Quando penso no papel do treinador, há um pormenor que eu considero fundamental: a capacidade para gerir as expectativas e os momentos dos jogadores. E se isto era coisa que guardávamos para cada um de nós, há coisa de dez anos, hoje um treinador vê essa tarefa ampliada e complicada pelo impacto das da internet e das mais variadas redes sociais. Olhando para o plantel do Sporting, incluindo os jogadores que estão ao serviço da B, creio que se contarão pelos dedos os que passam ao lado destes canais de comunicação. As críticas e os elogios, os arrasos e as palavras de apoio, são diário e acompanham o que, semanalmente, a equipa vai mostrando no relvado.

Vem isto a propósito da belíssima resposta dada pelos menos utilizados, na Taça da Liga e na Taça de Portugal, com a consequente introdução de nomes como Tanaka, Tobias ou Gauld na equipa principal. «Estes gajos já deviam ter tido oportunidades há mais tempo», é o pensamento geral. E eu não fujo a esse pensamento, mas, confesso, acabo por sorrir quando entro no universo dos «e se…». Recuemos, então, ao início da época.

Rojo e Dier faziam as malas. Paulo Oliveira vinha de uma pré-época que fazia os craques de sofá apelidarem-no de mais um flop. Sobravam Maurício e Sarr, com uma breve lembrança de que tínhamos um puto Tobias na B. E jogaram esses, pois claro. O caos, a defesa é uma merda, barretes do caralho, não vamos a lado algum. Duas batatas quentes a escaldar, a que se juntava uma terceira, André Martins, tão maltratado por pessoas que, há duas décadas, aplaudiam outro Martins, um tal de Afonso, que batia no símbolo e se recusava a rescindir para espremer o alto contrato até final. Adiante.
Depois havia a eterna dúvida «joga Slimani ou joga Montero», a que se foi juntando a pergunta «mas porque raio o Tanaka não está no banco?». Espera, há mais. Entretanto, berrava-se por essa web fora que devíamos ter vendido o William. «Mete o Rosell, foda-se!!!». «E o búlgaro, o que anda lá a fazer o búlgaro? E o Messi escocês?». Água cada vez mais borbulhante e o cozinheiro arrisca: sai Jefferson entra Jonathan. Depois trocam. E voltam a trocar.

E, com estas trocas, a verdade é que, hoje, temos o melhor Jefferson desde que assinou pelo Sporting. Se formos capazes de parar para pensar, o brasileiro saiu da equipa quando a sua produção entrou em linha descendente. E quem entrou para o seu lugar até foi capaz de ser lançado às feras, num clássico, e marcar um golo. Sim, Jonathan tem muito para aprender, mas a sua utilização foi fundamental para proteger e espicaçar Jefferson. Tal como o respeito por André Martins e pelo estatuto conquistado (goste-se mais ou menos), resultou num dois em um: André sai da equipa com a consciência de que tinha mesmo que sair, João Mário entra com ganas acumuladas, André, quando volta a ser chamado, não é um jogador revoltado, antes mais aguerrido e empenhado.

Recua. O Tobias e o Oliveira deviam ter jogado sempre! Deviam?!? Ora se o Paulo foi classificado como flop depois da pré-época… essa honestidade intelectual… E, diz-me lá, tu já imaginaste se, quando a defesa estava sobre brasas, tivesse sido lançado o Tobias?!? Ias fazer o quê? Assobiá-lo como se assobiou o Ilori, em Alvalade, na estreia frente ao Leiria? Era mais um barrete, certo? Até ao desgraçado do Sarr já foi vaticinado que não tem hipótese de vir a ser uma opção.
Ah, e o Gauld? Foi lançado quando tinha que ser, digo eu. Ok, talvez pudesse ter sido chamado mais cedo ao banco, mas, porra, se até o próprio via esta primeira época como transitória… e tiravas o Adrien? O João Mário? Só porque sim? Pois. E tiravas o William, claro. O mesmo que foi teimosamente mantido na equipa e que, aos poucos, cada vez mais adaptado a um Sporting que pensa primeiro em atacar do que em defender (concorde-se ou discorde-se), volta a ser o jogador que nunca podia ter deixado de ser.

Chegamos ao Tanaka e ao se do momento: se já tivesse jogado de certeza que não tínhamos perdido alguns dos pontos perdidos. Pois. Epá, é capaz. Ou tínhamos perdido os pontos e o japonês era fixe era para a equipa de ténis de mesa… Sabes, comparo o momento de Tanaka ao momento de Slim, na época passada. E, agora como então, parece-me um erro se interrompermos já este verdadeiro efeito wasabi: o gajo entra e os adversários até arregalam os olhos com o picante. Temos uma arma secreta e um jogador feliz e motivado com esse papel. Tem tempo para poder ser titular, roubando o lugar a outro rapaz entretanto recuperado: Montero. Sim, mesmo sem lhe dar a titularidade, foi possível motivá-lo. Com paciência. Com o tempo que se revelou acertado. E sem a sofreguidão que nós, adeptos, demonstramos tantas vezes, querendo, em seis meses, ver colocado em prática um projecto que não é feito de máquinas e que, é bom que nunca nos esqueçamos, foi pensado para nos recolocar no topo no prazo de quatro anos. Não para ganhar uma vez, mas várias consecutivas.