Para quem ainda tinha dúvidas sobre o que este renovado Sporting poderia fazer, elas ficaram dissipadas na noite de ontem. A superioridade sobre um dos seus mais directos adversários e campeão nacional, o benfica, foi demasiado vincada para ser questionada, nomeadamente nas avalanches com que se iniciaram as duas metades do jogo.

O Sporting entrou mandão, subido, personalizado. E nos primeiros dez minutos de jogos, mais coisa menos, coisa, obrigou o benfica a manter-se encostado às cordas. Aquela jogada, de pé para pé, culminando do cruzamento de Jefferson que Júlio César roubaria a Slimani, é o ponto alto dessa entrada avassaladora que deixava bem claro a confiança que invadia os jogadores leoninos. Claro que manter um ritmo daqueles é complicado e, aos poucos, o benfica acertou marcações e sacudiu a pressão.

Por duas vezes, ambas por Jonas, os encarnados levaram o perigo à baliza leonina. Dois momentos de desconcentração (primeiro com os centrais a deixarem solto o avançado, depois com Carrillo a esquecer-se da marcação num canto) que terão transmitido a ideia de um jogo dividido. Ainda assim, pese esses espasmos da equipa da luz, o domínio estava inteiramente do lado verde e branco. Ruiz, uma espécie de Pedro Barbosa com mais centímetros e menos apetite para croissants, embala pela esquerda e prefere servir Teo em vez de rematar à baliza. Cheira a golo, que acaba por surgir poucos minutos depois, na sequência de um canto. Os festejos ficam a meio, porque o remate certeiro de Teo é erradamente invalidado.

Estamos com meia hora de jogo e a equipa baixa o ritmo. Rui Vitória troca os extremos de lado e Ola John tem os seus dez minutos de fama, agitando o corredor esquerdo e colocando problemas a João Pereira. Nesse mesmo flanco, Sílvio tem uma entrada disparatada e maldosa sobre Teo que lhe vale o primeiro amarelo. Faltam cinco minutos para o intervalo e o Sorting volta a inclinar o campo. Pena que Carrillo e Jefferson não consigam dar o melhor seguimento aos lances em que conseguem ganhar a linha de fundo.

A segunda parte começa como a primeira: com um vendaval de futebol leonino e o adversário encostado às cordas, refugiando-se no pontapé para a frente que, com boa vontade, se pode chamar futebol directo. As ameaças de golo sucedem-se e o golo acabará, mesmo, por aparecer. O remate de Carrillo (que segunda parte, que diagonais, que perfeição táctica no constante apoio defensivo) encontra as pernas de Teo e a bola desvia-se de Júlio César. Está lá dentro e está lá dentro com justiça. E justiça foi o que não houve, quando Sílvio volta a fazer uma falta grosseira e lhe é concedido o direito de ficar em campo. E que complicado teria sido o benfica manter-se em jogo com menos um, naqueles 15 minutos em que praticamente não tocou na bola. Ironia das ironias, acaba esse período a queixar-se de uma falta de Carrillo sobre Gaitán, dentro da área, num penalti que muitos aproveitarão para justificar tudo e mais alguma coisa e, imagine-se, para saltar os dois erros de arbitragem a seu favor, que haviam ficado para trás.

O ritmo de jogo continuava alto, mesmo com as pernas a pesarem chumbo depois das tareias de pré-época. Peço a entrada de Mané e de Montero, para acabar de vez com a conversa. Jesus só mete o menino e o menino cumpre o seu papel de agitador, nomeadamente naquela jogada em que vem da linha para o meio e escavaca a defesa adversária para colocar ao segundo poste. Slimani, o incansável, tenta uma e oura vez aquele movimento com que o Liedson esfrangalhava os rins aos centrais, mas o corte para dentro seguido de corte para fora não tem o fim desejado. Do outro lado, o rapaz que esteve para vir e ser suplente do argelino faz pontaria a uma torre de ilminação, numa altura em que o benfica não tem ideia e espera que uma qualquer bola bombeada para a área resulte no golo do empate.

Ruben Semedo entra, precisamente, para prevenir esse chuveirinho e auxiliar os intratáveis Paulo Oliveira e Naldo na terefa de estancar os ataques adversários. Entretanto, João Mário, depois de cinco minutos de fadiga e ausência de discernimento, como que renasce e encarna a pele de adulto que já é. Metam a bola no 17 que ele segura-a e fá-la circular. Classe, pura classe, deixando a irreverência para o raio do peruano que não há meio de renovar e que faz aquele cabrito a três lampinos para poder guardar a bola junto da linha lateral por onde haveria de sair para dar lugar a Gelson Martins.

A juventude e a experiência. O lado adulto e a irreverência, mas tudo feito com critério. A Taça erguida, os sorrisos, a confiança e a tesão. Uma conquista inquestionável, a segunda no espaço de três meses. Hábitos bons, sem dúvida, mas um longo caminho e muito trabalho pela frente que nos levarão a gostar ainda mais de ver jogar a turma de Alvalade. Para já, uma certeza: temos Leão e o seu rugido ouviu-se bem alto na selva do futebol.