A verdade é esta. Andamos há meses em pré-época graças ao modelo competitivo que a Federação Portuguesa de Voleibol criou. Das 14 equipas que começaram esta primeira fase, apenas 8 passavam à segunda fase da competição, não interessando se ficavam em 1º ou 8º. Acabámos em 3º lugar, com 3 derrotas (Sporting Clube de Espinho, SL Benfica e AJ Fonte do Bastardo).

A pergunta que toda a gente quer ver respondida é só uma: Até onde chega este Sporting CP?

Numa análise mais geral parece que estaremos numa luta com a AJ Fonte do Bastardo pelo 2º lugar do campeonato e passagem à final do mesmo. Podemos ficar em 2º ou 3º dependendo do nosso desempenho. A verdade é que os deslizes do SL Benfica na época passada fizeram cair o rival para a 2ª posição (nós fomos 3º) e isso “tramou-nos”. Jogámos com o adversário mais forte nas meias-finais. Este ano, a minha expetativa e a realidade vai constatando que o SL Benfica continua a ser a melhor equipa do país com alguma distância. Os campeões fazem-se no campo e dar campeonatos por vencidos apenas devido a favoritismo já iludiu muita gente no desporto. Vamos à luta!

Temos, evidentemente, equipa para estar na final de qualquer competição disputada em Portugal, a não ser que, por sorteio ou incompetência, joguemos com o SL Benfica em fases prematuras a uma final. Ao nível das competições europeias é usar a conversa à futebol dizendo que é “jogo a jogo”. Admito que estou farto da Challenge Cup. Já vamos em 4 anos consecutivos nesta 3ª linha europeia do voleibol e assistir ao nosso nivelamento por baixo deixa-me cansado. Já que estamos, é para ganhar!

Numa análise mais específica por jogador, posso dizer que estamos melhor agora que no início da época. Aliás, diria que demos um pulo qualitativo interessante no último mês. A vinda e a adaptação dos cubanos, em especial o Leon, trouxe qualidade à equipa. Analisemos jogador a jogador:

Joaquín Gallego
Ao contrário do que eu pensava, ainda não se assumiu como titular indiscutível. No início da época, e com a reputação de ser o melhor central da época passada do campeonato espanhol, achava que iria estar na luta com o Barth pela titularidade. O decorrer da época tem mostrado que a luta é com Victor Hugo. Os treinos dirão se jogará mais nos jogos importantes. Tem uma qualidade semelhante aos colegas de posição.

Victor Hugo
Veio da época passada com um rótulo de bom jogador. Começou bem este ano, sendo titular e a jogar bem. Nos jogos mais a doer tem-se ido um pouco abaixo, obrigando o treinador a optar por substituí-lo. Estando em forma, acho muito complicado alguém lhe tirar lugar nesta equipa porque tem explosão, bloco e emoção que uma equipa precisa dentro de campo.

Tiago Barth
É a minha 2ª grande surpresa da época. Bem em todos os momentos do jogo. Sem exuberância, mas com eficácia, vai estando muito bem no ataque, bloco e serviço.

Hugo Vinha e Frederico Santos
Vai parecendo que o Frederico está um patamar acima do Hugo Vinha em termos de hierarquia, dando a importância de ser o 2º distribuidor da equipa. Ainda estão longe do exigido no Sporting CP, mas nota-se que têm trabalhado. O principal problema que lhes noto é a chegada à bola para o passe, onde um distribuidor tem de estar todo dentro da bola antes de passar. Nota-se que evoluíram os dois neste gesto técnico. Os nervos acredito que atrapalhem na hora de jogar também. Precisam de jogos, mas ainda mais de treino. Estão com o treinador certo para lhes ensinar.

Thiago Gelinski
Começou brilhantemente a época. Tem uma técnica de passe fabulosa e o discernimento na decisão também é muito bom. Se a equipa estiver bem, não é por aqui que quebra. Fez um ou outro jogo menos conseguido, mas nada que belisque a sua qualidade. Este ano optamos por elevar a qualidade do distribuidor em relação aos outros anos, tendo um segundo distribuidor com um nível mais baixo. Concordo com a opção e por isso tenho 47 figuras de santinhos na mesinha de cabeceira do quarto para ajudar a que ele nunca se lesione.

Gil Meireles e João Fidalgo
O João Fidalgo leva vantagem e tem jogado. A confiança do Gersinho está mais no João Fidalgo por ser um jogador mais líder e mais completo. Ao contrário de há 2 anos, a rotação de líberos entre recepção e defesa deixou de ser uma opção para o nosso treinador, o que faz perder espaço ao Gil Meireles.

José Israel Masso Alvarez
O cubano chegou e tem jogador relativamente bem. Dá a entender que é uns furos melhor que os nossos 2 anteriores opostos suplentes, Rodrigo Pernambuco e Saliba. Ainda tem um caminho gigante de desenvolvimento técnico pela frente, mas tem a estrutura física dominante que o pode tornar num craque. O futuro dirá onde estará em 3 anos, para este ano conto que possa ser uma boa rotação para o PV descansar.

Paulo Victor
Acho, sinceramente, que está a fazer uma época melhor que o ano passado. Penso também que é preciso mais porque tem qualidade para se elevar. Quando, psicologicamente, está bem, discute com o Hugo Gaspar o melhor oposto da liga. Precisamos de um PV de alto nível para estar mais perto de vencer. Com ele em modo craque, acredito até em vencer o campeonato. É um ponto crítico de sucesso.

Robinson Dvoranen, Yohan Leon, Tom D-P, Rafael Cavalcanti
O Bob, pela qualidade de primeiro toque, é um jogador que estará sempre mais perto de jogar do que não jogar. A recepção (ao serviço) é dos pontos mais importantes no jogo de voleibol e o Bob é exímio. Em termos de ataque, não é segredo dizer que será o menos forte entre o Tiago, Leon e Tom. Tenho pensado se uma adaptação do Bob a líbero seria benéfica para a equipa. Não descartava esta possibilidade porque ele assumiria, facilmente, uma percentagem de campo grande o que dava espaço de ataque aos outros 2 colegas. Relativamente ao Leon, este foi um upgrade à equipa. Tem como ponto mais vacilante a sua recepão, mas o ataque consegue compensar muitas vezes esta fraqueza. Ainda bem que veio.

Quanto ao Tom é a grande incógnita da época. O orçamento parece que esticou um pouco e o atraso da vinda dos cubanos obrigou a um reforço de última hora. Espera-se muito mais do internacional australiano. Tem currículo e qualidade para jogar mais do que contra equipas como a AA São Mamede. Cabe-lhe a ele mostrar ao Gersinho que é opção. Para já, tem 3 jogadores à frente dele.

O Rafael é um jogador sem espaço no plantel dada a quantidade e qualidade dos colegas. Está numa fase de aprendizagem e deve aproveitar esta oportunidade.

Em termos gerais, contando com o Tiago Pereira, que falarei em seguida, temos jogadores a mais para a posição. Num orçamento longe daquele do 1º ano de voleibol, eu não me daria ao luxo de ter 4 jogadores com uma qualidade semelhante. Preferia 3, onde um se distinguiria bastante em relação aos restantes. Neste momento, veremos se o Tom possa ser esse jogador. Digo isto porque claramente é aquele que está ainda abaixo das expetativas.

Tiago Pereira
De todos os jogadores de zona 4, gostava de distinguir o Tiago Pereira. Quem lê a Tasca repara que já várias vezes falei nele. Ele é a grande surpresa da época. Diria, com alguma certeza, que pouca gente apostava nele como titular e a ter o impacto que tem. Explosivo, Vivo, Mentalidade forte, joga com as forças tentando que estas escondam as fraquezas. Não é perfeito, mas a atitude competitiva está a levá-lo longe. Acho que o facto de ser sportinguista como nós faz a diferença. Parece-me que não lhe é indiferente vestir esta camisola. A responsabilidade que se impõe é contagiante e cria uma empatia imediata. É, DE LONGE, o jogador que aproxima esta equipa aos adeptos. Espero que os colegas percebam isso e se “colem” a ele. Obrigado, Tiago, por teres vindo para o Sporting CP, estamos melhores contigo aqui.

Conclusão
A verdade, por muito dura que pareça, é que pouco se espera ao nível de conquistas. Tal como no feminino, a verdade é que se vê uma equipa muito melhor que as outras. Esta luta competitiva é muito importante e cabe à equipa posicionar-se para ter os adeptos do seu lado. Infelizmente, penso que também se está a travar uma luta interna quanto ao futuro da seção. O limbo não está no ADN do Sporting CP, por isso veremos.

 

*às terças, o Adrien S. puxa a bola bem alto e prega-lhe uma sapatada para ponto directo.