina.

Entretanto, o Bruno vai dando continuidade do que prometeu. A auditoria de gestão está em marcha, os custos foram reduzidos sem que, com isso, as diversas equipas perdessem competitividade, a comunicação é cada vez mais clara, com o jornal e o site a funcionarem como verdadeiros veículos de comunicação onde nem faltam pormenores sobre renovações, contratações e vendas de jogadores. Os estatutos do clube têm, paulatinamente, sido alterados, e o saco de gatos que geria o clube transformou-se numa imagem de gestão a uma só voz. A aposta em plataformas alternativas é efetiva, com destaque para o Facebook, e nem faltam boas jogadas de marketing como a entrega de uma camisola com o nome do Zuck que inventou a tal rede social.

O passo mais recente, foi o passar da promessa aos atos no que toca a apresentar medidas alternativas, no sentido de melhorar e renovar o futebol português. E, este, é um passo que incomoda. Muito. Porque deixa o Jorge e o Luís sem alternativas: ou se juntam à vontade de mudar, ou mostram que estão confortáveis com esta escola corrupta. E, no meio de tantas outras, esta será a grande vitória do Bruno e da sua direção, neste primeiro ano de mandato.

Há muito caminho pela frente, obviamente que há, mas até nisso Bruno parte em vantagem: como disse o vendedor de banha da cobra que prometia ombrear com Barca e Madrid, ele ainda é um garoto. Um garoto cheio de vontade de festejar golos e nos primeiros degraus de uma escadaria que, se todos nos unirmos, será coroada de sucesso. Os outros, já com o coração a fraquejar, vão lutando por manter o sistema que lhes garante vitórias pouco honradas.
Mas isto ainda agora começou e, para quem não soube ler os sinais, eles foram dados na noite de eleição. Colocando de lado o sotaque inglês, tanto do agrado dos jogadores de golfe que tinham ocupado o lugar, o novo presidente fez questão de, ao invés de utilizar unicamente a palavra Sporting, gritar “Viva o Sporting Clube de Portugal!». E é esse clube, tão grande como os maiores da Europa, que está de volta!