leo«No início da época, traçam-se objetivos, define-se o plantel. Em fase mais adiantada, quando a identidade está criada, estou mais preocupado com os pormenores que podem afetar o rendimento da minha equipa. É como um carro: pode ser bom, pode andar, mas tenho que o manter, se não vou ter problemas. É por isso que considero que um treinador deve ser uma espécie de mecânico de manutenção»

As palavras são de Leonardo Jardim, no recente Fórum de Treinadores de Futebol e Futsal, e encaixam na perfeição, na imagem que construí do nosso treinador. E sublinho a palavra: treinador. Esta foi uma das mais importantes medidas tomadas pela actual direcção, neste primeiro ano de mandato. Há quanto tempo defendíamos que de pouco vale investir em jogadores, se continuássemos a fazer experiências com o timoneiro?

Leonardo pode não ser um gajo capaz de criar automática empatia. Tem, até, um ar demasiado fechado e demasiado carregado. Mas, aqui e ali, percebe-se que o sentido de humor existe e que aquele ar apenas resulta do facto de, a todo o momento, o técnico estar a pensar em futebol. E muito tem tido ele que pensar. Aceitando o desafio de pegar numa equipa em fanicos e de embarcar num barco deixado com o casco todo esburacado, Leonardo Jardim, sabia, ainda, que não teria dinheiro para brincar a um qualquer Manager da vida. E que, por mais pacientes e compreensivos, os adeptos que o esperavam eram extremamente exigentes. Leonardo sabia o que lhe pediam: trabalho! Não admira, por isso, que ainda não tenha despido o «fato-macaco-de-treino».

As omoletes que nos tem oferecido, misturando ovos biológicos com outros de aviário, têm surpreendido até o crítico mais céptico. Algumas delas, como a servida há duas semanas, frente ao fcp, representam a sua forma de estar e de pensar: não gosta de fazer substituições ao intervalo, procurando dar um boost de confiança aos que escolheu inicialmente. Eu, tal como não sei quantos mil Sportinguistas, teria tirado Capel e Martins ao intervalo. Leonardo não o fez e essa coisa maravilhosa que se chama futebol transformou os dois jogadores em figuras do encontro, sendo de realçar a forma como o treinador soube resgatar Capel do limbo em que se encontrava (aliás, a forma como tem conseguido gerir o plantel é digna de registo, nomeadamente na motivação e alternância dos que jogam como extremos). Claro que há outros momentos interessantes, como a substituição surpresa de William, em Arouca, a aposta ganha em Mané ou a capacidade de fazer Slimani acreditar que estava a marcar para ser titular, mesmo quando tudo indicava que não passaria do banco. O próximo passo, acredito eu, será trazer de volta Fredy Montero, com o colombiano a terminar a época como começou.

Por tudo isto, faz todo o sentido olhar para Leonardo Jardim como um mecânico. Dos competentes. Daqueles que começaram por pedir kits de ferramentas, aos pais, que foram desmontando e montando carros telecomandados, que foram lendo e ouvindo tudo o que podiam, que se inscreveram em cursos sobre todo e qualquer pormenor. E que, hoje, tem a sua própria oficina. Não uma oficina daquelas que prometem revisões iguais à marca com preços fantásticos e onde tudo assenta em estratégias de marketing. Leo gere uma oficina de bairro, onde velhinhos Panda com tejadilho de lona esburacado, convivem com 530 Grand Turismo. Onde sabemos que, mesmo quando dizemos que a carteira está rapada e perguntamos “não se arranja umas peças usadas?», o nosso carro verde e branco vai ser tratado com todo o carinho e vai sair de lá mesmo à maneira!

* «tens prá troca?» é uma colecção de autocolantes virtuais à moda da Tasca, que nunca perdem a cola mas que também não dão para colar