Ponto final parágrafo nas contas cheias de ses do campeonato, duro golpe na missão de garantir o acesso à Champions, para a qual deixamos de poder contar apenas connosco. Entre uma arbitragem encomendada, mais uma primeira parte falhada e uma mão cheia de golos desperdiçada, assim se conta a história de novo empate do Sporting no Bonfim

Quando ouço o nome Hélder Malheiro, a minha mente pula imediatamente para aquele lampião de voz abagaçada, que vive de dizer mal de tudo e de todos e para quem a verdade vai alternando ao sabor do que lhe dá jeito. Respiro fundo quando percebo que foi apenas uma momentânea confusão de nomes, mas depressa percebo que a encomenda é igual ou pior.

Não foi à toa que Vieira gritou e Salvador e Abel serviram de eco, depois de serem despachados da Taça de Liga. Não foi à toa que Rui Gomes da Silva aproveitou a boleia e escreveu “Frederico Varandas está a pôr-se a jeito, com invocação de linhas imaginárias…”. Tanto não foi à toa que, ontem à noite, Hélder Malheiro fez uma arbitragem para lá do vergonhoso e ajudou, de forma decisiva, a matar o Sporting para o campeonato, transformando em cinzas o embalo de uma conquista antes de um dérbi que, com outro Malheiro de serviço, poderá matar o Sporting para a luta pelo acesso à Champions.

Malheiro fez tudo e para todos os gostos. Além da expulsão de Ristovsky, que se percebe porque Malheiro é um gajo que estudou nas mais reputadas universidades macedónias e traduziu letra a letra a reclamação do lateral direito depois de levar uma cotovelada e ficar com um hematoma na cabeça do tamanho de hoje e de amanhã (espero que o Sporting exija saber o que o árbitro publicou no relatório e torne essa vergonha pública), o padre escolhido para dar missa junto ao Sado ainda conseguiu transformar um penalti sobre Raphinha num lance de bola dividida, deixou um (pelo menos) jogador do vitória por expulsar por acumulação de amarelos e deu um verdadeiro festival de dualidade de critérios na análise dos lances, tantos e tantos deles terminados em faltas grosseiras e consecutivas não assinaladas a nosso favor, ao contrário das que iam sendo assinaladas contra o Sporting só porque sim.

Claro que a culpa do que se passou ontem não morre solteira. Claro que devia ser alvo de análise profunda, o facto de andarmos há 21 jogos a sofrer golos fora de casa. Claro que devia ser alvo de análise profunda, o facto de, para o campeonato, termos apenas três vitórias em nove jogos como visitantes. Claro que devia ser alvo de análise profunda, o facto de apenas termos ganho dois dos últimos sete jogos realizados. Claro que devia ser alvo de análise profunda, o facto da equipa ter deixado de praticar Keizerball após a derrota de Guimarães. Claro que devia ser alvo de análise profunda, o facto do treinador andar há semanas a questionar a forma como a equipa aborda mal as primeiras partes e se vê obrigada a recuperar de desvantagens. Claro que devia ser alvo de análise profunda, o facto de Jovane e Miguel Luís terem desaparecido das opções, dando lugar a quem nada acrescenta à equipa.

Claro que devia ser alvo de análise profunda, a actual crise de confiança de Bas Dost, capaz de, aos 8 e aos 11 minutos, falhar dois golos feitos, daqueles que o Dost não falha, na cara do redes. Claro que devia ser alvo de análise profunda, o facto de levarmos mais um golo por incapacidade de fazermos correctas transições defensivas, transformando uma bola dentro da área adversária numa bola dentro da nossa baliza. Claro que devíamos questionar o porquê de termos sempre menos horas de descanso do que os nossos adversários directos, valorizando a forma como os jogadores têm sido capazes de disfarçar essas diferenças de tempo de repouso e, mais grave, como têm sido capazes de disfarçar o facto de nem termos tido pré-época. Claro que será de uma enorme injustiça acusar os jogadores de falta de entrega, como que confundido a possível falta de qualidade com falta de vontade.

No meio de tanto facto, permitam-me uma espécie de resumo. A arbitragem de ontem é a arbitragem que nos tem prejudicado nas últimas três décadas. E a merda de primeira parte de ontem é a mesma merda de primeiras partes que nos têm feito perder pontos atrás de pontos nessas mesmas décadas de roubos de apito. Claro que jogar menos bem não justificará, jamais, os erros grosseiros de arbitragem. Mas, se olharmos para a tela com pinceladas de ambas as situações, temos uma verdade indesmentível: estaremos mais perto de ganhar qualquer jogo, contra tudo e contra todos, se entrarmos nesse mesmo jogo como terminámos o de ontem, encostando o adversário às cordas, assumindo a tal identidade de jogo ofensiva e “batendo-lhe” até estarem tantas lá dentro que não haja Malheiro que nos mate.

You can’t hide from the truth
Because the truth is all there is
You can’t hide from the truth
Because the truth is all there is
You can’t hide from the truth
Because the truth is all there is
You can’t hide