No regresso do futebol à chuva, o Sporting manteve a tradição de ter que sofrer para vencer em Arouca e teve nos pés esquerdos de Daniel Bragança, Sarabia e Nuno Santos a chave para conquistar três pontos

golo arouca

Depois de mais um desaire na Champions, o Sporting voltou ao campeonato e voltou a ganhar. Permitam-me começar por aqui, pois parece-me um ponto importante, ou não tivesse eu bem frescas memórias daquelas manhãs em que se fala de ressaca. A verdade é que o compromisso da equipa se mantém quando passa da alta roda para o futebol cá do burgo e isso só pode ser uma boa notícia.

A outra boa notícia é que, fruto desse compromisso, fomos a Arouca somar mais três pontos, sofridos e justos, numa partida onde Amorim promoveu uma espécie de revolução na equipa, colocando Esgaio e Matheus Reis como companheiros de Coates, Nuno Santos como lateral esquerdo que faz todo o corredor, Bragança a comandar o miolo ao lado de Palhinha e Matheus Nunes mais descaído para a esquerda, num papel que nem era extremo nem era interior.

E acabaria mesmo por ser o camisola 8, a celebrar a sua chamada à selecção portuguesa, a abrir o marcador, corriam 14 minutos de jogo. Nada que o Gabriel Alves não tivesse previsto no seu bloco de notas, embora sem saber que o tal golo até aos 15 aconteceria numa jogada daquelas que vale a pena ver muitas vezes. Bragança recebeu com classe e ficou de frente para o jogo, decidindo que era hora de acelerá-lo do seu pé canhoto para o pé canhoto de Sarabia, que deu para o canhoto Paulinho meter ainda mais à esquerda, para Nuno Santos, que quando voltou a meter a bola na direita encontrou novamente Sarabia na assistência para o sorriso com compasso de VAR de Matheus Nunes.

Estava feito o mais complicado, mas nem por isso o Sporting descansou, porque Leandro Silva mostrava qualidade no meio campo adversário e ia lançando o vertiginoso palestiniano, Oday Dabbagh, sempre pronto a testar o limite do fora de jogo e deixar Adán em sobressalto. Claro que tudo poderia ser mais tranquilo se Sarabia, que muito beneficiou na presença de Bragança em campo para se aproximar mais de zonas de finalização, visse uma das duas oportunidades que teve acabarem dentro da baliza. Ou, mais ainda, se Paulinho não acumulasse mais um momento daqueles que exigem rápida ida ao psicólogo, falhando de cabeça quando a nação leonina já gritava golo.

Numa noite a querer dizer-nos que o verão só volta lá para o São Martinho, as coisas ficaram mais desagradáveis quando, já a segunda parte avançava de mansinho, um canto a favor do Sporting deu origem a um contra-ataque conduzido pela cavalgada de Bukia que, sem que ninguém lhe desse um daqueles toques que desequilibram, chegou à área leonina, cruzou para uma primeira intervenção de Adán e para a recarga do tal Dabbagh.

O caldo estava entornado, ou quase, que pouco depois o Sporting recolocou-se em vantagem, quando Nuno Santos arriscou rematar de fora da área, a bola bateu na perna de um defesa e ganhou velocidade na relva molhada, passando por baixo do corpo do redes. Mais um momento de amor vindo da canhota, mais uma jogada que começou no pé esquerdo de Daniel Bragança, rapaz que encheu o campo e agarrou a oportunidade, dando ao futebol leonino uma geometria e uma inteligência que pede continuidade. Claro que todos adoramos o músculo de Coates e de Palhinha, a quem se juntou Ugarte para segurar a vantagem até final, mas, diga-se o que se disser, é quem beija a bola quando a chuta que prolonga no tempo esta inexplicável paixão pelo futebol.

And all your left handed kisses
Were just prelude to another
Prelude to your backhanded love song, baby