Tal como em Lisboa, apenas houve eliminatória enquanto o Sporting deixou. E quando os Leões se cansaram de complicar a própria vida, ficou bem vincada a diferença entre as duas equipas com uma goleada onde Coentrão, Bruno Fernandes e Gelson foram figuras maiores e que deixa os Sportinguistas a sonhar com grandes feitos para uma equipa em evolução

fabiojj

 

«Seja no relvado, seja no pelado ou em pedra, temos de fazer tudo para estar na fase de grupos, temos de deixar tudo em campo!», havia dito Fábio Coentrão na conferência de imprensa que antevisão ao jogo. E o lateral esquerdo, posição que tantas dores de cabeça tem dado aos Sportinguistas, haveria de passar das palavras aos actos e inscrever o seu nome como uma das figuras maiores da segunda chapa cinco consecutiva da equipa leonina.

Jesus deixou Bas Dost no banco, lançando Doumbia no centro do ataque. A aposta fazia sentido, conferindo à equipa maior poder de aceleração e uma unidade mais móvel na tarefa de pressionar o último reduto romeno. Mas, ao contrário do que podia esperar-se, o Steaua não entrou a pressionar e à procura do golo. Era o Sporting que tinha a bola, era o Sporting que pressionava alto, seria o Sporting a marcar, depois de um lançamento lateral de Piccini para a área, a quem Mathieu e Acuña deram seguimento antes da bola ficar à mercê de Doumbia para o primeiro do jogo (alguém pediu um gajo que marque golo à Teo?).

Aos 13 minutos o Sporting encaminhava a eliminatória e deixava ainda mais a nu as dificuldades gritantes deste Steaua construir uma jogada. A confiança foi subindo, tanto que haveria de tornar-se em sobranceria dez minutos depois: mais uma bola para Alibec (saber que este gajo custa 2 milhões de euros, dá que pensar quando se fala em reforçar o ataque. Até já usa o 7 do Niculae) e numa sucessão de erros, Coates, Battaglia e Mathieu foram abrindo caminho para que o possante avançado atirasse à baliza de Patrício; o número 1 defendeu, mas na recarga o Steaua chegou ao empate.

As diferenças entre as duas equipas continuavam a ser visíveis a cada toque na bola, mas agora era o lado psicológico a funcionar. E se os romenos estavam empolgados como a possibilidade de lhe cair mais um golo aos trambolhões do céu, os de Alvalade pareciam demasiado inseguros e ansiosos perante a possibilidade de serem eliminados por uma equipa inferior. A defesa acumulava passes mal medidos, Battaglia fazia o mesmo, Acuña não dava uma bola por perdida, mas perdia-a demasiadas vezes.

E se o medo nos ferir, bem para longe da razão, aprendemos a seguir, acertando a direcção…

Como que escutando esta melodia distante, o meio desaparecido Bruno Fernandes começa a aparecer. Adrien já tem mais pulmão, já estica mais o jogo, já se atira para três ou quatro choques consecutivos com os adversários. E o 8 aproveita para ser o calmante da equipa. Contemporiza, vira o flanco, mete curto ou longo. E isola Doumbia, que perde no cara a cara com o guarda-redes a oportunidade de voltar a colocar o Sporting na frente antes do intervalo.

Pedia-se nova entrada de Leão, mas a equipa veio encolhida e novamente a falhar passes. Os romenos não jogam a ponta, mas têm aquele sacana de ponta que está disposto a rematar de onde for preciso. É quando Bruno Fernandes volta a pegar na guitarra, qual Tiago Bettencourt, e envia a mensagem lá para dentro: Partimos a pedra, abrimos caminho, rasgamos montanhas, esquecemos o perigo, corremos na selva, no sol do deserto, no escuro da sombra, ficando mais perto… 

O passe para Acuña é uma delícia só ao alcance de alguns jogadores, o argentino arranca pelo espaço que o recém entrado Dost abriu, aguenta o confronto com o pior defesa direito de que tenho memória, Enache, e com o redes, dá um toque maroto na bola e com a baliza deserta atira para o golo que deixa os romenos a cambaliar. O KO vem logo a seguir. Novamente Bruno Fernandes a iniciar a transição e depois é tudo de Gelson, desde a aceleração até ao travar e rematar cruzado com conta peso e medida.

A eliminatória estava decidida, era hora da nota artística. Passe de classe de Gelson e finalização, de primeira, de Bas Dost, para um grande golo. Depois, Bruno Fernandes recebe na esquerda, espera pela subida da equipa e mete em Coentrão; o lateral carimba a grande exibição deixando um defesa no chão e oferecendo o golo a Bas Dost. Não seria golo por culpa do redes, mas seria de Battaglia, na recarga, o que em termos de sorriso na cara do holandês vai dar ao mesmo.

Esses sorriso e esses abraços mereceriam de Coates um «Vamos carajo!!!!!! Gran partido del equipo!!!!» no Instagram, numa mensagem que soa a Partimos a pedra, abrimos caminho, rasgamos montanha, mas nunca sozinho. É, foi um grande jogo de uma equipa em evolução, aproveitando o bom vento para se deixar levar e para acertar a direcção, fazendo os adeptos acreditarem cada vez mais. E já se sabe que nesta coisa da bola que parece ser complicada, até acaba por ter uma receita simples: Quem no fundo quer vai atrás, quem de longe vê, parte pedra, vai atrás…