Na ressaca da eliminação europeia, o Sporting venceu em Guimarães sem margem para discussão. Depois de uma primeira parte penosa, os Leões encontraram num golo à Pote o caminho para levar de vencida um Vitória que apenas fez um remate à baliza de Adán

Jogar num Clube como o Sporting tem que ser motivação suficiente. Sabemos em que Clube estamos e sabemos qual é a responsabilidade de jogar num Clube desta dimensão“. As palavras, mais ou menos por esta ordem, pertencem a Coates, na flash interview, e acabam por encaixa naquilo que foi o jogo de Guimarães.

A visita à cidade Berço foi o primeiro de seis jogos que nos separam do final de uma época que encaixa que nem uma luva num provérbio popular: o que nasce torto, tarde ou nunca se endireita. Ora, a pré época deu todos os sinais de que isto podia correr mal, a abordagem ao mercado foi patética, a gestão do plantel altamente questionável, e o resultado é este: quarto lugar quase certo e uma mão cheia de nada, com a última pancada a ser recebida há quatro ou cinco dias, com a eliminação da Liga Europa, frente à Juventus. Ainda assim, nota para os 21.893 presentes em Guimarães, numa segunda feira à noite, ao que parece a melhor casa dos minhotos esta época. E, sim, isso também diz muito da resiliência dos adeptos leoninos.

A primeira parte foi o espelho de uma equipa de ressaca. Houve um remate bufa de Diomande, depois houve um remate a sério de Esgaio, cortado por um defesa quando se encaminhava para a baliza. Tirando isso, muita posse de bola e um Pedro Gonçalves realmente inconformado desde o primeiro minuto, mostrando que as lágrimas que lhe corriam pelo rosto quando abandonou o relvado, na quinta feira, foram realmente sentidas.

Do outro lado, o Vitória sabia que precisava de ganhar para não deixar escapar o Arouca na luta pela Europa, mas o que se viu foi uma equipa mais interessada em tapar os caminhos para a sua baliza do que qualquer outra coisa, numa postura bem traduzida nas estatísticas: um remate à baliza do Sporting, mesmo em cima do intervalo, que até teria dado golo não fosse a capacidade da linha defensiva leonina colocar André Silva em fora de jogo (com Esgaio a assistir a tudo). Não admira que os vimaranenses tenham apenas um ponto somado nos últimos seis jogos, e agora até já estejam atrás do Famalicão.

O segundo tempo não podia começar da melhor forma: Morita encontrou Pote entre a defesa e o meio campo adversário, o 28 recebeu de forma perfeita, orientando a bola para poder rodar e ficar de frente para a baliza. O remate, esse, foi daqueles passes que pote fazia no ano do título, e que, tal como este, acabavam sempre dentro da baliza. Prémio merecido para Pedro Gonçalves, jogador que, embora por vezes nos irrite, consegue, mesmo tendo que andar a saltitar entre o meio campo e o ataque, ser o único consistente na hora de olhar a baliza adversária:
2020/21: 26 G/A (23 golos + 3 assistências)
2021/22: 26 G/A (15 golos + 11 assistências)
2022/23: 31 G/A (20 golos + 11 assistências)

O rapaz que ainda pode vir a ser o melhor marcador do campeonato (está a dois golos de quem lidera a lista) dava o mote para uma boa segunda parte do Sporting, que melhorou totalmente como equipa, de Chermiti, que passou a ter mais bola, servindo várias vezes de apoio e saindo bem nas desmarcações, até Adán, que acabaria por fazer uma assistência para Arthur marcar o 0-2, já nos descontos, colocando um ponto final na partida. Pelo meio,  Ugarte abriu os tentáculos e passou a estar em todo o lado, Morita foi o elo perfeito que fez jogar, até Trincão veio do banco com uma surpreendente energia.

Obviamente que não faltaram aqueles momentos em que parecemos uns amadores a jogar e nos impedem de chegar mais longe, como por exemplo quando Chermiti quis rematar em vez de demeter no isoladíssimo Pote, ou quando Trincão mostrou ter a visão periférica de um corsel com palas, e meteu em Pote quando Edwards estava completamente sozinho. Também não faltou a magia do apito, que mesmo com recurso à televisão não conseguiu ver um penálti sobre Chermiti e outro sobre Morita, antes de ver, bem, que Coates estava fora de jogo quando meteu a bola na baliza.

Resumidamente, nos segundos 45 minutos os Leões colocaram em prática as palavras do seu capitão, que vos deixei a abrir a crónica. E quando assim é, ficamos sempre mais perto de ganhar.

How easy, it would be to show me how you feel
More than words is all you have to do to make it real
Then you wouldn’t have to say that you love me
‘Cause I’d already know