E salta! E lança! E luta! Este é um post que gosta da chuva e que exige a existência da mesma sempre que isso significar que o Sporting é BiCampeão Europeu de Atletismo de Pista!

Um prelúdio: esta Taça dos Clubes Campeões Europeus não tem por norma forte participação das grandes potências da modalidade (Alemanha, França, Inglaterra), pois o modelo não passa por, ao contrário de Portugal, agregar o/as melhores em poucos clubes. Daí se perceba a força de Portugal nestas competições, mesmo com o país num patamar secundário enquanto selecção. Os principais opositores, neste caso “as”, são por norma Espanha e Turquia, agora que a Rússia (a super-potência europeia no feminino) também desapareceu de cena. No caso turco, tal deve-se à política de naturalizações que transformou o país numa referência do atletismo. A Turquia conseguiu através deste método, entre outras coisas, tornar-se no #1 do corta-mato europeu, com recurso a africanos e africanas recrutados nos países de origem.

Quanto a regras, dois elementos estrangeiros por equipa, não havendo necessidade de federação prévia, ou seja, o termo “mercenário” assenta perfeitamente nesta competição.

As meninas do Sporting, sem Sara Moreira (que acabou por não fazer grande diferença na pontuação), partiam como favoritas, com o Enke a partilhar tal título.

O primeiro dia decorreu dentro da normalidade, com resultados esperados, sendo que as únicas “falhas” foram os 4º postos de Svietlana Kudzelich, uma das estrangeiras (esta porém já com algum tempo de casa, nos 1500m), e Marta Onofre, no salto com vara. As turcas assumiram o favoritismo, com as suas cabeças de cartaz, a sprinter Ivet Lalova e a fundista Yasemin Can (actual campeã europeia dos 5000m e dos 10.000m) a dominarem as suas provas.

Patrícia Mamona, depois de oito meses de paragem, regressou à competição e saltou 13,53m, deixando todas as adversárias para trás e alcançando o único primeiro lugar de sábado. Ainda assim, as Leoas chegavam à última prova do dia em condições de disputar a vitória e encurtar distâncias para o primeiro lugar, pensamento que se transformou em verdadeiro balde de gelo à chuva, quando a primeira passagem do testemunho ocorreu fora da zona de transmissão e levou à desclassificação da estafeta de 4x100m composta por Lorene Bazolo, Rosalina Santos, Olímpia Barbosa e Filipa Martins. Zero pontos acumulados e o fosso para as turcas a cavar-se nos 13 pontos de distância.

O segundo dia foi uma “corrida de trás para a frente”, com as Leoas a somarem vitórias e lentamente a encurtarem distâncias.

Olímpia Barbosa ganhou nos 100m barreiras (acabando quatro centésimos à frente da adversária!!!), Evelise Veiga venceu o comprimento (novo recorde pessoal, recorde nacional sub-23 e segunda de sempre atrás de Naide Gomes), Irina Rodrigues ganhou o disco (com a turca a fazer apenas 7º) e Noelie Yarigo, a “mercenária” vinda do Benim, venceu os 800 m, numa prova em que liderou do início ao fim e em que a representante turca ficou fora do pódio.

As turcas quebravam nas provas em que eram mais fracas, demonstrando inegável diferença de qualidade entre as naturalizadas e as locais e o Sporting, depois de roubar o segundo lugar ao Valência, já olhava para o topo!

Entretanto Lorene Barzolo fez os mínimos, perdendo (novamente) apenas para Lalova, enquanto que Svietlana Kudzelich foi segunda na sua prova de eleição, os 3000m obstáculos. No outro lado do Alexander Stadium, Sílvia Cruz lançava o dardo a 47,31m, marca que serviu para recolocar a equipa verde e branca no primeiro lugar da geral.

O Sporting já estava taco a taco e a esperança renascia. A “turcafricana” Can voltou a fazer uma prova a solo nos 3000mt, com Catarina Ribeiro (3ª) a minimizar os estragos, e o 5º lugar no salto em altura deixou tudo como no início.

Enke e Sporting entravam para a estafeta de 4×400 empatadas. Com chuva tipicamente britânica a dificultar ainda mais a corrida, as Leoas não se deixaram intimidar e dominaram desde o primeiro percurso. As turcas foram-se atrasando e aquando da última transmissão já cheirava a título, conquistado de forma épica na prova que podia ter deitado tudo a perder e que tanto nos fez festejar!

bicampeas

Nota de rodapé para a prova masculina, em que o rival SLB esteve próximo de repetir o feito obtido pelo Sporting alguns anos atrás. Neste caso, a sociedade das nações do Enke levou a melhor, ficando os encarnados com um travo amargo na boca. Para lá de algumas ausências esperadas, teria bastado a presença de Marcin Lewandowski para que Portugal obtivesse a dobradinha. O polaco foi contratado especificamente para este evento, mas o Sumol que acompanhou a sandes de pagamento estaria fora de validade, e este ficou impedido à última hora de dar o seu contributo. Fica para a próxima. Porém, há que realçar que ficou demonstrado que dificilmente será este ano que tiraremos o título de pista masculino aos vermelhos.

Post elaborado com base no comentário feito por Nuno, o Crente em Jesus e empratado por Cherba com alguns condimentos para apurar o lado dramático da coisa
*«eu ouvi o teu comentário» é servido sempre que o homem do balcão consiga distinguir uma boa posta por entre o barulho dos pratos