Chegou com o rótulo de que não conseguia ter mais de 60 minutos nas pernas, vamos já no oitavo jogo consecutivo a cumprir os noventa minutos em campo. Chegou como velho, em busca de uma reforma mais digna, e como jogador que se terá movido por euros e não por perspectiva de carreira. Aceitou reduzir o seu simpático ordenado apenas para actuar ao mais alto nível, num clube em busca do título que lhe foge à mais de uma década.

Como sempre, em Portugal, a chegada de Bryan Ruiz chegou envolta em dúvidas, desconfianças e pouca euforia. Porque o nível que apresentou no Mundial não seria o “seu nível” e porque experiências no passado ditavam que a experiência pode ser também motivo de destabilização de um balneário. Mas Bryan não é nenhum Pranjic, muito menos um Bolo de Arroz. Bryan é um jogador que tem encantado o mundo do futebol desde que apareceu, na Holanda. É um jogador que o mais purista amante do desporto Rei tem seguido, é um jogador que a quem todos desejavam melhor sorte, e é agora um dos melhores a actuar no nosso campeonato.

Classe à solta no relvado, sem provocar rivais, sem discutir com árbitros, sem uma entrada feia e com um respeito imenso por colegas leões e adeptos na bancada. Sempre secundado pelo “seu” João Mário, jogador que Bryan diz ser o mais inteligente e talentoso do nosso plantel, Ruiz tem distribuído passes de sonho, recepções de predestinado e uma vontade semana após semana que o levam ao patamar mais regular da sua carreira, depois de sair do Twente.

A um jogador destes agradece-se. Por nos ter escolhido, por gostar do nosso projecto, por estar empenhado em ser campeão de leão ao peito, sem nunca se ouvir o discurso de “passagem” que muitos jogadores estrangeiros têm passados uns mesinhos de cá andarem.

Bryan não faz muitas capas. Talvez porque não tenha passado por um Barcelona, ou não seja um produto que agentes tentam valorizar à força. Mas também não precisa. A classe que solta a cada jogo, é a mesma que aplica fora do relvado, sempre de sorriso tímido, sempre virado para a curva, em jeito de agradecimento, sempre com um discurso de senhor, como foi o caso de ontem. Só Ruiz poderia marcar um golo como o de ontem e por a mão na cabeça, como quem pede desculpa ao adversário porque não os queria enganar, sorrindo apenas para Adrien e João Mário, que o abraçavam efusivamente.

Se formos campeões, Ruiz será um bastião deste plantel e ficará na nossa história como o costa riquenho que parado fintava quatro jogadores, que saia de zonas de pressão com a bola redondinha, que aparecia nos jogos grandes e que desde o primeiro jogo se afirmou como a voz de Jesus em campo.

*às terças, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa