Quando Adrien abriu o marcador, com cerca de quinze segundos de jogo e ainda muitas pessoas à espera de entrar em Alvalade, terão sido poucos aqueles que não pensaram numa goleada. Por seu lado, parece que os jogadores pensaram “já está!” e partiram para uma primeira parte horrorosa onde nada parecia funcionar.

Desde logo, porque se a força da equipa é, neste momento, a aposta nas laterais, a total desinspiração ofensiva de Nani e Carrillo e os erros defensivos atrás de erros defensivos de Cédric e Jefferson (provavelmente o pior jogo de sempre com a camisola do Sporting, um verdadeiro mono), transformavam-na no Leão sem garras. Sobrava o miolo, onde João Mário se mostrava incapaz de apoiar Tanaka (interfere no lance do primeiro golo e nunca mais houve quem o visse), onde Rosell pouco acrescentava ao balanceamento ofensivo e onde apenas Adrien se mostrava mais esclarecido. Se a isto juntarmos a surpreendente tremideira de Tobias, perdido entre escorregadelas e mau posicionamento, percebe-se facilmente o porquê de, cinco ou seis minutos depois de chegar ao golo, o Sporting ter sofrido o empate, o porquê de não criar uma verdadeira jogada de golo em 45 minutos (mesmo com Slimani já em campo, depois de Marco Silva ter percebido que fazia sentido ter entrado com dois avançados de início, até porque, quando pressionada, a defesa do Boavista tremia por todo o lado), o porquê de nos massacrar o espírito e o porquê de ter acabado a primeira parte a ver Tobias ser expulso, depois de tentar emendar mais uma cagada de Jefferson. Pontos positivos? Dois: ao contrário do que aconteceu com o Penafiel, o livre que se seguiu à expulsão bateu na barra em vez de entrar; a segunda parte só podia ser melhor.

E foi, mesmo jogando com um homem a menos. Aliás, tal como comentei em pleno estádio, se este Boavista patético está dez pontos acima da linha de água, está explicada muita da falta de qualidade do nosso futebol. Por outras palavras, sim, tínhamos obrigação de ganhar este jogo e, valha-nos isso, os jogadores foram capazes de perceber e de mudar a sua atitude. Não foi brilhante, pois não foi, mas, pelo menos, viu-se empenho e respeito pela camisola. Os dez correram por onze, foram solidários e quando um dos artistas maiores, Carrillo, resolveu abanar o jogo… foi meio caminho para decidi-lo. Slimani disse que sim a mais um cruzamento de algodão doce e eu tive direito a um momento para mais tarde recordar, com a minha filha a saltar-me para o colo para o primeiro festejo a sério em conjunto, que ela bem mereceu. Ela que, várias vezes, soltou sorrisos a uma bancada de críticos ao gritar Sporting a plenos pulmões quando ninguém mais o fazia. Ela que aproveitou a condescendência do ambiente futebolístico para soltar algumas palavras proibidas. Ela que, já a caminho de casa e naquela prontidão desarmante de cinco anos, me disse: «ó pai, porque é que dizes que o jogo foi uma porcaria?!? O Sporting ganhou!».