…Quando era criança e quando entrei no Sporting, o meu sonho era chegar à 1ª equipa do Sporting. Deixa-me magoado quando meninos da equipa de iniciados dizem “o meu sonho é ser como o Ronaldo e ir para o Manchester United…”. O grande sonho tem de ser jogar na equipa principal do Sporting e ponto final, não há melhor! Eu fui para fora e não há melhor que o Sporting…este clube – a grandeza da sua massa associativa, o amor que as pessoas têm por este clube não se compara ao que vivi lá fora. Não há ninguém igual. Somos únicos, por isso somos diferentes, somos os melhores! (…) Se soubesse o que sei hoje, jogava a minha vida toda no Sporting.

E isto não é só conversa fiada. Eu sei, sem o Beto saber, que esta paixão é mesmo verdadeira…
Como? Lê esta história que te vou contar.

Estas palavras conduziram-me automaticamente ao baú da minha infância. Fizeram-me recuar aos tempos em que um simples autógrafo, fosse de um jogador do Tirsense, Gil Vicente, Leça ou Salgueiros desta vida, preenchia o mundo de um menino inocente e apaixonado por futebol.

Aos Domingos, depois de almoço, nas traseiras do velhinho Magalhães Pessoa, lá estava eu de caderneta debaixo do braço e de caneta em punho preparado para a chegada do autocarro da equipa que jogasse frente ao União de Leiria.
Eu sempre soube que era do Sporting, até porque toda a minha educação futebolística foi-me transmitida em tons de verde e branco. No entanto, o meu pai, natural de Leiria e um leão dos sete costados, nutria um carinho especial pela equipa da nossa cidade. E eu acompanhava-o nesse carinho pelo União de Leiria.

Há mais de 20 anos, num domingo igual a tantos outros, lá estava eu no Magalhães Pessoa, motivado pela inocência da idade e pela adrenalina de conhecer os craques da primeira divisão. Aqueles homens grandes que tantas vezes vi na televisão.

Era dia do Leiria receber o Campomaiorense. Eu estava mais do que preparado para correr desenfreadamente para conseguir a maior quantidade de autógrafos possíveis. Começaram a sair os jogadores a conta-gotas e o primeiro que reconheci e me dirigi foi ao Jimmy Hasselbaink. Ele assinou. Logo a seguir, foi a vez do outro avançado, o Tarcisio, depois veio o guarda-redes – já não me lembro do nome – e, para o fim, com um ar muito mais jovem do que os outros, aparece o Beto – emprestado pelo Sporting no primeiro ano de sénior. Chamei-o, dei-lhe a minha caderneta e ao meu lado o meu pai diz-lhe: “Beto, para o ano é para jogar no Sporting!”. Ele sorriu. E por entre aquele sorriso, eu ouvi: “Eu já ficava feliz só de treinar lá”…

Este foi um episódio que me marcou. Foi ali, pela primeira vez na minha vida, que me apercebi que eles, os homens grandes que eu via na televisão, também tinham sonhos iguais aos meus. Foi ali, há mais de 20 anos, que entendi que o amor ao Sporting não tem idade nem validade. O meu sonho era igual ao dele, mas eu nunca vou saber o que é vestir aquela camisola, nunca vou saber o que é fazer um golo e festejá-lo com os adeptos, nunca vou poder lutar lá dentro pelo Clube que decidi amar… mas ficaria eternamente descansado se, nos dias de hoje, eu conseguisse ver a alegria e o brilho nos olhos destes jogadores como vi há mais de 20 anos nos olhos do Beto. Aquele brilho de quem não trocaria o Sporting por nada deste mundo.

Mas isto não se explica, não é Beto?

Hoje, passados mais de 20 anos, percebo que afinal aquele teu sorriso era tão inocente quanto o meu. Passados mais de 20 anos, consigo perceber o porquê da euforia com que festejavas os golos a beijar o leão que trazias no peito. Hoje, passados mais de 20 anos, percebo que aquilo era amor, que era uma paixão descontrolada. Hoje, passados mais de 20 anos, sinto-me profundamente grato por teres sido um dos capitães do meu clube. Hoje, passados mais de 20 anos, apercebo-me que fazem falta no Sporting, h(H)omens como tu…
Obrigado, eterno Capitão!

Texto escrito por Sporting Sempre em As Redes do Damas
* “outros rugidos” é a forma da Tasca destacar o que de bom ou de polémico se vai escrevendo na blogosfera verde e branca