Uma das expressões que eu mais oiço e leio é que o Sporting tem uma “equipa curta” e que os rivais estão bem apetrechados. Este é um dos grandes mitos que por aí circula que só vai colando porque, infelizmente, estamos atrás dos rivais no campeonato. E com duas jornadas de Champions mais quatro jornadas de campeonato decorridas, acho que já é possível fazer uma comparação.

Na baliza, acho que tentar sequer fazer uma comparação é um insulto para o Rui Patrício, que com a última estrondosa exibição frente ao Chelsea provou não só que é o melhor guarda redes português como também um dos melhores da Europa.

Na defesa, um dos grandes focos de crítica da equipa do Sporting, vou aproveitar para fazer alguma justiça. Se Maurício e Sarr estão ainda aquém daquilo que podem dar (sobretudo Sarr), que dizer do Jardel ou do Maicon? O primeiro é candidato a “enterra da Champions”, o segundo estreou-se de pá na mão na Ucrânia, que só não causou mais danos porque há um abono de família chamado Jackson. Nas laterais, tenho de excluir da análise o Maxi Pereira porque estou a avaliar jogadores de futebol. Sobram o Alex Sandro, que nem sequer tem a confiança do seu treinador (diz que é “rotatividade”), Danilo que é realmente um bom jogador que já é um regular da canarinha, Eliseu que disfarça à bomba uma barriga de aluguer que impede a sua locomoção (em Leverkusen ficou bem evidente), Jonathan Silva, que não podia ter começado melhor com uma grande exibição em Barcelos e com um golo no clássico (apesar de ter estado mal contra o Chelsea) e Cédric que vai demonstrando a cada jogo toda a sua intensidade (diz que em Alvalade, o Hazard pediu para ir cagar) Resumindo e concluindo, podemos dizer que o Carnide tem um bom central, o Luís Grande e os Corruptos têm outro, o Martins Índio. Aqui ficamos a perder, pelo menos até vermos mais vezes Paulo Oliveira em acção ou a evolução do Naby Sarr. Em compensação, nas laterais não devemos nada aos Corruptos e rimo-nos da mediocridade lampiã.

No meio-campo, é onde somos francamente  melhores. Primeiro, porque não consigo perceber qual é o trinco do Carnide. Umas vezes é o Samarras, outras vezes é o Almeida e parece que já foi testado o Cristante. (pausa para rirem). Nós temos um William em baixo de forma e os Corruptos têm o hype de Verão Ruben Neves que vai alternando com Casemiro, cuja única coisa de relevante que pode dizer é que jogou no Real Madrid. Mas isso até o Secretário jogou. Mais à frente temos um Enzo Pérez, fiel seguidor da escola de mergulho fundada por Di María e continuada por Gaitán, um bom jogador que só é elevado a supra-sumo da Liga porque ninguém desse organismo sabe fazer contas de somar (William foi mais vezes MVP mas foi o Enzo a ganhar o prémio). Na Frutaria temos o Herrera, que não é capaz de fazer um passe, mas que faz da intensidade o seu cartão de visita. Nós temos Adrien Silva, que em intensidade não fica atrás dos outros dois e que os iguala em qualidade técnica. Na posição de criativo, o Carnide tem a promessa Talisca, que justiça lhe seja feita, tem um grande pé esquerdo. Os Corruptos têm o Óliver que não passa de um Tsubasa espanhol e que é um grande assistente (o avançado do Shaktar que o diga). Nós temos o João Mário que mesmo não tendo a experiência do Gaitán é capaz de o igualar em classe.

Nas faixas, a coisa equlibra-se. Os três têm um fora-de-série, Nani, Gaitán e Brahimi e depois têm outro bom jogador do lado contrário. Carrillo, Tello e Sálvio. Aqui parece-me claro que o Carrillo, com este início de época estrondoso com golos e assistências, aproximou-se muito da certeza que já é o Sálvio e o próprio Tello também começou bem.

No ataque, parece-me claro que os Fruteiros têm o melhor avançado da Liga (e um dos melhores da Europa) que é o Jackson Martínez. O Carnide tem o Lima, que afinal também passa por períodos de seca e nós temos o Slimani que ganha a ambos em atitude competitiva mas que perde em eficácia. E ainda há Derley, que demonstra sempre que joga que o bom escrevia-se com “i”, Adrián que se desvalorizou trocando o banco do Atlético pelo banco dos Corruptos e, Montero que continua sem marcar (sem jogo ninguém marca golos).

Quanto ao banco, aquilo que toda a gente fala para definir o “comprimento” de cada equipa, se calhar sou eu que estou enganado mas ainda não vi nada de nenhum dos três que suscitasse uma conclusão óbvia. Ola John, Capel, Quaresma e Bébé fizeram exactamente o mesmo, que é quase nada (e ainda assim, o Capel vai sendo útil). Há três jovens que têm boas hipóteses de serem bons jogadores, Rosell, Ruben Neves e Cristante. E depois há o Samarras, que tem o epíteto de jogador mais caro deste defeso mas que, parece-me a mim, terá sido um barrete bem enfiado pelo Olympiakos, um pouco à semelhança daquilo que o Atlético nos fez com o Pongolle. A confirmar.

Sinceramente, não vejo uma diferença assim tão grande. Na verdade, não vejo diferença nenhuma. Excepto num pormenor. Nós gastámos menos de metade daquilo que os rivais gastaram e pagamos muito menos do que eles pagam ao final do mês. Por isso, em vez de andarmos a malhar na nossa política de contratações (que teve as suas falhas) seria bom fazermos a seguinte pergunta: Estaremos assim tão distantes? Cada um pensará o que quiser mas a mim ninguém me tira da cabeça que não. Nem muito, nem pouco. E ainda falta vermos Rabia, Gauld e Slavchev, jogadores de quem espero muita qualidade quando chegar a sua hora. Portanto, acho que está na hora de valorizarmos aquilo que é nosso (porque tem muito valor!) em vez de andarmos a valorizar a galinha alheia que já por si tem muito valor (económico, veremos se também desportivo). Na verdade, tudo o que vi até agora remete-me para um equilíbrio evidente com a vantagem de termos gasto muito menos dinheiro, pagarmos muito menos de salários e termos a percentagem quase total dos passes dos jogadores que comprámos. Não me parece coisa pouca.

A grande diferença, que terá suscitado o all-in dos Fruteiros, não está no “comprimento” dos plantéis. Está na largura. E aqui, o Carnide reforçou-se bem. Ou terá sido o único que se reforçou. O facto de expulsarem um jogador adversário por jogo é a prova da “vista larga” dos seus principais reforços. Falo, obviamente, dos bois de preto. Ou das nomeações (e desta vez nem é preciso o nosso presidente telefonar ao Orelhas). Parece-me óbvio que um Vasco Santos vale mais que um Brahimi e que um Capela vale mais que um Nani. E isto não é ironia. Ambos os craques se distinguem pela sua superior qualidade de drible e velocidade  mas, vá-se lá saber porquê, ainda não arrancaram nenhuma expulsão. Já os outros, como disse, é uma por jogo. E sempre quando a coisa está difícil (é preciso mostrar serviço para se manterem no plantel encarnado do próximo ano).
É isto que está a fazer a diferença. Avaliar a qualidade dos plantéis é uma perda de tempo. Continua a não ser isso que decide campeonatos. Portanto, esqueçam lá o “central experiente”, “o ponta de lança que marca 30 golos por época” ou “o extremo desequilibrador”. É absolutamente irrelevante.

* todas as sextas, directamente de Angola, Sá abandona o seu lugar cativo à mesa da Tasca e toma conta da cozinha!