«Pai, posso guardar o resto do sumo para beber na segunda parte?»
“Podes, claro. Vamos lá ver é se isto não se entorna…”
«Não, fica aqui ao cantinho»
A pergunta soava estranha, tendo em conta a rapidez com que, regra geral, um sumo é bebido, mas a explicação viria logo em seguida.
«Vou beber este sumo quando o Sporting marcar quatro golos, sabias?»
Eu sorri, enquanto o meu cérebro respondia que bastava um golo para sermos felizes.

Para trás tinha ficado uma primeira parte fria, com poucas ideia e com menos velocidade ainda. Uma boa entrada em jogo, é verdade, mas, depois, o Besiktas mostrou ter a lição bem estudada: Quaresma e Sahan limitavam as subidas de João Pereira e de Jefferson e, à falta de um extremo de raiz, o Sporting acaba, invariavelmente, por canalizar o jogo pelo meio e por perder a bola na verdadeira floresta defensiva montada pelos turcos. Para piorar o cenário, a defesa verde e branca, com William incluído, parecia estar a dormir e ia acumulando erros infantis que poderiam ter custado um golo mais cedo.

Era preciso mudar e Jesus fez aquilo que pairava na mente de muitos de nós: meteu Gelson em campo. Não arriscou em demasia (Montero foi o sacrificado), mas foi o suficiente para se perceber que o jogo ganharia outros contornos nos segundos 45 minutos. A equipa ganhava o factor surpresa e irreverente que lhe havia faltado e as barreiras defensivas turcas viam-se obrigadas a movimentações que as obrigavam a descoordenar-se. Era o Sporting, definitivamente, a querer pegar e mandar no jogo, mas uma perda de bola em zona proibida, em saída para contra-ataque, gelava ainda mais a noite: trivela de Quaresma, finalização à ponta de lança de Mario Gomez. Faltava pouco mais de meia hora.

«Estava a ver que não…»
“Mas tu passas-te?!?”
«Então, agora temos mesmo que marcar golos!»

Perdido naquela premonição infantil, peço mentalmente que Jesus mexa na equipa e arrisque o que tiver que arriscar. Teo despe o fato de treino e entra para o lugar de Adrien. A equipa estica-se, assume dois homens na área, dois criativos à solta entre a linha e o meio e um puto sem vergonha na ala contrária. William deixa-se de merdas e segura o meio-campo, dizendo à equipa para se lançar sobre o adversário. Slimani vê o seu remate ser placado, mas é o suficiente para os 30 mil adeptos presentes, já refeitos do golpe, assumirem a vontade de carregar a equipa às costas. E é no “vai” que se grita a toda a volta, que Slimani acredita que o passe de Ruiz vai ser seu. É todo o esforço que vale a pena no segundo em que o redes hesita e em que Slim se estica. Depois, é acertar na bola e onde tiver que ser só para a ver lá dentro. O Sporting volta ao jogo.

Teo manda uma bomba da direita, quase sem ângulo, para defesa de Zengin, mas será do lado contrário que Ruiz aproveitará uma segunda bola para entrar na área e fuzilar. Em cinco minutos o Sporting dava a volta à partida e ficava com o apuramento nas mãos. E bastaram mais três minutos para carimbá-lo: arrancada de Gelson e passe para Teo, com o colombiano a ter um trabalho fantástico antes de fazer o terceiro e de roubar a espuma ao árbitro para festejar de uma forma que se vai tornar viral (mas vale a pena ver como o pequeno Gelson comemora, virado para a sul).

Uma grande remontada, numa noite onde uma equipa mostrou que nunca desiste e os seus adeptos mostraram que nunca a deixarão desistir ou, se preferirem, numa noite em que Alvalade viveu, uma vez mais, a máxima “Juntos somos mais fortes, unidos somos invencíveis”.

«Pai, podes dar-me o meu sumo?»