A notícia não deve ter apanhado quem quer que seja desprevenido: João de Deus deixou de ser treinador do Sporting B.

Com exibições e resultados paupérrimos e uma equipa em completa crise de confiança, o treinador acabou, como é normal, por ser o rosto mais visível de um projecto que, nomeadamente este ano, parece votado ao abandono e tratado como uma arrecadação onde vamos colocando duas mãos cheias de coisas compradas na candonga e que pouco ou nada valem. Veja-se o plantel no início da época e veja-se o plantel actual, para se perceber facilmente a forma como a B tem sido olhada, com a agravante de aquela que seria sempre a sua base, os miúdos que terminaram a sua passagem pelos júniores, contemplar uma geração onde muito poucos poderão aspirar a vestir a verde e branca em patamares superiores.

Isto não iliba João de Deus de responsabilidades técnicas, mas parece-me injusto apontá-lo como único culpado. É verdade que o homem não parece talhado para trabalhar porcelana, mas se nem argila em condições lhe dão para fazer um prato de barro… Para a despedida, as declarações sublinham aquilo que o técnico é: um bom profissional. «Foram quase dois anos e meio passados nesta casa com bons momentos vividos e nesta altura gostaria de deixar uma palavra de apreço a toda a estrutura. Desde o primeiro dia que senti um grande apoio e amparo e são esse tipo de situações que nos ajudam a perceber a grandeza do Clube. Por fim, deixar uma palavra para a minha equipa, os meus miúdos porque, apesar do momento não ser bom, não quer dizer que não tenham competências e sejam capazes de dar a volta por cima. Acredito que o final será feliz e com uma pontinha de sorte, sobretudo com acreditar e com a nova injecção de moral que estes momentos acabam por trazer, que vão dar a volta e o final será risonho para todos eles», disse, em declarações à Sporting TV.

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Entretanto e dando continuidade a uma opinião que já não é nova, ouvem-se vozes gritar que o melhor é acabar com a equipa B. Eu torço o nariz. Tanto, que quase o parto.

Desde logo, porque sou um adepto convicto da formação e de um projecto onde ela seja a nossa base. E a B foi criada com esse propósito: criar um patamar intermédio para que os putos aos quais apontamos qualidade, tenham oportunidade de competir num nível de exigência superior. Claro que há alguns que são tão bons que antes de deixarem de ser juniores já são seniores, mas… e os outros? Não foi na B que continuaram a evoluir João Mário, Podence, Francisco Geraldes, Matheus, Ruben Semedo, Iuri Medeiros, Esgaio, Domingos Duarte, Tobias Figueiredo, Palhinha, Bruma, Wallyson, Chaby, Ponde, Riquicho (com todo o azar) ou Eric Dier, entre vários outros? Não é na B que poderiam e deveriam continuar a evoluir Ronaldo Tavares, por exemplo?

Ok, vão dizer-me que há muito clube onde os miúdos podem rodar. Será que há? Tipo mandar o Rafael Barbosa, apontado como um dos maiores talentos da sua formação, para o União da Madeira e vê-lo andar do banco para a bancada? E será assim tão simples encontrar clubes fora do sistema que mostrem capacidade e vontade para integrar os nossos miúdos? Temos nós a capacidade estrutural para, depois, fazermos o devido acompanhamento? Ou vamos recuperar o Lourinhanense? Mais curioso, ainda, é constatar como numa altura em que é fixe dizer “a B é para acabar” até se enfia na gaveta algo bem mais gritante do que o que acontece com a equipa principal: as vergonhosas arbitragens que, duas em cada três semanas, prejudicam as nossas cores.

Espero, sinceramente, que a ideia de acabar com a B seja um pensamento exclusivo de alguns adeptos ampliado pelas redes sociais. Ou, por outras palavras, espero que toda a nossa estrutura futebolística olhe com a devida atenção para um problema que existe (a chamada de Luís Martins, mesmo que provisória, parece-me uma boa solução) e que deve ser resolvido à altura de um clube que se orgulha de formar os melhores e de ter nessa capacidade formadora o seu ADN.