Os olhos centram-se no William. Depois no Adrien. João Mário, com os seus pés de veludo, entra na equação. Quando a bola chega a Nani ou a Carrillo, acontece magia. É um Sporting de balanceamento atacante, que nos faz vibrar. Lá atrás, solitário, um homem enverga a braçadeira de capitão e procura não perder a concentração, mesmo quando a bola passa largos minutos longe da nossa baliza. De um momento para o outro, contrariando a corrente do jogo, um adversário surge-lhe embalado pela frente. Ele dá um passo. Depois outro. Tenta tornar-se maior do que a própria baliza, contrariando a vontade de lançar-se para um dos lados ou aos pés do adversário. Quando a bola parte, o grito de golo adversário fica encravado na garganta dos adeptos. E nós? Nós respiramos fundo e festejamos como se um golo de tratasse.

Rui Patrício é, de época para época, um guarda-redes cada vez mais seguro e completo. Um produto da casa que sente o Leão que carrega e que aqui chegou depois de, incontáveis vezes, ser assobiado por quem devia apoiá-lo. Aguentou as adversidades e as dores de um crescimento forçado, sempre com uma ideia em mente: ocupar aquele lugar fazia parte do seu destino. Há quem ache que as monumentais defesas que faz, são normais. Há quem há quem só se lembre de pronunciar o seu nome quando comete algum erro. E há, felizmente, quem o olhe como um dos mais importantes jogadores da equipa. Porque é mesmo isso que Rui Patrício é. O seu estilo pouco espampanante é como uma espécie de máscara, por trás da qual se esconde alguém respeitado por todos no balneário. A sua voz ouve-se em campo. E fora dele. O seu rosto mostra desespero, de cada vez que não consegue parar um remate. E festeja, de forma sentida, cada golo marcado na baliza adversária.

Goste-se ou não, o nome de Rui Patrício, confunde-se, actualmente, com o nome do Sporting. E quando se atira, pela 138ª vez, a possibilidade de rumar ao estrangeiro, eu desejo que fique. Que faça toda uma carreira de Leão Rampante ao peito. Que seja uma referência para os mais novos e um orgulho para os mais crescidos. Que honre nomes do passado e nos faça acreditar no futuro. E que, durante uns bons anos, qual Leão alado, continue a voar para desviar bolas que se julgam predestinadas a anichar-se nas redes.

 

* «tens prá troca?» é uma colecção de autocolantes virtuais à moda da Tasca, que nunca perdem a cola mas que também não dão para colar