O sucesso das modalidades visto por Rui Caeiro, vogal das modalidades e administrador executivo da SAD do Sporting.

Virando agora a página para as modalidades e olhando para as recentes conquistas dos Campeonatos de voleibol, andebol e hóquei em patins estando ainda a disputar o de futsal, é apenas o maior investimento que ajuda a explicar este sucesso? E como chegou a uma posição de conforto a nível de orçamentos saindo de uma situação onde as modalidades estariam em risco em 2013?
A grande responsabilidade desta inversão é dos sportinguistas. Do presidente Bruno de Carvalho e desta Direção que fez uma inflexão de estratégia a nível de quotas dos associados, colocando-as ao serviço das modalidades, e depois dos sportinguistas que têm apoiado. É redutor dizer que o maior investimento traz melhores resultados: houve mais investimento, sim, mas também houve outra atenção e dedicação às modalidades, que passaram a ter uma importância como não tinham há muitos anos e que foi acompanhada. Esses três vetores são o segredo do sucesso. Os primeiros dois anos foram diferentes, de estabilização e ainda duros do ponto de vista financeiro, os últimos três tivemos mais investimento não só na seleção dos plantéis e dos atletas de exceção mas também de dotar o clube de condições, a nível de infraestruturas, como o Pavilhão, que não existiam. Um atleta do Sporting hoje sente-se acarinhado, acompanhado e com condições que o fazem crescer. O grau de exigência e de rigor são elevados, mas é por isto que querem também vir para o Sporting.

Vendo agora uma a uma, começando pelo voleibol. É mesmo como Miguel Maia diz, que o orçamento do Sporting era inferior ao do Benfica e que não fazia sentido atribuir o sucesso à questão do investimento?
O orçamento do Sporting era metade do orçamento do Benfica mas isso não fez com que a qualidade dos jogadores fosse inferior aos que estavam no Benfica. O desporto não é uma ciência exata, nunca foi nem nunca será e nem sempre corre bem, mas, no caso do voleibol, houve um projeto muito bem pensado, muito estruturado a nível de metodologia de como ia ser implementado e com uma seleção criteriosa nos atletas.

É para seguir o exemplo das restantes e apostar na Champions na próxima época?
No próximo ano vamos participar na Taça Challenge. Temos equipas há anos na modalidades e que continuam a ir pela Challenge, por alguma razão será. Pareceu-nos nesta altura a opção mais prudente. É a primeira vez que vamos competir nesta prova, teremos a nossa curva de experiência por lá e veremos como se fazem as coisas.

Passando agora para o futsal, houve uma viragem de perceção após a derrota na final da UEFA Cup e sobretudo quando se começou a falar na possibilidade Ricardinho. Vai mesmo ser reforço do clube?
Não sei a que mudança se refere…

Uma mudança de quem percebe que é preciso algo mais para alcançar esse objetivo de vencer a UEFA Futsal Cup, por exemplo.
Pela segunda vez consecutiva fomos à final da UEFA Cup, sendo que no início da época fizemos um investimento na equipa para procurar a vitória nessa prova. Não foi possível e percebemos que ainda estamos a uma clara distância dos nossos adversários, que também verdade seja dita têm orçamentos quatro ou cinco vezes superiores, pelo que nem deveria ser argumento. Queremos ganhar aquela competição e vamos procurar reforçar a equipa com esse objetivo.

Com Ricardinho?
Não sei se isso será assim tão relevante… Está a criar-se uma panaceia à volta de um atleta, há quem faça mais ou menos a diferença, mas é no coletivo que está a diferença.

Sem olharmos então para nomes, existem modelos de negócios que permitam por exemplo pagar cinco milhões de euros a um atleta por quatro ou cinco anos sem desequilibrar orçamentos?
Admito que sim. No caso do Sporting, a principal fonte de financiamento são os associados e é dentro do rigor desse investimento que queremos trabalhar.

O naming do pavilhão continua em cima da mesa?
Quaisquer fontes de receitas que permitam angariar receitas estão sempre em cima da mesa.

Qual foi a primeira coisa que Bruno de Carvalho lhe disse após o título de hóquei em patins 30 anos depois, tendo em conta a ligação que tem à modalidade?
Penso que essa foi uma conquista determinante para todos os sportinguistas porque há 30 anos que não éramos campeões e foi um título exaltado por todos, até mesmo por quem não gosta da modalidade. Para o presidente foi ainda mais porque teve uma passagem como dirigente pelo hóquei em patins quando andava fora do clube e foi o grande impulsionador da entrada da modalidade de novo no clube e do investimento que tem sido feito nos últimos quatro anos.

Para si, enquanto dirigente, foi o mais especial?
Enquanto dirigente não consigo dizer qual foi o mais ou menos especial. Foram todos festejados da mesma forma porque são todas iguais para mim. Enquanto sportinguista, claro que foi especial porque há 30 anos que não conseguíamos ganhar o Campeonato de hóquei em patins.

Foi também revelado durante a semana uma SMS mais dura de Bruno de Carvalho para os jogadores, após a derrota na meia-final da Liga Europeia com o FC Porto. Como é gerir uma equipa após receber uma mensagem assim e tendo ainda as aspirações intactas no Campeonato?
Sobre SMS, mensagens ou Whatsapp, que nem sei o que foi, não me parece que seja muito relevante e os próprios jogadores deram uma resposta com sentido de humor. Se calhar pela primeira vez na história podemos ser campeões em todas as modalidades, se o futsal alcançar esse objetivo, e nas duas outras de maior relevância, o atletismo e o ténis de mesa. E também fomos de futebol feminino, de râguebi feminino, de natação, de ginástica… Tudo isto é ímpar na história do Sporting, nunca houve um momento como este. Temos 55 modalidades, que também é ímpar na história do clube, do desporto nacional e talvez mundial. Tudo o resto são fenómenos paralelos que pouco devem interessar ao Sporting enquanto instituição.

O andebol teve um início mais complicado de época também pela Liga dos Campeões mas somou quase 30 vitórias seguidas, é bicampeão e cai a notícia da operação Cashball. A partir do momento em que o caso se tornou público, notou alguma diferença?
Não vi nem me apercebi de diferença nenhuma. É um tema que está a correr num processo, num circuito normal, e os atletas têm estado à altura. Agora na Taça de Portugal tivemos um jogo excelente com o FC Porto e outro menos conseguido com o Benfica, mas o mais importante é que os atletas e os técnicos se centrem no trabalho e em cumprir o nível de exigência elevado que é pedido.

Qual foi o impacto que essa investigação gerou em termo internos?
Esse tema do Cashball foi referido em todas as sessões de esclarecimento aos sócios. Confesso que quando vi aquilo na capa também me interroguei o que era aquilo. A preocupação nesse tema é algo óbvio e normal, mas o Sporting não tem nada a ver com isso e as coisas serão resolvidas nos seus trâmites normais.

Existiu também uma posição institucional de defesa de André Geraldes, team manager do futebol e uma das figuras do Sporting envolvidas no processo. Em paralelo, saíram notícias de que teria mais de 60 mil euros em notas num cofre quando foram feitas as buscas e que haveria a vontade de perceber de onde tinha vindo o dinheiro. O Sporting tentou perceber o que era aquilo?
O Sporting demonstrou solidariedade porque nada leva a crer que alguma coisa tenha acontecido. Depois, iremos analisar e esclarecer também a situação. O clube emitiu comunicados oficiais onde tem tentado tranquilizar os sócios sobre esse assunto.

Está à espera de mais buscas em Alvalade em breve?
Bom, esse processo até ao Cashball não era propriamente comum no Sporting porque não houve mais nenhuma… O Sporting é um clube transparente e estamos disponíveis para colaborar com todas as autoridades sobre o que for necessário. Aguardaremos pelas decisões que serão tomadas, mas não estamos preocupados com o que se possa passar.

entrevista concedida ao Observador