A derrota foi inapelável, o sentimento foi de impotência. Na primeira mão dos 8vos de final da Champions, o Sporting foi atropelado por um Manchester City que é de outra galáxia e disse adeus à prova milionária quando ainda faltam 90 minutos de luta. E o que é que isto tem a ver com uma história de amor?

 

Por muito que seja esperado, magoa. Magoa e não é pouco. 0-5, com 0-4 ao intervalo, o mais desnivelado resultado ao fim de 45 minutos numa fase a eliminar da Champions. Escreve-se assim o placard final do Sporting vs Manchester City, uma partida de sentido único que deixa decidido este embate dos oitavos da Champions quando ainda falta jogar a segunda mão.

Time
It needs time
To win back your love again
I will be there
I will be there

Alvalade teve a sua primeira casa cheia pós pandemia, num cenário que até deu para recordar o velhinho Alvalade, ao ver várias pessoas espalhadas pelas escadarias do topo sul. Sentia-se no ar aquela esperança de fazer o mundo do futebol abrir a boca de espanto, aquele pensamento escondido que transforma os underdogs em heróis, e diria que esse pensamento passou para o relvado, pois ainda o Mundo Sabe Que ia a meio e já os Leões se enchiam de ousadia para tomar de assalto o meio campo inglês. Matheus Nunes acelerava, na procura de Sarabia e de Pote, convidando Porro a subir e provocando nas bancadas um frenezim contagiante.

Acontece que, do outro lado, estava uma equipa que não costuma falhar quando pode matar. E assim foi, com a crueldade da recarga de Mahrez ser anulada pela bandeirinha do auxiliar, mas transformada efectivamente em golo pelo VAR. Era a primeira vez que o City vinha à nossa área, era a primeira vez que explorava os espaços, era a primeira vez que aparecia a jogar dentro da caixa dos penáltis. Golo. 0-1.

Love
Only love
Can bring back your love someday
I will be there
I will be there

A voz da bancada respondeu à festa inglesa, mas dez minutos volvidos, na sequência de um canto, o “yééé” voltava a soar vindo lá do outro topo e agora com a dor extra de ter que levar com um Bernardo Silva a imitar Cristiano Ronaldo no festejo, depois de disparar uma bomba de ressaca. O jogo acabou ali, aos 17 ou aos 18 minutos. Por muito que aqueles rapazes de verde e branco suassem a camisola, a sua luta foi sempre desigual. Porque o adversário era mais rápido, porque era quase sempre mais forte, porque saía do 1×2 com uma simplicidade doentia que até teria piada se não fosse contra nós. Bernardo Silva e De Bruyne foram sempre um tormento e foram eles quem mostrou sempre o caminho: os espaços livres. Entre Coates e Inácio, entre Inácio e Porro, entre Coates e Matheus Reis, entre Matheus Reis e Esgaio. E neste jogo de ocupar espaços, Palhinha, Matheus Nunes, Sarabia, Pote e Paulinho surgiam condenados a perseguir sombras na ânsia de ganhar uma bola que quase nunca foi nossa.

Fight
Babe, I’ll fight
To win back your love again
I will be there
I will be there

Veio o terceiro, veio o quarto, veio o intervalo e veio o quinto, primeiro anulado, depois disparado para mais um golo candidato a melhor desta jornada da Champions. À mão cheia, os ingleses desaceleraram e guardaram a bola. No fundo, foi sempre como eles quiseram, o que explica que não tenhamos feito um remate à baliza, numa diferença que voltou a ficar explicada quando entra um Gundögan que com o seu nome de medicamento para a azia ainda nos lixa mais a noite com a facilidade com que gere os acontecimentos.

Por esta altura (mentira, foi bem antes), já este que vos escreve pensava no jogo de domingo, contra o Estoril. Claro que resmordia a não entrada de um Edwards, claro que me incomodava a manutenção do Esgaio em campo quando havia um Nuno Santos no banco, claro que pensei milhentas vezes porque raio Ugarte não fez companhia a Palhinha e seu deu mais liberade a Matheus Nunes, transformando o 3-4-3 num 3-5-2 que pouco mexia nas rotinas defensivas. Pensei e resignei-me. Depois, emocionei-me, quando a turba se uniu de coração em sangue e alma ferida, em algo que está longe de ser uma apologia das vitórias morais, antes uma mensagem que mereceu o aplauso de Gary Liniker e que foi captada na perfeição por Jack Humphrey, ao escrever na sua página “Sporting fans were amazing tonight. 5-0 defeat at home & stayed behind to applaud the team and manager. It’s a reminder of the power of a shared journey. If you communicate effectively, and bring people with you, they’ll stand beside you even when times are tough…”

Love
Our love
Just shouldn’t be thrown away
I will be there
I will be there