Com o passar dos anos a adrenalina estabiliza. Tem picos de ansiedade, obviamente, porque há jogos e jogos, mas, no geral, aquelas borboletas na barriga vão sendo disfarçadas ou dominadas. Ganhas novas rotinas, vives o momento com companhias que vais fazendo e que acrescentas às de longa data e acabas por achar perfeitamente normal estares ali sentado. Mas experimenta recuares os anos que forem necessários e assistires ao teu filme enquanto Sportinguista que ruma a Alvalade. Há quem gire na máquina do tempo e aterre no peão. Há quem volte a recordar os degraus da bancada nova como único lugar vago para assistir a um jogo. Há quem só conheça a nossa nova casa e considere nem fazer sentido compará-la às anteriores. Em comum? Alvalade. Estádio José Alvalade.

Aqui se cruzam gerações, aqui se grava parte da tua história de vida. Mão na mão de quem tanto te ensinou. Sorrisos e lágrimas. Amigos e desconhecidos envoltos num abraço. Engates de bancada e gargantas a pedirem clemência durante dois ou três dias. Fumos, bandeiras, cânticos. Filas de espera, porteiros com a mania que eram donos do clube e torniquetes que lhes imitam os tiques de te barram só porque sim. Chuva, sol, frio, calor. Bancadas de pedra ou com cadeiras, embelezadas por almofadinhas ou pelo jornal que dava para o caminho ou evitava ensopar o rabinho. Tardes e noites de glória e de desilusão, camadas de nervos que retiram anos de vida ou que nos fazem sentir como se tivéssemos renascido na manhã seguinte. Os milagrosos nougats vendidos em pack, salvação para quem não tinha dinheiro para as queijadinhas, regados com cerveja ou com um sumol que vai sempre bem com uma bifana. Filas para o wc e gente que te enerva porque chega atrasada e obriga uma fila inteira a levantar-se para chegar ao seu lugar. Gente que te enerva ainda mais porque sai mais cedo, quando o que tu queres é ficar até final e ainda mais um bocadinho, aplaudindo a tua equipa e sorrindo mais para fora ou mais para dentro enquanto contemplas aquela que, quase sem te dares conta, será uma das casas onde passarás mais tempo ao longo da tua vida.

Hoje é dia de voltares a esta casa que é minha e que é nossa e quem sem nós estaria desprovida de vida. Hoje é dia de voltares a ser quem foste quando mergulhaste nessa máquina do tempo. Hoje é dia de acordares demasiado cedo porque a excitação não te deixou dormir. Hoje é dia de esqueceres tudo o resto e deixares desconfianças do lado de fora. É dia de deixares o cachecol dançar preso à janela de um carro e de permitires que o nervosismo se apodere de ti à medida que te vais aproximando do estádio. É dia de te olhares ao espelho com o peito a transbordar de orgulho, ao veres-te com a verde e branca vestida. É dia de dares a mão à mão que agora é do tamanho da tua ou de segurares uma mão que é pequena como a tua já foi. É dia de recordares tudo o que te ensinaram sobre como é bom ser do Sporting ou de seres tua a ensiná-lo. É dia de te encontrares com quem gostas e de sorrires, sorrires muito, e levares esse sorriso para a bancada. É dia de cantares, de blasfemares, de te enervares e de festejares como se tivesses dupla personalidade. É dia de te lembrares de todos os que te ensinaram a amar este clube e de os respeitares na memória ou na distância. A mesma distância que afasta tantos e tantos Sportinguistas do local onde queriam estar e que te dá a responsabilidade de representares os milhões que, à mesma hora, contarão contigo para ser seu porta voz. Hoje é dia de voltares a sentir que és um privilegiado por poderes ali estar e perceberes que a melhor forma de sentires o Sporting é rumares a Alvalade como se fosse a primeira vez e, tal como nesse dia, nunca, mas nunca deixares de estar ao lado do clube a quem juraste fidelidade.
SPOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOORTING!